Capítulo 9

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Ellen's Pov

Eram 10h e acordei com um desconforto insuportável e esse não era o meu maior problema. Quando ergui o edredom e vi as roupas com as quais dormi, lembrei exatamente do que aconteceu ontem à noite. As bebidas, a dança, nosso quase beijo, meu vômito, minhas provocações. Minha dignidade tirou férias sem aviso prévio e eu me perguntava como encararia Brian depois disso tudo. Antes que eu pudesse encontrar uma resposta que me confortasse, ouvi três batidas na porta.

- Pode entrar! Disse, sentando e usando a coberta para esconder o decote da camisola.

- Tudo bem? – Brian entrou equilibrando uma bandeja de café da manhã nas mãos e um baita sorriso no rosto – Espero que o remédio para dor de cabeça que te dei antes de se deitar tenha feito efeito. Imaginei que acordaria com fome e preparei algumas coisinhas para você!

Ele posicionou a bandeja, me deu um beijo no topo da cabeça e se sentou ao meu lado. Fui servida com uma xícara de café, um belo copo de suco de laranja, bagel recheado com cream cheese, ovos com bacon e panquecas com calda de chocolate. Eu não sei o que fiz para merecer tamanho carinho. Neste instante, me dei conta de que talvez precisasse me desculpar pelos transtornos que causei ontem.

- Brian, obrigada por se preocupar comigo, mas preciso que me perdoe por ter estragado sua noite. Eu te arrastei para a pista na boate com a intenção de fugir daquele bêbado, dancei com você de maneira inapropriada, bebi até vomitar e voltamos mais cedo por minha causa. Sem falar que me lembro de ter te chamado para dormir comigo e de ter praticamente me despido na sua frente... – Abaixo minha cabeça, envergonhada.

- Ellen, – Ele coloca uma mexa do meu cabelo atrás da minha orelha e ergue meu rosto, tocando meu queixo – eu me importei com nada que aconteceu. Você me fez dançar, eu não teria dançado por outra pessoa se não por você! E não precisa se sentir constrangida por ter passado mal. Amo... Eh... Amo cuidar de você! Agora coma!

- Eu te provoquei e isso não foi justo! Lamentei, enquanto mordi o bagel.

De todas as reações que Brian poderia ter, ele optou pela que eu não passou pela minha cabeça. Ainda do meu lado na cama, pigarreou e chegou tão perto do meu ouvido que eu senti sua respiração levemente ofegante.

- Não tem problema, princesa. Eu posso aprender a te provocar, daí, ficamos quites.

Olhei para ele com a boca ainda cheia e sentindo minhas bochechas queimarem, certamente por estarem vermelhas. Engoli a comida com dificuldade e ele sorriu, parecendo curtir meu espanto. Nosso olhar foi interrompido pelo toque do meu celular, que vinha da sala. Claro, esqueci minha bolsa no sofá, recordei. Como o cavalheiro que é, foi busca-lo. Na tela, o nome e a foto de Devon.

- A... A... Alô? – Gaguejei de nervoso reparando que Brian vestia uma de suas bermudas de moletom que amo em segredo.

- Vou deixar você à vontade... Aproveite seu café! – Sorriu e saiu do quarto.

- Meu Deus! Ele estava com você? Vocês estavam na cama? Foi gostoso? É bem dotado? – Devon agiu como uma metralhadora de perguntas. Respondi a todas e contei sobre os acontecimentos pós-balada.

Meu plano era simples: Dar sinais para Brian de que eu estava afim dele e ler os seus. O obstáculo: a bebida. Eu não deveria ter enchido minha cara com aquelas Pina Coladas. Porém, estavam tão deliciosas, doces armadilhas! Quando o bêbado nojento se aproximou de mim, ele me defendeu com tanta determinação que me fez pensar que gostaria de ser protegida assim, sempre. Vi a ocasião perfeita para tirá-lo para dançar. Não seria a primeira vez, lembro-me de já termos dançado juntos quando éramos adolescentes, mas estava nervosa porque a música era um convite ao toque. E nos tocamos. Fiz questão de esfregar meu corpo ao dele, pois queria ver como ele reagia a mim. Posso jurar que senti sua excitação crescendo enquanto rebolava no ritmo da canção que tocava. As mãos dele me segundo com firmeza fez com que minha calcinha umedecesse. Quando ficamos de frente um para o outro, pude ver seu olhar desejoso. Joguei minha cabeça para trás, para que meus quadris se projetassem para frente e quando voltei desta posição, nós íamos nos beijar, tenho certeza. Porém, tudo começou a girar e senti que iria vomitar. Arruinei nosso momento.

- Pelo menos ele viu sua lingerie nova, não era isso que você queria?! Devon se divertiu com minha história.

- O intuito era que ficássemos e ele visse minha roupa íntima quando estivéssemos namorando, não que ele cuidasse da minha bebedeira – Lamuriei.

- Gata, pode não ter conseguido alcançar esse objetivo, mas deve ter deixado o garoto doido! Deve ter homenageado você a madrugada toda! – Gargalhou.

- DEVON! Gritei.

- Não seja tímida, de timidez, já basta a dele! Faz o seguinte: Acabe de comer o que o seu boy preparou para você, se recomponha e vamos sair. A gente pode comer algo, bater pernas e fazer compras. Precisamos conversar sobre seus próximos passos. E quando voltar, mais tarde, você estará com menos vergonha e mais relaxada.

- Ok... Vou fazer isso – Marcamos horário e ponto de encontro, nos despedimos e desliguei o telefone.

O lanche preparado por Brian estava saboroso. Corri para o guarda-roupa e separei uma calça jeans boyfriend, surrada, uma sapatilha e uma blusinha listrada. Ao sair do quarto com a bandeja nas mãos e envolvida no meu roupão felpudo, o vi na cozinha, bebendo um copo de água. Avisei que sairia com Devon e não vi desapontamento em sua expressão quando assentiu. Seria essa reação boa ou ruim? Tomei banho e me vesti. Não estava com paciência para me maquiar, então coloquei os maiores óculos escuros que tenho para disfarçar minha ressaca. Fiz um rabo de cavalo com os cabelos ainda úmidos, peguei minha bolsa e sai, não antes de dar um beijo na sua bochecha e dizer um "Até mais".

Segui para Manhattan e durante todo o trajeto, ouvi música em meu celular. Não parei de pensar em Brian em um minuto sequer. Chego ao Central Park e encontro Devon, já ao meu aguardo. Passeamos aproveitando o dia ensolarado, com temperatura amena. Revelo para ele o quanto confusa e amedrontada estou.

- Meu anjo, eu não vejo cenário onde vocês não estejam um afim do outro. Já entendi que, quando eram novinhos, ele parecia querer algo e no final das contas, se separaram. Particularmente, ainda acho essa história estranha, sabe? A impressão que tenho é que houve um desencontro. Mas quer saber? Vá fundo! Minha mãe costuma dizer que quando vale a pena, não importam as dificuldades, a gente precisa tentar. Você acha que Brian vale a pena?

- Sim. Ele é o cara mais gentil, inteligente e fofo que conheci. Mais que me chamar de "princesa", ele faz com que eu me sinta uma. Mas e se isso atrapalhar nossa amizade?

- Amooor... Você tem a chance de namorar o seu melhor amigo. Quem não gostaria disso? Agora, acho que antes de rolar alguma coisa, conversem. Com calma, sem ultimatos dessa vez! – Devon fez menção ao episódio do cinema, quando agi no melhor estilo "agora ou nunca".

Almoçamos e acompanhei Devon, que comprou algumas roupas e sapatos. Por sorte, ele não pediu minha opinião, porque eu seguia pensando no que fazer com Brian. Passamos em frente à mesma loja de lingerie em que fiz compras essa semana e fiquei tentada a adquirir mais peças. Não resisti e levei para casa duas camisolas, um baby doll, algumas calcinhas e sutiãs, e por fim, um conjunto de corselete que incluía meia-calça e cinta-liga.

- Ellen Lewis, assim você vai matar o nerd! – Ouvi de Devon. Rimos ao ponto de chamar a atenção da atendente, que entendeu nada, apenas consentiu.

Já eram 16h quando nos despedimos e segui de volta para casa. Pesei prós e contras sobre me declarar e à medida me dei conta de que seria inevitável falar sobre meus sentimentos com Brian, minhas mãos começavam a suar. Estou me preparando psicologicamente para ser rejeitada de novo, porém, se tivermos uma segunda chance, quero que seja sem afobação. Ele é muito importante para mim e não quero perde-lo. Durante meu trajeto, vi uma delicatessen e levei cupcakes red velvet, os preferidos do meu príncipe. Ri sozinha pensando em como o chamei mentalmente. Enquanto destrancava a porta, ouvi uma voz feminina.

Sugestão de música para esse capítulo: "The Other Side" (Betty Who)


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Será que Ellen vai se declarar?

E de quem é a voz ouvida por ela, no apartamento?

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