Quando acordei eu estava desorientada, provavelmente tinha batido a cabeça, mas quando a apalpei não achei nada no couro cabeludo.
Quando meus olhos focaram eu finalmente pude olhar a minha volta, mas parecia que eu estava mais em um hotel chique do que em um quarto de hospital.
Será que o cara que tinha me atropelado era o filho de algum ricaço que pagaria para que eu ficasse em silencio?
Não pude evitar de rir.
Será que ele teria um filho lindo, nos apaixonaríamos e casaríamos por causa desse estranho incidente?
Talvez eu tivesse lendo livros demais.
— Rose? Henry? — chamei e cocei os olhos, mas a sensação que tive não foi familiar.
Olhei para as minhas mãos, eram pequenas e quadradas, os ossos aparecendo delicadamente e unhas bem cuidadas.
Nada de calos dos equipamentos da academia.
Nada as pequenas cicatrizes que eu tinha nos dedos por socar um imbecil uma vez.
E nada das minhas unhas roídas.
— Mas que merda? ... — eu gritei e cai da cama, me levantei rápido pensando que poderia ter tirado algo do lugar ou aberto algum curativo, mas eu não tinha nenhuma dor no corpo e nenhum ferimento.
Eu tinha acabado de sair de um acidente de carro, mas não parecia ter nenhum arranhão, como podia isso? Olhei para baixo e o corpo que estava ali não era meu, pelo contrário cabelo preto caiu sedosamente pelos meus ombros e o decote da camisola me disse que eu tinha posto silicone. Muito silicone...
Desesperada eu fui até um espelho que tinha a frente de um guarda roupa de madeira e gritei com todo o ar que tinha nos meus pulmões.
Aquele corpo não era meu.
Eu nunca tinha visto aquela pessoa na minha vida.
Eu tinha um cabelo loiro escuro e curto, ombros largos e um e oitenta de altura, mas a pessoa que eu olhava no espelho devia ter 1,60 de altura, cabelos pretos brilhantes que caiam em ondas até a cintura delgada.
Era bonita, com certeza, um corpo impecável e com certeza de mulher. Ela tinha grandes olhos rosados muito bonitos.
Gritei de novo, desesperada.
Quem diabos era aquela pessoa? Eu tinha que sair dali e encontrar minha família. Eles teriam a resposta.
Quando cheguei a porta e a abri de supetão uma mulher de pele pálida com uma roupa antiquada de empregada estava ali.
— Senhorita! Eu ouvi você gritar! — a mulher me olhou com preocupação — você está bem? — eu olhei para além dela, mas eu não conhecia aquele corredor e nem aquela casa — senhorita Bloodrake?
QUEM DIABOS ERA A SENHORITA BLOODRAKE?
Eu recuei, precisava sair dali e sair de perto daquelas pessoas estranhas. Aquilo parecia o início de um filme de terror.
Olhei para a janela fechada com a cortina e corri em direção a ela.
— Senhorita! — ouvi a mulher gritar em protesto atrás de mim, mas mesmo assim fui em direção a janela em pânico e pulei.
O que eu não imaginava era que eu estivesse no terceiro andar e eu não consegui evitar gritar enquanto caia, nem tive tempo de me preparar para a queda e cai com os dois pés no chão, sentindo o impacto nos joelhos e não era uma sensação agradável, principalmente quando uma das minhas pernas fez um estalo alto e quebrou, me fazendo cair de bunda no chão com um gemido.
Olhei a minha volta, vi uma grande floresta densa e frondosa de arvores que eu nunca vi na vida. Cores exuberantes que não pareciam ser normais e acima de mim o tempo nublado parecia que faria chover e olhando para trás a casa de qual sai parecia mais um palácio.
— Jade! — um homem gritou e de repente haviam três pessoas a minha volta como se tivessem aparecido literalmente do nada! Como se tivessem brotado do chão. Um deles homem bem vestido de terno com cara de melancolia, outro era um mordomo e por último a empregada que estava a poucos instantes na porta do meu quarto.
— Não se aproximem! — gritei, aquilo não era normal. Pessoas não corriam em instantes e eu estava no terceiro andar.
E eu não conhecia essas pessoas e não sabia quem era Jade.
Jade Bloodrake.
O nome me era familiar, mas eu não conseguia lembrar de onde.
Olhei minha perna novamente, para analisar o estrago e ver se eu ainda podia correr em pânico, aquelas pessoas pareciam ridiculamente rápidas, mas eu teria que dar um jeito (ou talvez a empregada tivesse uma irmã gêmea idêntica e eu tivesse batido a cabeça e apagado por alguns instantes), mas minha perna parecia quase completamente curada.
Gritei de novo, sem entender porque diabos minha perna estava voltando para o lugar e parando de doer?
— Jade, você está bem? — o homem de terno chegou até mim. Ele tinha o cabelo preto brilhante e bem aparado assim como a barba e olhos vermelhos, tinha um olhar preocupado e melancólico e ele tocou em mim delicadamente — calma... Já vai passar...
Ele me passou uma mão pelas minhas costas e outra embaixo de meu joelhos, me erguendo facilmente como se eu não pesasse nada.
Em um gesto inconsciente eu me afastei dele e das outras pessoas preocupadas.
— Jade? Está tudo bem? — o homem insistia preocupado — qual o problema? Sou eu. Seu pai.
— Pai? — eu não pude evitar o sarcasmo e ficar atônita ao mesmo tempo, com certeza aquele não era o pai que eu conhecia... Faltava massa nele. Massa e alguns troféus de fisiculturismo.
— Sim... Porque você não me reconhece? — ele perguntou, os olhos caídos tristemente — sou eu, Ivan Bloodrake — ele olhou parecendo meio desamparado para os empregados, mas eles também pareciam meio assustados e confusos.
Ivan Bloodrake... Jade Bloodrake...
Não era atoa que aqueles nomes eram familiares, estavam no livro que eu estava lendo a pouco tempo no ônibus antes de chegar em casa.
Não eram personagens principais, a história girava entorno de Mary Grumam, uma garota humana normal. Era um mundo utópico onde humanos e monstros viviam juntos.
Vampiros, lobisomens, bruxas e metamorfos, junto com alguns outros monstros que tinham sido divulgados no mundo normal e agora começava a convivência deles e Mary era para começar a ser a ponte entre humanos e monstros.
Ela foi convidada para a mais prestigiosa escola de monstros que existia e ela seria a primeira aluna humana. Na escola ela sofreria preconceito e seria marginalizada, mas conseguiria muitos seguidores, entre eles o protagonista masculino principal: o príncipe dos Vampiros e juntos eles mudariam o mundo. Clássico.
Jade Bloodrake era uma das primeiras amigas que ela faria, uma dampira, um ser mestiço de vampiro e humano. Era mais forte que um vampiro normal e vivia solitariamente na escola. Era literalmente a personagem triste: a mãe morreu quando deu à luz e viveu superprotegida com o pai isolada do mundo exterior e ninguém queria se aproximar.
Mary tinha mudado para o mesmo quarto que ela na escola e se fizeram amigas desde então.
Fora o fato que aquela situação era simplesmente impossível, pelo menos agora eu sabia de quem era o corpo que eu estava.
— Isso é um sonho — eu disse para mim mesma me abraçando — só pode ser um sonho! A porcaria de um sonho! Rose! Henry! Me acordem logo! — eu pedi e todos me olharam como se eu fosse louca.
— Senhor... Acho que ela está alucinando — sussurrou a empregada, mas eu pude escutar.
Eu consigo escutar.
Eu não resisti e desmaiei.
Não sabia se era possível desmaiar em um sonho, mas tudo escureceu mesmo assim.
É possível sonhar em um sonho?
Eu queria pensar que não.
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Diário de Observação de uma Autoproclamada Personagem Secundário - Concluído
RomanceEu sempre amei romances. Não porque eu era uma adolescente apaixonada, mas porque eu nunca cheguei perto de viver um e não achava que o viveria tão cedo. Aos 25 anos eu já era formada em educação física e dava aulas na academia da minha família. Tín...