Capítulo XXXI

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Capítulo XXXI

Tudo estava calmo. Não havia ninguém por perto, somente ela. Abriu os seus olhos e não enxergou nada. Estava escuro e vazio. Ela estava completamente só, abandonada e assustada. Nunca havia estado lá antes, nem mesmo no seu pior pesadelo. Levantou-se devagar e começou uma caminhada, longa e sem rumo.

Foram-se horas tentando encontrar uma saída, mas não importava aonde ela fosse lá lhe perseguia a escuridão e a incerteza. Suas lembranças não existiam mais, pois nem mesmo sabia o seu nome. Não sabia de onde vinha muito menos o que ela fazia naquele lugar isolado.

Por inúmeras horas ela gritou, tentou chamar por alguém, mas a ninguém conhecia. Não havia como chamar pelo nome, se nem ao menos sabia o seu. Seu desespero aumentava à medida que corria na escuridão e não encontrava quem a salvasse. Não havia luz alguma, apenas ela e a escuridão.

Não sentia frio, nem mesmo calor. Tudo que sentia, era medo de estar sozinha sabendo de alguma forma que deveria estar com alguém.

─ Por favor, alguém me ajuda! – gritou mais uma vez. Porém, por mais que pedisse ajuda ninguém a escutava. Mesmo sem forças, ela não perdia a esperança de ser salva daquele lugar.

A adrenalina se apoderou do seu ser e, veio a pensar que talvez aquilo fosse um pesadelo. Nada fazia sentido, nada. Suas mãos tremiam e suavam. O seu rosto estava quente e sentiu um vazio enorme no estômago.

Quando se apercebeu de que não chegava a lugar nenhum, ela sentou e contou até dez, mas ela não conseguiu acordar do pesadelo.

─ Isso sempre funciona quando estou a ter um pesadelo. – sussurrou com mais medo. –Talvez eu esteja fazendo errado. – ela fechou os olhos, respirou fundo e contou novamente. – Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove e dez.

Abriu lentamente os olhos e continuou não vendo luz. Desesperou-se e pensou que era mais provável estar acordada do que perdida num sonho esquisito. Valentina se sentiu encurralada, a imensa escuridão não lhe permitia ver nada além de um vestido branco no seu corpo. Estava descalça, mas não sentia o chão.

─ Alguém me ajude, por favor! – ela juntou as penas e as abraçou ainda sentada no chão. Chorou por tudo. Principalmente por não saber o seu nome, nem o de ninguém. – Eu quero acordar, não aguento mais estar aqui. – sussurrou chorando.

Cansada de gritar e caminhar sem rumo, ela se deitou na escuridão e fechou os olhos lentamente. Na esperança de dormir para depois acordar do possível pesadelo, ela se deixou guiar pelo sono profundo e adormeceu por um tempo.

Assim que abriu os olhos novamente, ela sentiu o frio atingir a sua pele negra e passou a sentir o chão. Um vento gelado soprou em sua direção e ela teve medo, mas não fugiu, apenas esperou, embora assustada, teve a esperança de ser salva.

De súbito, uma luz branca surgiu no fundo e ela correu na sua direção. Ela corria, mas parecia não chegar a lado nenhum. Mas não desistiu e, continuou correndo até que a luz começou a ficar mais perto. Assim que chegou perto, ela parou e observou que dentro da luz havia uma silhueta, parecia um homem forte.

Ela se aproximou e tocou no homem que, de imediato se virou e os seus olhos brilharam assim que a viu. Seu rosto parecia familiar para Valentina, mas infelizmente, ela não se lembrava de nada, nem mesmo do seu nome.

Criou coragem e sorriu para ele. Os olhos que lembravam o mel pareciam falar por conta própria. De repente, duas linhas de lágrimas começaram a cair dos dois olhos lindos do ser misterioso. Valentina era incapaz de decifrar as emoções dele, pois ele parecia sorrir e, ao mesmo tempo chorar.

─ Olá! – disse tremendo de medo. – Senhor! Eu estou perdida aqui, não sei onde estou de onde vim e para onde vou. – a cada palavra que saía de sua boca, o homem parado não fazia nada, apenas observava a boca dela se mexer. – Pode me ajudar a sair daqui?

─ Qual é o seu nome? – perguntou o homem misterioso, mas muito familiar.

─ Eu... Eu, não sei...

─ Não se lembra do seu nome?

─ Não! – sua situação era complicada, não saber nada sobre ela parecia um pesadelo.

─ Eu sei o seu nome! – disse o homem misterioso com um sorriso perfeito no olhar. – Estou aqui por você, eu vim te buscar.

Aquelas eram as palavras que Valentina tanto queria escutar. O homem diante dela era a sua salvação e, estava disposta a confiar nele de todo o coração, pois somente assim, seria tirada daquele lugar escuro e sombrio.

Ela correu até ele e o abraçou, mesmo sem saber o seu nome, nem o do seu herói, ela comemorou, porque estava bem perto de voltar para casa.

─ Mas antes preciso que me escute. – falou com o tom de voz carregado. – O seu nome é Valentina e eu, bem, digamos que eu sou o seu guardião.

─ Eu me lembro de você agora, uma vez me fez voar.

Partes de sua vida estavam sendo restauradas com apenas essas palavras. Mas no instante em que olhou profundamente para os olhos dele, mais memórias invadiram a sua mente. E naqueles olhos, ela viu algo muito intenso, indecifrável e complexo demais para ela entender.

Num flash de luz, algumas cenas se formaram e ela viu algo que mudaria tudo naquele instante. E percebeu que não era a primeira vez que via o homem que estava a sua frente.

Eu quero você Valentina, só você! – ela se lembrou dessas palavras e algumas lágrimas começaram a se formar nos seus olhos.

Valentina! Não, não, não meu amor respira. Por favor, não me deixe. Respira Valentina.

Lucas... Eu... Eu vou morrer?

Eu não vou deixar isso acontecer, eu sou o seu guardião e devia ter-te protegido.

Você é... O meu Lucas?

Eu sou o seu Lucas sim, por isso apareci para te salvar naquele dia. Por isso sei que ama hortênsias. Eu te conheço mais do que imagina pequena, desde que você nasceu. Mas eu acabei me apaixonando por ti, e renunciei tudo para poder estar ao seu lado, como humano. Eu te amo e não posso te perder, não agora que tudo começou!

Suas forças simplesmente se dissiparam e, Valentina caiu nos braços de Lucas. Ele inclinou com ela nos braços e os dois ficaram se olhando com olhares de tristeza. Nenhum dos dois conseguia disfarçar a emoção que sentia, pois experimentar tudo aquilo, foi a coisa mais extraordinária até aquele momento.

Enquanto ela desejava estar somente dentro de um pesadelo, lembrar-se daquilo apenas aumentou o seu medo e angústia. Saber que estava morta foi o pior pesadelo que ela teve.

Lucas não disse nada, simplesmente abraçou-lhe e tentou transmitir conforto e segurança para sua pequena.

─ Eu te amo Valentina! – Lucas sussurrou nos ouvidos dela. – É tudo que posso dizer neste momento.

─ Há quanto tempo estou morta? – mesmo receosa, ela quis saber.

─ Algumas horas, mas estão todos à sua espera.

─ Minha mãe?

─ Preferimos não dizer nada, para não fazê-la sofrer. – ele passou a mão nos cabelos de Valentina e sorriu. – Mas está na hora de voltar para casa.

Seguraram-se firme pelas mãos e, assim como da primeira vez, uma luz forte surgiu e fez os dois desaparecerem daquele lugar distante e solitário. 

Guardiões - O Anjo De Valentina [Livro I ].  Onde histórias criam vida. Descubra agora