Capítulo XXXIX

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Capítulo XXXIX

Aquela noite tinha sido inesquecível, visto que duas pessoas inocentes haviam perdido suas preciosas vidas. Lola fazia muita falta às amigas. Embora tenha prejudicado Valentina junto com Kesabel, Samuel jamais seria esquecido pela sua bondade e por se arrepender de tudo que fez a Valentina. Ele dedicou os seus últimos dias de vida tentando concertar os seus erros. E o mais importante, Valentina e Lucas haviam deixado para trás tudo de mal que ele cometeu contra eles.

Cinco meses haviam se passado desde o fatídico dia. Valentina se preparava para apresentar a sua monografia e, seu irmão e ela, haviam se mudado para a casa de Lucas. Tinha espaço suficiente para os três.

Jéssica sentia falta de Azazyel, pois desde que ela se recuperou, ele decidiu se afastar para não trazer mais problemas a ela e os amigos. Aquela tinha sido uma decisão difícil para ele. Mas apaixonar-se por Jéssica e, passar tanto tempo com ela o ajudou a entender que, quando se ama alguém e várias coisas os afasta, é necessário realizar certos sacrifícios pelo bem daquele que se ama.

Foram essas as suas palavras para justificar o seu distanciamento.

Algumas horas depois de apresentar o seu último trabalho do curso, Valentina, Lucas, Jéssica e Maurício decidiram jantar fora de casa para comemorar.

─ Parabéns Valentina. – disse Jéssica animada. – Vamos brindar? – sugeriu.

─ Com certeza. – respondeu Lucas. Ele levantou seu copo de suco de ananás e os outros fizeram o mesmo. Jéssica brindou com álcool, pois desde que Azazyel a deixou, ela não parava de beber. – Um brinde à sua a você meu amor.

─ Um brinde ao amor. – disse Jéssica já embriagada. – Que não se separem nunca. Façam valer a pena o meu pequeno sacrifício para juntar os dois, por favor.

─ Já chega de beber amiga. – Valentina tirou o copo dela e deixou sobre a mesa. – Vamos para casa.

Lucas e Maurício levantaram-se e ajudaram Jéssica a levantar também. Naqueles dias, toda a sua força e determinação não faziam mais parte de si. Ela estava detonada, feita em pedaços como um vaso de barro que caiu de quinto andar de um prédio. Pela primeira vez desde que foi traída, Jéssica se entregou livremente à paixão, porém o problema era que se tratava de uma relação proibida. Ficar com Azazyel traria mais problemas e, ele apenas os queria evitar estando longe dela.

Perder Isadora tinha sido uma tortura, por isso, deixaria Jéssica livre da sua maldição. A maldição de ter-se tornado num caído.

Os rapazes levaram-na num dos quartos e, deixaram-na descansar do efeito causado pelo álcool. No fundo, eles sabiam que Jéssica tentava afogar suas mágoas no álcool, mas era óbvio que nada daquilo bastava. Seu coração estava partido e, não havia solução para isso.

Todos dormiam, era aproximadamente uma hora da madrugada e, Jéssica acordou de mais um sonho com Azazyel. Ela desceu da cama e foi à cozinha beber água. Tinha dificuldades para caminhar, pois se segurava a parede quando estivesse prestes a tropeçar. Sua cabeça doía e tudo a sua volta parecia girar.

─ Merda! – resmungou. – Não mereço tanta dor.

─ Se continuar se envenenando assim só vai piorar. – ela procurou saber de onde vinha a voz, mas ninguém estava na cozinha com ela. – Oh, me desculpe! – Azazyel apareceu assim que falou. – Eu estava invisível.

─ Você voltou? – ela tentou ir até ele, mas quase caiu e Azazyel a segurou. – Voltou para mim?

─ Vem para o quarto, você precisa descansar.

Ela estava cansada e com imensas dores de cabeça. Azazyel a levou para o quarto e a deixou na cama. Depois se juntou a ela, abraçou-lhe e, afagou-lhe até que ela adormeceu.

Na manhã seguinte, Jéssica acordou e apercebeu-se de que estava só. Azazyel não estava lá com ela e, acreditou ter sonhado mais uma vez com ele. Ficou frustrada e desanimada. Com certeza uma péssima forma de iniciar o dia. Tudo depois ficaria pior.

Tirou sua roupa, cobriu seu corpo com uma toalha e foi ao banheiro. Fez as higienes e quando terminou de se vestir, ela foi à sala. Escutou risos vindos de lá e, uma voz que a despertou do sono de imediato.

Correu até a sala e viu Azazyel sentando no sofá, junto com o Lucas e Valentina. Àquela hora, Maurício se encontrava na escola. No começo, foi complicado fazer amigos novos na escola nova. Mas no final, ele acabou por se enturmar.

─ Então era real? Eu não sonhei com você? – perguntou Jéssica.

─ Devia parar de beber. – disse Azazyel.

─ Tive saudades. – falou assim que o abraçou. – Você não vai mais me deixar?

─ Eu vou pensar nisso. – ele a beijou e, no mesmo instante, os dois teletransportaram-se para a casa de Jéssica.

E assim que os dois materializaram-se no quarto dela, ele a puxou até a cama e voltou a beijá-la. Jéssica estava extasiada, passou os últimos cinco meses sem sentir a presença de Azazyel por perto. Depois de ter-se acostumado com sua presença, principalmente com o que ela sentia perto dele, passar meses sem vê-lo ou senti-lo a torturou dia e noite.

Ela não sabia explicar o porquê de sentir uma chama tão devastadora sempre que estivesse a sós com ele. O que ambos sentiam era sobrenatural e, mesmo que tentassem fugir disso, eles sempre voltavam. Era como uma maldição. Ou talvez fosse uma forma de salvar Azazyel do abismo em que ele habitava.

─ Fica comigo Zael. Eu sei que está errado, mas também sei que se quisermos, podemos tentar fazer isso dar certo. – suplicou Jéssica, deitada na cama e, envolvida nos braços de Azazyel. – Se quiser fazemos outro pacto.

─ Você ainda não me pagou o primeiro. – disse ele fazendo carinho ao cabelo de Jéssica. – Acha que será capaz de pagar dessa vez?

─ A culpa não é minha. – ela o encarou. – Você nunca me disse o que eu teria que fazer em troca.

─ Não tenho mais certeza se é isso o que eu quero. Acho melhor nós esquecermos o primeiro pacto e, fazermos outro. – sugeriu e deu um selinho a ela.

O pacto foi feito. A única diferença era de que ninguém teria que dar sua alma. Aquele foi com certeza, o melhor pacto que os dois tinham feito. E desde aquele dia, as coisas mudariam, pois pela primeira vez, Azazyel teria aceitado aprender a fazer apenas o bem. Nem mesmo Isadora tinha conseguido muda-lo daquele jeito.

Com o novo pacto, Azazyel não só renunciava fazer o mal aos humanos, mas também estava a renunciar o seu amor por Isadora. Um amor que, com o tempo, tornou-se numa obsessão e, que foi capaz de induzi-lo a cometer inúmeras injustiças. Um amor que, a cada milênio que passava o destruía ainda mais criando imensa escuridão nele.

Porém Jéssica, não era a mulher que daria vida a Isadora, mas sim a que libertaria Azazyel da prisão em que ele mesmo se impôs. A mesma prisão em que ele condenou Isadora.

Experimentar mudar era como se, Azazyel decidisse caminhar numa corda bamba com uma venda nos olhos. Porque ele não sabia no aquilo ia dar, pois sua natureza era impossível de mudar. Nem mesmo um amor sobrenatural era capaz de fazê-lo ser diferente. Porque no final, alguma parte da sua maldade, ou passado despertaria e por mais que tentassem, seriam todos incapazes de impedir o inevitável.

Mas aquilo não importava. Mais valia arriscar e tentar a sorte de amarem-se. Porque assim como Lucas e Valentina, Jéssica e Azazyel pertenciam um ao outro. De uma forma que, jamais ninguém entenderia ou seria capaz de explicar.

─ O novo pacto será o seguinte. – disse Azazyel a Jéssica. – Você me ensinará a amar e eu a amarei de volta. – ele fez uma pausa para refletir e concluiu. – Eu preciso que você me ajude a me livrar do passado, quero que a cada dia me ajude a ser bom. Porque agora eu sei que, não foi por acaso que eu me encontrei com você. Talvez, tenha sido o destino, então eu não quero contrariar a vontade dele.

─ O destino guiou você até mim. – disse Jéssica. – Por isso, eu aceito o novo pacto. 

Guardiões - O Anjo De Valentina [Livro I ].  Onde histórias criam vida. Descubra agora