PRÓLOGO

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Prólogo

Aquela tarde havia começado da melhor forma para os dois. A chuva continuava cada vez mais forte, a tempestade ganhava mais furor e Valentina sentia medo do barulho assustador vindo de fora. Estavam secos e deitados em sua cama, ambos desejando ir mais além do que isso.

Lucas estava sem as suas roupas, pois tudo que trazia estava encharcado devido à chuva que caía do lado de fora. E para evitar que ficasse nu e se resfriasse, Valentina deu a ele uma toalha enquanto esperava a roupa secar, visto que ela não possuía nenhuma roupa masculina em sua casa.

Depois Lucas foi á sala pegar as flores que comprou para Valentina e as entregou do jeito que havia comprado, sem dano algum.

Ela olhou surpresa para o buquê em suas mãos, seus olhos se encheram de lágrimas, mas Lucas já esperava por essa reação, conhecia-lhe melhor do que ninguém. Ela admirou-se, pelo fato do estranho homem que acabara de conhecer saber de algo que apenas seu pai sabia. Valentina não sabia de que se tratava do seu guardião.

Aquelas flores traziam para ela boas recordações do seu pai, por isso recebeu o buquê com as mãos trémulas e com lágrimas caindo devagar dos seus olhos.

─ Obrigada Lucas. – disse segurando seu choro, e tentou de diversas maneiras evitar abraçá-lo, mas o desejo de fazê-lo era maior e acabou por jogar-se em seus braços. – São as minhas flores favoritas. – as hortênsias fizeram parte da sua infância, e assim que as viu, memórias do seu passado invadiram-lhe a mente. Sentiu falta de tudo que vivera, principalmente do seu pai e do seu anjo da guarda.

─ Eu sei Valentina. – o abraço ficou mais forte, e ela chorou silenciosamente, porém sua mente ficou mergulhada em imensas dúvidas. Libertou-se do seu abraço e o encarou.

─ Como você sabe disso Lucas? – secou as lágrimas e olhou para ele.

─ Eu simplesmente imaginei que fossem.

Era difícil de acreditar nessa justificativa, nada que Lucas usasse para explicar o porquê, seria o suficiente para convencer Valentina, isso era íntimo demais, e eles haviam se conhecido há muito pouco tempo.

─ Quem é você e o que realmente quer comigo? – assustada deu um passo para trás, pensando o pior dele. Pensou que talvez estivesse investigando-a.

─ Você não acreditaria se eu te dissesse Valentina. – Lucas comentou sem saber que apenas piorava a situação. Embora não fosse mais anjo, seu caráter ainda era o mesmo.

─ Vamos Lucas, me fala o que você quer comigo? – da sua boca nenhuma palavra saiu, e o brilho em seu olhar foi a única resposta pura e sincera que Valentina teve como resposta. Ele não sabia explicar, mas a amava de uma forma que ninguém entenderia. Jamais! Nem mesmo ele.

É agora Lucas

É agora.

Inúmeras vezes, Lucas repetiu em seus pensamentos as mesmas palavras, seria sua primeira vez e queria que fosse especial. Porém isso dependeria também dela.

A incerteza o estava matando, mas se ele desejava conquistar a sua protegida, teria que arriscar e estar pronto para tudo. Segurou a cintura dela bem devagar, o que causou certa timidez por parte da mesma, e iniciou um beijo, lento e romântico do jeito que Azazyel havia orientado.

O contato entre eles foi se intesificando, os seus lábios se familiarizando, tornando o que antes foi constrangedor numa explosão de sensações nunca antes experimentadas por ambos. Finalmente tinha Valentina em seus braços, agora estava certo de que sua missão tinha valido a pena.

─ Eu quero você Valentina, só você! – não esperou pela resposta dela e voltou a beijá-la, porque por mais que ele tentasse explicar a ela, jamais entenderia. Com isso, Lucas estava aprendendo a ser humano, e Valentina era para ele a única mulher que podia ensiná-lo.

Tirou devagar o vestido dela, na tentativa de seguir ao pé da letra com os conselhos dados por Azazyel, e o deixou cair lentamente pelo seu corpo. Neste momento era possível acreditar na magia, o tempo e o espaço pareciam ser controlados pelos dois, não conseguiam sentir mais nada além de seus corpos grudados um no outro.

No entanto, enquanto os dois curtiam o momento, as janelas se abriram e o vento frio invadiu e preencheu o quarto. Ela estava confusa, mas ele imaginou o que teria sido. O medo veio no lugar da confusão que havia em Valentina, após ver aquela imagem horripilante diante de si. Ela gritou e entrou em pânico porque não sabia o que faria nesse instante.

─ Não tenha medo Valentina, eu estou aqui. – olhou para a invasora e tentou expulsá-la antes que cometesse o pior. – Kesabel, deixe-nos em paz.

Valentina estava apavorada e Lucas a escondeu atrás de si para protegê-la, porém Kesabel se teletransportou para onde ela se encontrava. Lucas virou-se e olhou para Valentina que estava sorrindo para ele, contudo, ele não compreendia o motivo do seu sorriso. Aos poucos, o sorriso foi se desmanchando, da sua boca escorreu sangue e perante este acontecimento, Lucas se assustou e somente depois se apercebeu da adaga cravada bem nas costas dela. Suas emoções humanas se ativaram e desesperadamente chorou, levou-a em seus braços até a cama e beijou frequentemente a sua boca com imensas lágrimas no rosto.

Ela estava morrendo em seus braços.

─ Valentina. – chamou Lucas sem esconder o seu desespero. Quando tentou tirar a adaga, ele apercebeu-se de que não se tratava de uma arma qualquer, mas sim uma das feitas pelas mãos de Azazyel. E isso não era nada bom. – Não, não, não meu amor respira. Por favor, não me deixe. Respira Valentina. Por favor, não me deixe... Não me deixe. – Ele soube naquele instante que estava perdendo a sua protegida.

─ Lucas... – tossiu e mais sangue escorreu pela sua boca. – Eu... Eu vou morrer? – perguntou aparentemente confusa e assustada.

─ Eu não vou deixar isso acontecer. Eu sou o seu guardião e devia ter protegido você. – Lucas disse demonstrando a dor e a culpa que sentia. Os seus olhos estavam cheios de lágrimas. Sua dor era notável, estava se sentido fraco e com medo de perder a mulher que tanto amava.

─ Você é... O meu Lucas? – sorriu diante dessa possibilidade, mesmo com a morte já desenhada no seu semblante.

─ Eu sou o seu Lucas, por isso apareci para te salvar naquele dia. Por isso sei que ama hortênsias. Eu te conheço mais do que imagina pequena, te conheço desde que você nasceu.

Após escutar que durante todo esse tempo tinha seu guardião tão perto, Valentina sentiu-se em paz consigo mesma, se perdoou e se libertou da culpa que sentia por ter o afastado. Agora, ela finalmente descansaria sem culpa alguma. Fechou os olhos devagar, os batimentos cardíacos desaceleraram muito mais, e o desespero de Lucas começou a destruí-lo internamente.

Ela foi-se para sempre.

─ Pai! – gritou e bateu repetidas vezes no seu peito de tanta angústia. – Não tire ela de mim. Foi por ela que eu vim.

Gritou desesperadamente, bateu o seu peito com tanta força, numa inútil tentativa de reduzir a dor que o corroía de dentro para fora.

Para ele naquele exato momento, todo o sacrifício que fez para estar ao seu lado não havia valido a pena. Estava tudo perdido, e para sempre.

─ Meu amor, não me deixe.Por favor. – deitou sua cabeça sobre o corpo dela, derramou suas lágrimas e quando sentiu tê-la perdido para todo o sempre, ele a beijou pela última vez deixando como marca da sua dor as lágrimas.


Guardiões - O Anjo De Valentina [Livro I ].  Onde histórias criam vida. Descubra agora