Be just mine || [PORTUGUÊS-BR] - COMPLETO

J a l

Eu não consigo conter as lágrimas. É difícil. Já estou pegando o segundo vôo e sempre que me sento na poltrona do avião, minhas lágrimas retornam. Até as aeromoças perguntam se estou bem, o que eu tenho, e eu respondo:

"Saudade".

Desde que a carta da Mon'Art Academy chegou em casa, eu fiquei radiante. Minha alegria era algo que até a gangue rival do bairro vizinho não tirava.

Nasci no Brooklyn, o bairro mais famoso de Nova Iorque. Bom, apesar de já estarmos bem mais atualizados e evoluídos, os conflitos de gangues ainda existem. Calma, não pensem que eu sou uma delinquente ou algo do tipo, eu apenas mantenho a tradição e faço o que deve ser feito. Aqui, você precisa ter muito cuidado com o que fala ou faz, e principalmente, com quem anda. A cinco anos, depois de uma gincana escolar, um grupo de meninas da escola rival começou a odiar a minha antiga escola, resultando em brigas e uma morte. Até hoje, ninguém se atreve a ir no bairro vizinho sem a permissão do líder. Não usamos nada como cores para representar nossa gangue, apenas acessórios. O meu preferido é uma correntinha de ouro, com o símbolo de um cadeado com as letras B.B. escritas, que representa os BrooklynBlues.

Mas acontece que, depois que me caiu a ficha, depois que eu me toquei de que teria que me mudar e passar anos longe, a tristeza e o arrependimento me corromperam. Se não fosse por Natasha, minha melhor amiga, eu teria desistido de tudo isso. Eu iria abrir mão do meu sonho, pelo simples fato de eu estar com medo da mudança que teria que fazer.

Apesar de toda essa convivência com o "errado" desde berço, sentirei muita falta de onde nasci e cresci. Meus pais? Nem preciso dizer. Mamãe chorou por dois dias seguidos, antes mesmo de eu ir ao aeroporto. Meu pai apenas me ditava regras e dizia para eu tomar cuidado, ligar sempre e me dedicar bastante, mas eu percebia que ele estava morrendo de medo de deixar a bebezinha mais velha dele ir embora. Já Noah, pedia para que eu comprasse os melhores brinquedos e os mandasse entregar via correio. O pirralho só tem cinco anos, mas é esperto.

A Mon'Art Academy, é o meu maior sonho. Desde muito pequena, fiz tudo o que me beneficiaria na entrada dessa escola de artes. Ela é a maior academia de artes gerais do país, se não, a do mundo. Saber que estou agora mesmo a caminho de Paris, com 50% da passagen paga pela própria universidade, levando roupas de frio e meus pertences mais importantes, me deixa um pouco tonta. Agora que parei para pensar, me toquei de que 30% do meu sonho se realizou. Tudo o que eu fiz não foi em vão. Todas as aulas pagas de piano; todo o dinheiro gasto, todo o tombo levado nas aulas de dança, tudo está sendo recompensado. É ótimo ver que tudo isso está valendo a pena.

Peguei o meu celular e abri o Whatsapp. Reli novamente todas as mensagens dos meus amigos e familiares, me dando boa sorte e mandando textos emocionantes. Parei no nome de Josh. As lembranças me invadiram. Não deixei somente meus amigos e família, mas também um grande amor ficou para trás. Josh e eu namoramos por dois anos. Ele é o irmão mais velho de Natasha, mora a duas casas da minha e todos os dias nos víamos. Isso com certeza foi o mais difícil. Eu o amo.

Antes de tudo, Josh estudava na escola rival e namorava uma das mais populares. Depois da grande confusão na gincana e a rivalidade, eles acabaram terminando e nos aproximamos. Bom, já éramos vizinhos e sempre nos víamos, querendo ou não, mas eu já sentia uma atração por ele. Foi quando ele me pediu em namoro e eu aceitei, mas fiquei um pouco receosa por ele ser da escola rival, e isso fez com que a gente terminasse várias vezes seguidas. Até que, ele resolveu se mudar de escola por minha causa e passar a ser dos Brooklyn Blues, pedindo transferência para a escola do nosso bairro. A ex dele? Ficou possessa e esse foi o motivo pivor que fez com que a nossa rivalidade aumentasse. Até hoje, a ex namorada dele me odeia e odeia à ele também.

--- My Boo ---
- Hey, amor, não se esqueça de mim, okay?
- Não vejo a hora de você voltar. Tomara que esses quatro anos passem voando!
- Todos vão morrer de saudade aqui. Natasha não para de chorar.
- Espero que esteja dando tudo certo.
- Bom, tenho que ir dormir.
- Você já tem noção de que horas são aí? Aqui são três da madrugada.
- Me liga, ou manda mensagem assim que chegar na "cidade da Torre Eiffel", KKKKKKKK.
- Boa noite, babe.
- Eu te amo.

Sorrio ao ver as últimas três mensagens. Era assim que Josh passou a chamar Paris, depois que eu contei que havia enviado meu histórico para a Universidade de lá. Sempre que nos víamos, ele dizia "Ora, se não é a garota que vai para a cidade da Torre Eiffel!" e me envolvia em um abraço. Irei sentir saudades dele, de seu abraço, seu beijo, seu corpo pegando fogo junto ao meu, de tudo.

Logo a realidade me acorda novamente e desligo o celular. Uma aeromoça passa com um carrinho de comida e pego algo para comer. Aprovetei para me concentrar na comida, assim eu pararia logo de chorar.

Agora que as lágrimas cessaram, me permito dormir, já que fiquei muitas noites em claro.