Capítulo XXIX

127 59 33
                                    

Capítulo XXIX

Por alguns segundos, Jéssica teve a sensação de estar a flutuar, ou até mesmo de inúmeras borboletas estarem voando em seu estômago. Não sabia o que estava a acontecer, mas confiou incondicionalmente em Azazyel.

A sensação era nova e estranha, mas quando escutou Azazyel dando-lhe permissão para abrir os olhos, ela se viu no quarto de Valentina.

Admirada, ela observou tudo ao seu redor tentando entender como foi lá parar. Pensou estar a alucinar, mas quando viu Lucas, todas as suas dúvidas cessaram.

Olhou para a cama, lá estava o corpo da sua melhor amiga. Soltou Azazyel e foi até Lucas e o abraçou. Todos estavam tristes, pois Valentina era especial. Por mais que não tivesse a conhecido tanto como Lucas, ela significava muito para Jéssica.

As palavras estavam presas à garganta. A dor era tanta, ao ponto de fazer sucumbir junto com sua melhor amiga tudo de bom que sentiu com Azazyel.

─ Eu odeio a Kesabel, eu quero matá-la Jéssica. – disse Lucas.

Azazyel se aproximou dos dois e tentou consolá-los, embora soubesse que seria inútil, ele o fez por pena.

Jéssica ficou mais perto do corpo da amiga, ajoelhou-se na cama ao lado dela e viu a adaga. Tentou tirá-la, mas antes que conseguisse Azazyel a impediu.

─ Essa não é uma faca comum, se deixá-la assim, ainda podemos trazê-la de volta. – disse receoso sabendo que Lucas jamais concordaria. – Se vocês esperarem mais um tempo, poderemos encontrar outro grimório e fazer o ritual de ressurreição.

─ O que a faca tem a ver com isso? – questionou Jéssica aparentemente alterada.

─ Ela foi feita por mim, tem meu poder nela o que significa que ainda posso concertar o que fiz.

─ Então a culpa foi sua? – gritou Jéssica dando golpes no peito dele. – Seu demônio desprezível.

A raiva tomou conta dela e não parou de descarrega-la em Azazyel. Ele havia os traído para o seu próprio benefício, mas de qualquer forma, Kesabel estava disposta a matar Jéssica também.

Na tentativa de acalmá-la, ele a segurou pelos pulsos, no entanto foi inútil. Ela estava completamente alterada. Ver sua melhor amiga morta era doloroso demais para ela. Nisso tudo, o mais difícil seria tentar explicar para Rosa a razão da morte da filha.

─ A culpa é só minha, eu nunca devia ter me tornado humano. – disse Lucas.

Seu sentimento de culpa era imenso, pois havia prometido concluir sua missão com sucesso. Ainda que soubesse da intenção de Kesabel, no fundo ele tinha esperança de tudo dar certo para eles.

A dor queimava no peito, seus olhos refletiam o desespero profundo que carregava desde o momento em que viu Kesabel no quarto. Seu corpo estava cansado, havia nele marcas que mostravam sua derrota. Sua luta não havia servido para nada.

Todavia, não era somente Lucas que sentia o gosto amargo da derrota. Jéssica passava pelo mesmo. O pagamento que daria a Azazyel, certamente, seria dado com mais dor do que pensava.

Azazyel, visivelmente arrependido do que havia feito, tentou consolar Jéssica. Mas ela não quis. E quanto mais Jéssica chorava, mais culpa ele sentia.

Mesmo gostando de Jéssica, sua natureza o obrigava a gostar da situação de alguma forma. Ele se tornava mais forte com a dor alheia. Ser demônio para ele se tornava numa tortura quando se sentia envolvido emocionalmente com alguma humana. Nesse caso, Isadora e Jéssica.

Guardiões - O Anjo De Valentina [Livro I ].  Onde histórias criam vida. Descubra agora