Capítulo VII

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Capítulo VII

As três da madrugada Valentina já estava cansada e tudo que queria era poder voltar a sua casa e dormir por várias horas. Lucas estava lá para cuidar dela e garantir que nada de mal aconteceria com sua pequena, embora fosse crescida não era capaz de se proteger sozinha. Samuel não se afastava dela por motivo algum, pois sabia que além dele mais alguém estava a cuidar de sua namorada, e sua vontade de ganhar essa batalha era imensa e o impedia de deixá-la a sós com seu anjo.

Lola e Jéssica já não conseguiam se segurar em pé, sentiam seus corpos pesados e tudo ao seu redor parecia girar. Não faziam ideia de quantos copos haviam metido boca abaixo, desejavam voltar e descansar. Jéssica queria se recompor para terminar sua leitura, por instantes se esqueceu do medo que sentia e entrou no ritmo da diversão. Passou horas sentindo a presença de algo estranho e maligno, porém não achava estar certa disso, pensava ser apenas por ter lido muito acerca de todas aquelas coisas relacionadas à demônios.

─ Penso que já podemos voltar. – sugeriu Valentina.

─ Vamos levar as meninas, elas não conseguirão caminhar sozinhas. – disse Samuel.

Lola estava sentada ao lado de uma mulher que parecia estar a dormir, eles a levaram até o carro e voltaram á procura de Jéssica que olhava atenciosamente a tudo ao seu redor, sentia algo estranho e sua preocupação voltou a invadir-lhe de maneira muito violenta.

Mesmo embriagada conseguia se conectar com o universo de alguma forma, sua capacidade de perceber energias anormais apossou-se de seu espírito e pela primeira vez ela conseguiu ver uma figura semelhante a que viu no grimório. A figura apresentava características femininas, tinha uma enorme cauda pontiaguda e evidentemente atroz, seus chifres eram igualmente carregados de brutalidade e sorria de maneira animalesca para Jéssica.

O medo tomou conta de si e bruscamente se levantou da cadeira dando início a uma corrida em direção a saida, pelo caminho tropeçou em Valentina e Samuel. O susto era visível, Valentia olhou em volta do lugar e não conseguiu compreender de onde vinha tanto susto. Preocupada apenas levou sua amiga até ao carro e, todos permaneceram em silêncio ao longo do caminho a casa.

Para a segurança delas Samuel decidiu deixar todas na casa de Valentina, já que normalmente os finais de semana eram reservados a elas. Jéssica e Lola conseguiram descer do carro e entrar na casa de Valentina sem ajuda, Valentina era a única com as chaves por segurança e abriu para que elas fossem descansar. As deixou sentadas no sofá e foi despedir-se de Samuel.

─ Obrigada por hoje. – disse Valentina, mas Samuel se aproximou dela e a beijou para se despedir.

Fazia de propósito, pois sabia que o anjo de Valentina veria tudo. Seu objetivo era mostrar a ele que diante dessa situação sendo ele apenas seu anjo da guarda não tinha poder para fazer nada e mudar o rumo da história.

─ Não me agradeça meu amor! Eu só quero o teu melhor sabe disso. – voltou a beijá-la como se nada mais importasse nem a sua missão ou mesmo a possibilidade de não estar a sentir afeto de verdade por ela.

─ Eu sei!

─ Amanhã eu quero jantar com você na minha casa. Eu mesmo preparo por isso ás 17 esteja preparada.

─ Está bem, até amanhã!

Em certos momentos Samuel parecia amar Valentina, suas palavras por vezes soavam sinceras e isso preocupava quem o havia mandado. Portanto seu mestre estava preparado para tudo e tinha mais do que um plano para destruir Valentina.

Quando ela voltou à sala viu suas amigas deitadas cada uma num sofá, não restavam dúvidas de que estavam esgotadas. Valentina tirou os sapatos delas e colocou travesseiros para deixá-las confortáveis, com tanto calor que fazia não havia necessidade de cobri-las.

Após se certificar de que as meninas estavam confortáveis para dormir ela foi até seu quarto, tirou as roupas e se banhou. Passou a noite inteira sem pensar em problemas ou qualquer outra coisa que não fosse a companhia das amigas e do namorado. Mas no fundo sentia um vazio, algo ou alguém faltava em sua vida e não havia pensado nisso a noite inteira.

As janelas do seu quarto estavam abertas e o vento fazia as cortinas flutuarem, Lucas estava lá como sempre cuidando de sua segurança. Valentina vestia-se para dormir e pela primeira vez desde que Lucas é guardião dela sua mente foi invadida por pensamentos proibidos, nunca viu Valentina nessa situação sempre se ausentava, mas dessa vez sua vontade foi desobedecida por seus pensamentos, sabia que não devia permanecer, porém sentia que devia ficar para cuidar dela.

─ Não! – resmungou para si mesmo envergonhado de sua atitude. – Isso não está certo. – Embora Valentina não o pudesse ver ou escutar achou necessário se retirar.

Virou o seu rosto e ficou perto da janela, queria sair de lá e voar o mais alto que podia e pedir desculpas a seu Pai por ter feito isso. Sua mente ficou perturbada e isso causou uma ventania forte por perto. As cortinas flutuavam com maior intensidade e as janelas batiam contra a parede fazendo um barulho que deixou Valentina assustada. Era o medo de ter decepcionado seu pai a manifestar-se no quarto.

─ Me desculpa Valentina, eu falhei com você. – Lucas falou essas palavras e saiu batendo as asas com medo de perder a guarda dela.

Assim que ele se foi Valentina sentiu um vazio maior que o anterior, uma parte de si não estava lá para cuidar dela.

Lucas sabia que acabava de cometer um grande erro, sentia medo e estava assustado com sua atitude. Procurou seu pai par se desculpar e saber o que acabava de acontecer.

─ Pai me perdoa por minha atitude, eu lhe garanto que foi contra a minha vontade. – sua voz estava alterada e estava com medo de perder Valentina para sempre. – Eu tentei me manter controlado, mas algo em mim surgiu e foi mais forte que eu.

─ Lucas! Você se lembra de que todos os seres foram feitos por algum propósito? – perguntou o pai de Lucas.

─ Sim pai.

─ Eu disse que sua missão teria duas fases e você já está pronto para a segunda. – sua voz o deixava calmo e confiante. Mas não entendia qual era a sua verdadeira missão. – Você precisa estar ao lado dela fisicamente, quando você estiver pronto ela poderá ver o seu rosto e tocar você.

─ Mas pai eu não sei o que devo fazer.

─ Você saberá no momento certo. – como sempre ele o deixava melhor, mas Lucas tinha medo de voltar a ver Valentina naquela situação e gostar disso mesmo sendo errado. – Eu mesmo direi, sua missão começou assim que ela nasceu e vai até a sua morte, portanto simplesmente deixe as coisas serem do jeito que foram predestinadas.

Lucas se lembrou do dia em que Valentina nasceu, estava muito feliz por finalmente ter sua nova amiga. Viu-a crescer e no fundo imaginava que sua conexão com ela haveria de diminuir um dia, porque ela haveria de crescer e conhecer melhor o mundo e nesse novo mundo dela, ele não faria parte.

Dessa vez, estar com ela mudaria muita coisa em sua vida, contudo, estar sempre com ela o deixava mais feliz, se considerava um sortudo por estar a cuidar dela principalmente de perto.

Voltou voando até a janela do quarto de Valentina e entrou, ela já dormia tranquila, porém insegura. Mas Lucas foi até perto da cama e ficou lá a mantendo longe do perigo debaixo de suas asas quentes.

─ Que sortudo sou por estar com você sempre! – sussurrou em seus ouvidos. – Nunca vou te abandonar minha pequena, eu vim para ficar e estarei sempre aqui.

O que eles estavam prestes a viver talvez fosse errado, mas ninguém manda no coração e isso é praticamente uma lei. Por mais que Lucas tentasse fugir disso o sentimento que os unia era maior do que tudo ao ser redor, mesmo que ele achasse errado tudo que acontecia na sua vida já estava escrito e não tinha como mudar. 

Guardiões - O Anjo De Valentina [Livro I ].  Onde histórias criam vida. Descubra agora