Capítulo 23

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Eu não tinha escrito nada útil nas minhas anotações que estavam na sala de Erick e, mesmo as cegas, eu fui para o acampamento e em nome da empolgação de Mary eu tinha decidido que iria tentar me divertir.

Em teoria o acampamento era para reunir pessoas de todas as espécies e idades para fazerem atividades extracurriculares, mas para mim a parte mais feliz era que Tereza e nem as Irritantes estariam ali. Yey!

Eu não podia negar que viver com aqueles personagens de contos de terror era fascinante e mesmo depois de passar alguns meses ali eu não conseguia deixar de me surpreender com as transformações e magia e as pessoas bonitas que estavam ali.

Descemos do ônibus, estava calor e eu usava óculos escuros. Com certeza meu senso de estilo e o fato de eu não me incomodar com as roupas pretas e a minissaia de couro, eram influência de Jade, agora eu notava como ela sempre esteve presente a todo momento... Será que eu poderia mesmo dizer que eu e ela éramos pessoas diferentes?

Suspirei, Mary me pegava pelo braço e ria quando olhava o bosque e as pessoas conversavam empolgadas, mesmo que eu pudesse controlar meu vampirismo, meus ouvidos ainda eram sensíveis, assim como minha visão e olfato, talvez fosse por isso que tudo parecia mais brilhante, bonito e barulhento para mim. Dentro da escola aquela sobrecarga sensorial ficava meio diluída porque todas as salas ou locais de lazer pareciam feitos para sempre caber apenas um número xis de pessoas e praticamente todas as paredes tinham revestimento a prova de som.

A estrutura era bem planejada, à primeira vista todo aquele mundo parecia igual do qual eu vim, mas eram os detalhes que faziam com que as pessoas de diversas espécies conseguissem conviver, como as estruturas a prova de som ou a mudança de fuso horário.

Ela ainda olhava maravilhada para o verdejante a nossa frente. Será que ela nunca tinha visto mato na vida? Como uma pessoa que já tinha convivido bastante nele eu já não via tanta graça.

Era um lugar bonito, vários chalés de madeira sólida, um salão grande, várias pistas para diferentes esportes e pavilhões para artesanato, tudo emoldurado por arvores viçosas e um lago cristalino. Não poderia ser mais bonito... Ou previsível.

Mesmo assim eu estava um pouco empolgada. Aquele mundo era bonito e a comida sempre era gostosa e as pessoas pareciam ter um magnetismo que atraia qualquer um, mesmo que tudo fosse apenas meu subconsciente, eu estava de parabéns. Tinha uma excelente imaginação.

O ar tinha cheiro de pinos e os outros campistas começavam a se reunir para esperar instruções, em geral pareciam que tinha quase de tudo ali, menos vampiros. Como a maior parte dos vampiros meio que "não se sentia bem" (vulgo, queimavam) no sol, eles não compareciam muito as atividades e naquele acampamento a maior parte das atividades começava a meio dia até meia noite.

Olhei para as pessoas e não pude deixar de reparar um rapaz alto e de cabelo rosado. Quem usava cabelo daquela cor? E ele era alto o suficiente para se sobressair sobre os demais e estava rodeado de fãs. Eu não lembrava de ninguém assim mencionado no livro então não devia ser um principal, mas mesmo assim ao olhar para ele eu tinha um sentimento quase nostálgico...

— O que foi Jade? — Mary me perguntou com curiosidade, afinal eu tinha parado e como estava de óculos escuros ela não pode definir para onde olhava.

Lembrei porque eu tinha a sensação que eu estava esquecendo alguma coisa desde que tinham me falado que íamos para aquele acampamento, porque tinha um evento importante para Jade e não apenas para Mary.

— Bernardo! — gritei e ele se virou.

Aquele era o momento que Jade encontrava a única pessoa que tinha feito sua infância feliz e que tinha feito ela sempre usar as roupas góticas.

Diário de Observação de uma Autoproclamada Personagem Secundário - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora