Capítulo 7

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Sonhei mais uma vez com ela e acordei todo melecado novamente. O despertador ainda não havia soado e decidi não aguardar seu toque. Abri a porta bem devagar, na intenção de verificar se o caminho estava livre. Por sorte, eu era o único acordado e apressei o passo até o banheiro, pois a última coisa que eu gostaria que acontecesse era que Ellen me visse com a calça no estado em que ficou. Enquanto lavo meus cabelos e ensaboo meu corpo, minha mente viaja ao dia de ontem. Amei poder cuidar dela pela manhã, paparicá-la e não me importaria de viver essa rotina. Quando a vi vestida, lembrei de já ter visto aquela roupa em uma foto que curti. Ela estava perfeita, como sempre. Antes de dormir, tive a ideia de enviar flores para sua sala, queria que ela soubesse o quão feliz estava pelas coisas estarem dando certo para ela e por estar na minha vida de novo. Queria ter feito isso antes do café, mas a floricultura mais próxima, com atendimento via internet, ainda estava fechada. Sem alternativa, tive que fazer meu pedido no caminho para o trabalho. Percebi que ela ficou incomodada em dado momento por eu não dar atenção a ela por completo, mas planejei colocar um pedido de desculpas num cartão que acompanharia o presente. Na fila para o elevador, notei que um rapaz com uniforme da loja em que encomendei o buquê e com o arranjo que havia solicitado adentrava o prédio. Fiquei feliz por Keenan distrai-la com alguma piada e pelo fato do entregador entender meus sinais que apontavam que eu era o cliente e Ellen, a presenteada. Ele recuou e aguardou que subíssemos antes dele. Só me mantive calmo até ela entrar em sua sala. Corri para a minha e escrevi uma mensagem o mais rápido que pude, tentando fazê-la de forma legível. Corri para a porta do nosso escritório e quase fiz o garoto da entrega cair quando o puxei para junto de mim. Keenan foi até a sala dela, com as flores e meu bilhete, ao mesmo tempo em que me desculpava com o entregador e lhe dava uma gorjeta por seu serviço e o transtorno que causei com meu nervosismo. Assim que ele se foi, me recompus, tentando controlar minha respiração e sentando à mesa.

- Pronto, cara, missão cumprida! – Keenan disse com um baita sorriso e continuou, com um ar conspiratório – Agora, preciso que você confie no que eu vou dizer: Você não vai para a reunião de pauta.

- ENLOUQUECEU? – Falei mais alto que gostaria, então respirei fundo e baixei o tom da minha voz – Eu preciso vê-la, perguntar se ela gostou do presente.

- Meu amigo, já disse, confie em mim. Vou à reunião, se você for, não vai conseguir enxergar o que sou capaz de ver. Quero estudar a reação dela ao não te ver lá. E outra, é capaz de você desmaiar de tão nervoso que está. Você terá tempo de colocar a cabeça no lugar e acalmar seu coração até sairmos para o almoço.

- Faz sentido... – Assinto – Você tem razão.

- Eu sempre tenho.

Ainda sozinho, volto para meu quarto, coloco uma calça jeans e uma regata e sigo para preparar o café, recordando o dia anterior. Próximo do nosso intervalo, ela enviou uma mensagem e resolvi não responder, mas sim, ir direto a sua sala. Como um pai orgulhoso pelo filho no seu primeiro dia de aula, Keenan interrompeu nossa caminhada pelos corredores, colocou a mão em meu ombro e me motivou dizendo que eu estava indo muito bem e que tudo ia dar certo. Ele permitiu que eu andasse uns passos a frente dele e quando parei no batente da porta de Ellen, a observei distraída e minha vontade era invadir seu local de trabalho e beijá-la tão intensamente, como se minha vida dependesse disso. Porém, precisava ser cauteloso. Keenan disse que a expressão de desapontamento por não ter me visto na reunião era um ótimo sinal.

Já vestido, encontrei com ela na cozinha, de banho tomado, preparando nosso café e colocando alguns alimentos na bancada. Queria assumir os preparativos, mas ela ordenou que eu sentasse, pois era a minha vez de ser servido. Como não obedecer às ordens da minha princesa? Eu me tornei seu bobo da corte e me preocupo nem um pouco com isso. Aproveitamos a refeição e disse que não abria mão de lavar as louças e guardar tudo. Fui brindado com a visão do sorriso que tanto amo e ela seguiu para seu quarto. Nosso trajeto para o trabalho foi bem tranquilo e, com o expediente iniciado, dividi meu tempo entre minhas tarefas e confidências com meu melhor amigo, ainda repercutindo os últimos acontecimentos.

- Ela não tem desgrudado daquele cara... – falo, sem tirar os olhos da tela do notebook.

- O Devon? Brian, acho que não, acho que ele é gay. Há uns dias atrás, estava na sala de descanso cochilando, o intervalo não havia acabado. Despertei com a voz dele falando ao celular, mas não abri os olhos, tentando me concentrar para voltar a dormir. Pelo o que entendi, ele conversava com um outro homem e eles combinavam de sair de novo, que tinham tido um encontro inesquecível...

- Mas você está me saindo um belo de um fofoqueiro, hein!? Digo, zombando do meu amigo.

- Deixa de ser palhaço! No momento em que percebi que não voltaria a dormir, dei privacidade para ele e fui ao banheiro. O horário de almoço acabou e voltei para nossa sala. Por isso, acredito que não há motivos para se preocupar.

- E você nem contou isso...

- É mesmo? E quem é fofoqueiro agora?

Rimos da situação e voltamos aos nossos afazeres. Ellen perguntou se nos importávamos em almoçarmos com Devon e seguimos para um restaurante nas redondezas da empresa. Foi uma grata surpresa o quão simpático e divertido ele é. Só o conhecia de vista, das reuniões, nunca havíamos parado para conversar e, talvez, se não fosse pela minha princesa, as coisas continuariam assim. Eis que Devon fala sobre a próxima sexta-feira, quando sairemos para beber e dançar. Por fora, eu era uma fortaleza. Por dentro, estava apavorado. Eu não sei dançar, não tenho coordenação motora alguma. Pelo visto, vamos a uma boate nova, e enquanto a conversa fluía, desbloqueei o celular e pesquisei, disfarçadamente, sobre o estabelecimento. A programação do site informava que sexta seria o dia da noite latina.

- Meu Deus! – Só percebi que falei ao invés de pensar quando as três pessoas que me acompanhavam olharam para mim. Pensei rápido... – Recebi um e-mail com promoções de tênis da marca que gosto de usar, só isso!

Já em nossa sala, falei o real motivo da minha interjeição.

- Quanto drama, Brian! Se anime, músicas latinas são sensuais para se dançar, vai poder ficar mais próximo de Ellen – Keenan diz como se não soubesse que tenho dois pés esquerdos.

- Ah, agora sim estou tranquilo, afinal, todo mundo sabe que sou uma porra de um Ricky Martin! Acorda, eu não acerto o tempo de um raio de uma música lenta, imagina esse tipo de gênero... Isso vai ser um desastre!

- Brian... – meu amigo se distancia da mesa, rolando as rodas da cadeira, melhorando minha visão do seu rosto – Ninguém está pedindo para você se inscrever no Dancing With Stars, você só precisa sentir o ritmo e deixar que ele assuma seu corpo.

- Por que raios todo mundo que sabe dançar acha esse conselho válido?

- Porque é. Faça uma playlist com esse tipo de música, se familiarize. Assista a alguns vídeos no Youtube, clipes... Não se apague aos passos, mas à forma que as pessoas se movimentam. Não ensaie passos, pelo amor de Deus, não faça algo que tire sua espontaneidade.

Apenas assenti. 

O restante do dia passou rápido e ao ver Ellen, em casa, demonstrando tanta animação sobre nossa ida à boate, me senti motivado a seguir as orientações de Keenan. Fui deitar mais cedo e, antes de adormecer, assisti a uma lista de vídeos de músicos latinos. Só espero que sexta-feira não demore a chegar, ou minha ansiedade vai me matar.

Sugestão de música para esse capítulo: "Despacito" (Luis Fonsi feat. Daddy Yankee)


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O que esperar dessa noite latina?

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