Capítulo XXVI

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Capítulo XXVI

Deitada em sua cama, Valentina tentava decifrar as razões que lhe levaram a tentar o beijo com Lucas na frente de Samuel e das amigas. Era estranho tudo que sentia por ele, não entendia nem mesmo os seus sentimentos. Samuel brigou com ela, a deixou em casa sozinha e ele se foi, estava nervoso, não apenas pela traição que sofreu, mas também pelo fracasso na sua missão.

Ele estava a perder em tudo, não tinha mais domínio sobre sua namorada, e perderia Kesabel por causa da decepção que lhe causou.

Nervoso e de um lado para o outro, ele não sabia como manter a calma quando Kesabel resolvesse aparecer. Na sala da sua casa, ele serviu Uísque puro, encheu o copo de vidro e deu um gole. Sentou-se no sofá a espera de um sinal de Kesabel, mas ela não apareceu e não se comunicou com ele.

Havia falhado com ela, na certa ela estava lá o observando completamente deslocado. Embora Kesabel soubesse que, com Azazyel por perto o plano falhasse, ela não hesitou em tentar a sorte, algo que talvez nunca devesse confiar.

─ Por favor, me dê mais uma chance para provar que sirvo para algo. – suplicou olhando para todos os cantos da sala. – Sei que está aqui, meu amor!

Mas Kesabel não se manifestou, ela estava furiosa, o plano súbito de Lucas se transformar em humano, havia estragado tudo que ela preparou. Nem mesmo ela imaginou que ele chegasse a tal decisão.

Antes, ela olhava para Samuel, e via um grande aliado, mas naquele momento viu o fracasso que aquele homem era. Para Kesabel, ele não servia para mais nada e devia ser descartado. Tal como Azazyel havia dito!

─ Você é o maior fracasso da minha vida, Samuel! – falou ainda invisível e ele se levantou subitamente. – Mas não se preocupe, o deixarei livre agora.

─ Disse que me amava! – falou desesperado. – Que eu era o seu amor.

─ Mudei de ideia, Samuel. – ela se materializou diante dele e tocou o seu rosto. – Por que você me decepcionou, meu amor.

─ Me dê mais uma oportunidade, eu juro que dessa vez conseguirei tudo que você quiser.

─ Agora eu farei tudo sozinha, será do meu jeito. – ela beijou Samuel e o empurrou com pouca força, que acabou caindo sentado no sofá. – Matarei Valentina, não como fiz com a mosca morta da Isadora. – ela se sentou sobre ele e tirou sua camisa. – Vou matá-la com as minhas próprias mãos.

Seu riso malvado assustou Samuel, ele a olhou apavorado e no mesmo instante, todo o seu desejo desapareceu e no lugar, nasceu à preocupação.

Ele pensou em Valentina e soube que nada mais podia ser feito para protegê-la. Mesmo não amando ela, o carinho que desenvolveu no tempo em que estiveram juntos, foi o suficiente para sentir-se responsável pela sua segurança. Visto que, em parte, ele foi culpado por entrar no jogo perigoso de Kesabel.

─ Sinto a sua preocupação e o seu medo por ela. – falou Kesabel olhando furiosa para Samuel. – Não devia ter dito a você sobre os meus planos e pontos fracos. Devia ter imaginado a sua covardia.

─ Não diria a ninguém, eu amo você minha rainha.

─ Seria um grande desperdício matar você, mas em nome da nossa aventura eu te deixo livre, desde que nunca mais se aproxime de nenhum deles. Só assim terei a certeza de que não abrirá essa sua boca deliciosa. – ela falou séria, seus olhos estavam escuros e Samuel se assuntou. – Estamos entendidos?

─ Valentina é minha namorada, e se ela me procurar?

─ A ignore, mude de casa, de cidade qualquer coisa. – ela se levantou e se afastou dele. – Se tentar entrar em contato com eles, eu mato você depois de acabar com a sua queridinha. Eu uni os dois e agora, eu declaro que acabou.

Ainda nervoso e deslocado, Samuel serviu mais álcool, bebeu tudo e limpou a boca com o braço visivelmente assustado. Sua mão tremia e embora estivesse nublado, quase chovendo, ele suava.

Sabia que aquela mulher era um perigo, mas pensou ser homem o suficiente para dominar uma mulher que antes, foi rejeitada.

Kesabel desapareceu e ele continuou parado, sem rumo e bebendo para se acalmar.

Ela vai mata-la, depois a mãe e o irmão. – pensou nervoso e deu outro gole de Uísque.

Um silêncio assustador se fez presente em sua casa, quando de repente, escutou um grande estrondo vindo do lado de fora. Estava prestes a chover e ele sabia que sua namorada tinha muito medo de chuva forte.

Após deixá-la sozinha na noite anterior, ele não voltou a falar com ela. Pensou em usar a traição como desculpa para se afastar definitivamente. Mas não adiantaria em nada, pois a qualquer segundo, minuto, hora, dia ela estaria morta.

Eram oito da manhã, como sempre, Lucas se levantava cedo mesmo sem fazer nada ao longo do dia. Não sabia se devia continuar assim, pois mais tarde seria necessário trabalhar para se sustentar. Mas Azazyel garantia que, naquele momento, ele estaria responsável por cuidar dele, até tudo terminar com a Kesabel.

Os dois estavam sentados no sofá, tentando encontrar uma solução para impedir Kesabel de acabar com as meninas. Azazyel estava sem ideia, muito menos Lucas e os dois mesmo com bastante esforço, acabaram não chagando a lado nenhum.

─ Bem! Mudando de assunto. – falou Azazyel. – O que pensa em fazer com a Valentina?

─ Como assim?

─ Você precisa aceitar o fato de que sendo humano, não poderá resistir por tanto tempo a paixão que queima você por dentro. – o amigo começou a falar como se quisesse dar conselhos a ele. Azazyel já havia passado por aquilo, embora sua história tivesse sido diferente, os sentimentos eram semelhantes aos de Lucas. – Já passei por isso, sabe disso. Foi mau no início porque eu não tinha o carinho dela, mas depois, eu aceitei que estava apaixonado por uma humana. Eu me apaixonei e não me arrependo de ter vivido a melhor coisa da minha vida.

─ É diferente, Isadora queria você e não tinha ninguém em sua vida. – Lucas falou frustrado. – Valentina pode até sentir algo por mim, mas não acho que seja tão forte quanto o que sinto.

─ Se você não tentar, nunca conseguirá tê-la em seus braços. Sei que quer cuidar dela, amar ela como nenhum outro homem fez. Eu não sou nenhum anjinho como você, mas se digo isso, é porque não quero que a morte de Jéssica seja em vão. Ela me evocou, me fez um pedido em troca de algo que ela nem sequer imagina, por você e Valentina. Quer que ela morra arrependida de ter feito o acordo comigo?

Razão por parte dele não faltava, mas era inacreditável a perseverança que ele tinha na sua missão de resgate a Isadora.

Mesmo depois de tudo que sentiu por Jéssica, ele não estava disposto a deixar o seu primeiro amor para trás.

─ O que eu farei? – perguntou Lucas. – Eu a beijei e sinceramente queria fazer de novo.

─ Faça tudo que eu disser, está bem?

─ Como quiser!

À medida que Azazyel falava, Lucas se achava mais incapaz de seguir tudo do jeito que seu novo amigo desejava. Mesmo assim o escutou, pois algumas coisas para ele faziam sentido.

Ele a conhecia desde criança e a chamava de pequena. Mesmo não podendo ver o rosto do seu anjo da guarda, Valentina o sentia por perto, ela tinha fé nele e os dois se tornaram muito amigos desde então.

Lucas conhecia tudo que sua pequena gostava e não gostava. Pelo menos aquilo, seria fácil entre tudo que Azazyel havia o aconselhado a fazer.

─ Agora o mais importante. – ele fez uma pausa não muito longa e se posicionou melhor no sofá. – Seja romântico e paciente, trate-a com carinho para que aproveite o momento e que nunca mais se esqueça. Seja sincero e carinhoso, mostre e diga a ela o que sente e tudo acontecerá naturalmente. 

Guardiões - O Anjo De Valentina [Livro I ].  Onde histórias criam vida. Descubra agora