Capítulo 8

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Não nego que pelo menos o primeiro dia eu fiquei curtindo uma autopiedade intensiva e não sai debaixo das cobertas o dia inteiro, ainda negando a possibilidade de que eu tinha morrido.

Aparentemente eu estava em depressão, o terceiro estágio do luto. Ou o quarto... Eu era professora de educação física e não psicóloga.

Já tinha passado da negação e raiva em questão de segundos no dia anterior, pulado a barganha e estava com medo da aceitação.

No segundo dia (ou seria o terceiro?) Eu recomecei meu plano para juntar Mikael e Mary. Eu me recusava a acreditar que tinha morrido, mas eu ainda precisava juntar o casal, querendo ou não eles não tinham se conhecido por minha culpa e querendo ou não os dois fariam uma revolução no futuro, mesmo ainda não sabendo se faria (ou queria fazer) parte dele.

Por sorte eu tinha uns lanches no quarto, porque eu não tinha nenhuma vontade sair e depois eu ia me reabastecer nas maquinas de salgadinho durante as aulas ou quando as outras meninas estavam dormindo.

— Senhorita Jade? — me surpreendi (mas nem tanto) quando ouvi a voz de Mary do outro lado da porta, mas não estava com nem um pouco de vontade a abrir — Jade? — ela se arriscou a pronunciar apenas meu nome, mas sinceramente eu não tinha ideia do porquê da necessidade de toda aquela polidez —eu sei que você está aí, você poderia abrir a porta?

Será que se eu dissesse "não", ela iria embora? Provavelmente não...

Parecia que o silencio era a melhor resposta.

— Jade... Por favor... Abra a porta, não sei se você sabe, mas sua suspensão acabou hoje... Porque não foi para as aulas? — ela insistiu.

Minha suspensão já tinha acabado? Isso era possível?

Cheirei as roupas que eu estava.

Ok... Talvez fosse possível sim...

— Meu irmão me disse que você está assim por culpa dele... Ele queria se desculpar hoje, mas não conseguiu... — ela disse, parecendo triste — eu fiz alguns bolinhos... Vou deixar aqui na porta...

Corri para a porta sem me importar mais em fingir que não estava.

— O que seu irmão te contou? — eu abri a porta se supetão e dei de cara com Mary surpresa, mas ela apenas sorriu gentilmente para mim.

Eu queria agarra-la e sacudi-la e falar para ela se zangar de vez em quando ou simplesmente não parecer tão passiva.

— Ele apenas me disse que era culpa dele que você estava nervosa — ela espiou para dentro de meu quarto — posso entrar?

Eu podia fingir que não estava no quarto, mas não conseguia ser rude o suficiente para dizer que não podia entrar... O problema era: as folhas do meu plano estavam por todos os lugares! Folhas de sulfite espalhadas pelo chão com esquemas e nomes.

Definitivamente eu não podia deixa-la entrar, para mim já bastava seu irmão me achando louca, Mary provavelmente chamaria o transporte do manicômio quando visse tudo aquilo.

— Meu quarto está uma bagunça — eu fechei a porta a meu lado e sai para o corredor — desculpe... Eu pelo jeito já não tomo banho a uns dias...

— O que aconteceu? — perguntou Mary preocupada e eu quis colocar uns óculos escuros para poder olhar para ela — você saiu correndo e Erick disse que conversou com você... Ele disse algo mal? Quer que eu brigue com ele? — ela parecia realmente preocupada.

Agora eu entendi o porquê Mary e Jade se tornaram amigas... Mary era genuína em suas preocupações, mesmo que inocente ela era gentil e realmente se preocupava com as pessoas.

Diário de Observação de uma Autoproclamada Personagem Secundário - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora