Capítulo XXII

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Capítulo XXII

─ Eu detesto os humanos. – disse Azazyel para Lucas que acabava de despertar do sono.

─ Todo o universo sabe disso, – tirou os lençóis e ficou sentado na cama. – mas, por favor, para de perturbar o meu sono.

─ A culpa é sua por me fazer cuidar daquela orgulhosa. Acha que resiste a mim.

─ Não se mete com ela Azazyel, ela pode até ser forte, mas qualquer ser no universo possui alguma fraqueza.

Lucas se retirou do quarto e foi ao banheiro. Era incrível acordar de manhã e olhar-se no espelho. Admirava-se e aos poucos se sentia mais seguro consigo mesmo. Colocou a mão nos seus lábios e se lembrou do contato que teve com Valentina, não era sua intenção fazer aquilo, mas seu instinto o fez experimentar algo tão belo e delicado. Tudo que lhe acontecia após se tornar humano era por causa de uma força que vinha de dentro da sua alma, nunca antes tinha sentido coisas semelhantes e o amor que sentia por Valentina se limitava a amizade e superproteção. Jogou água gelada no rosto e voltou a olhar-se no espelho. Pensou em conversar sobre o assunto com Azazyel, mas temia que ele lhe dê-se maus conselhos.

─ Jéssica! – sussurrou ao se lembrar dela. – Ela é mulher, não me sentiria confortável, mas se não for com ela com quem será?

Pensou sobre isso enquanto escovava os dentes, o beijo que deu a Valentia não saia da sua mente. Sentimentos fortes se espalhavam por dentro preenchendo toda a sua alma, sensações novas invadiam seu corpo e desejava falar sobre isso com alguém que entendia o que estava a acontecer com ele. Tirou suas roupas e ligou o chuveiro, a água caindo sobre seu corpo lembrava seu primeiro beijo, debaixo da chuva com a mulher mais incrível que conhecia. Era paixão nascendo nele e não sabia. Ser humano significava fazer, pensar e sentir tudo que sua nova natureza lhe proporcionava. Por mais que tentasse lutar contra isso, nem mesmo se quisesse jamais conseguiria. Era mais forte que ele, sendo apenas humano seria como se nunca tivesse sido o guardião de Valentina desde o seu nascimento.

Terminou o banho e quando voltou ao quarto Azazyel já tinha saído. Por causa do calor, ele optou por roupas confortáveis. A tempestade havia deixado marcas, mas o calor voltou com mais força, o sol escaldante fazia uns desejarem a chuva novamente. Lucas terminou de se arrumar e sentiu fome, lembrou-se de que não sabia cozinhar, foi à cozinha e viu Azazyel servindo omelete e pão em dois pratos.

─ Levou meia hora só para admirar o quão lindo você é! – balançou a cabeça e riu-se da cara de vergonha de Lucas. – Relaxa senhor, eu não tenho o hábito de ver machos sem roupa, não vi você, mas pela sua cara eu acertei.

─ Você poderia passar mais tempo comigo sabia! – disse Lucas levando garfos. – Azazyel, você sabe como eu tive essa casa?

─ Eu dei para você! – Lucas o olhou surpreso e Azazyel sorriu. – Comprei para você, devia me agradecer.

Eles colocaram os pratos na mesa, sentaram-se e Azazyel serviu café para os dois. Desde que se tornou humano, Lucas comia fora por não saber como preparar uma refeição. Mas ficou confuso, se a casa era de Azazyel e tinha fotos dele e roupas do seu tamanho e gosto, como ele e essas coisas foram lá parar?

─ Eu acordei no quarto, vi minha foto na sala. Pode me explicar isso.

─ Sobre a foto eu não sei, mas as roupas são minhas, você não teria bom gosto. – tomou o café e continuou. – Me mandaram buscar você, estava inconsciente no meio do mato. Sorte que ninguém vive por lá.

─ Por que ter casas se você não usa?

─ Comprei porque um idiota decidiu virar humano, sem pelo menos pensar em como viveria num mundo como esse! – falou olhando para Lucas. – Paguei caro por tudo que você tem. Você viu que tem um carro lindo não é? Tudo graças a mim e de nada!

Terminaram de tomar o pequeno-almoço e Azazyel explicou tudo o que aconteceu antes dele acordar. Ele havia sido chamado pelo mestre de Lucas e recebeu a missão de garantir que nada de mal aconteceria com ele, embora Azazyel fosse um caído, tinha honra e cumpria com suas missões sem covardia. Antes de Lucas se tornar humano, ele procurou a casa e assim que o encontrou desmaiado no meio da floresta, o levou para lá. Sobre os documentos e a foto nem mesmo Azazyel sabia como foram para lá, mas estava tudo pronto para ele. Era como se fosse humano desde o nascimento.

Seus documentos diziam que era órfão e filho único. Tinha certificados desde o ensino primário até o ensino superior. Era formado em medicina, o que era estranho para ele, já que nunca havia estado numa escola antes, mas seu pai havia preparado tudo para ele. E com a ajuda de Azazyel, ele conseguiu ter um lugar para viver.

─ Isso significa que devo trabalhar como os humanos?

─ Sim, mas por enquanto não precisa. Temos que tratar de Kesabel e assim que eu tiver Isadora de volta, você se vira sozinho.

─ Ele tinha razão em dizer que você era bom. – disse Lucas se referindo a seu pai.

─ Acho que ele não me conhece de verdade. – disse e entregou um celular para Lucas. – Sabe usar isso? Sabe sim, você mandou uma mensagem para ela usando seus poderes. Mas agora é diferente, isso funciona manualmente e não com poderes.

Lucas recebeu o celular e repetiu tudo que Azazyel fez. Não conseguiu no começo, mas depois fez tudo certo. Parecia uma criança, mas para saber viver como humano teria que ser paciente.

As horas se passaram e os dois continuaram a conversar, Lucas tentou convencê-lo a desistir de matar Jéssica, mas depois de ela ter gritado com ele, estava decidido a fazer uma retaliação. Odiava os humanos por motivos que apenas ele conhecia, e ser confrontando daquela maneira piorava a situação.

─ Posso te fazer uma pergunta e você promete ser honesto comigo? – perguntou Lucas.

─ Sabe que não sou honesto, mas tenta!

─ Eu encostei os meus lábios nos de Valentina e senti algo mágico e bom, não sei explicar o que é. – disse receoso.

─ O que vocês fizeram se chama beijar, o quê você sentiu foi desejo de fazer coisas além do beijo. Coisas que jamais sentiria se continuasse perfeitinho como sempre foi. Mas já que é para ser honesto, eu te aconselho a esperar antes de ultrapassar o beijo e chegar além. Eu não esperaria, mas você e eu somos diferentes.

─ Não é errado eu sentir isso por ela? – isso ainda o torturava, não fazia ideia do que estava a acontecer consigo, por isso precisava esclarecer as dúvidas de uma vez.

─ Há cinco dias seria, mas agora que é humano não é mais. A decisão de ser humano antes de passar a olhar para ela dessa forma, o impediu de cometer esse erro. Por isso você precisa agir antes que Kesabel mate sua amada, eu já perdi a mulher da minha vida e não recomendo passar por isso.

─ Obrigado Azazyel! Você ainda é bom, só não aceita isso.

─ Eu ajudo você e me agradece falando besteiras! – reclamou e se levantou do sofá. – Fiz porque sou um guerreiro de honra. Agora vou lá suportar aquele ser repugnante. – antes que Lucas falasse algo, ele sumiu e foi até a farmácia onde as meninas trabalhavam para cuidar de Jéssica.

Guardiões - O Anjo De Valentina [Livro I ].  Onde histórias criam vida. Descubra agora