Transe Energético | Capítulo Quinze

198 23 10
                                    

— Entregou o livro a ela? — indagou a garota, quando Lucas entrou no escritório e encontrou a ruiva sentada do outro lado da mesa, tensa. Ela parecia exausta, cansada de uma forma que Lucas nunca havia visto, mesmo quando Elisa passava horas a fio na biblioteca ou no meio de páginas e páginas de relatórios.

Sua energia estava fraca e vacilante ao seu redor, como uma vela chegando ao fim, tremeluzindo e quase se apagando. Até mesmo os seus olhos pareciam apagados, sem as usuais chamas que dançavam ali.

— Sim, Cass disse que ficará bem — respondeu, franzindo as sobrancelhas. — O que houve? Tudo bem? — Não conseguia deixar de pensar que havia algo muito estranho no modo fraco com que a energia de Elisa reluzia, em como seus olhos estavam apagados, quase como se voltassem ao tom de castanho natural.

Observou a bagunça na mesa, indicando que ela passara as últimas horas ali, focada nas anotações. Agora havia livros empilhados no canto da mesa, papéis soltos e espalhados entre os cadernos e reconheceu desenhos de símbolos, os esquemas que ela usava para montar as teorias.

— Kenan cuidará do julgamento, mas preciso da sua ajuda — disse, sem responder a pergunta. Então era isso. Provavelmente ela e Kenan passaram as últimas horas revisando tudo o que Elisa havia conseguido sobre o caso até o momento e agora ela estava realmente exausta, até mesmo para os padrões normais.

Mas se era Kenan quem cuidaria do julgamento e, aparentemente, os dois haviam passado as últimas horas juntos revisando tudo aquilo...

— Você não vai ao julgamento? — Lucas arregalou os olhos, sem saber se sentia-se surpreso ou preocupado. Clarissa certamente detestaria aquilo, mas Elisa realmente não parecia bem o bastante para depor na frente de todos e sabia que ela nunca ficava tão exausta daquele modo.

— Não e nem você — disse ela, calmamente. Hesitou, insegura e então abaixou um pouco a manga da blusa, deixando o ombro a mostra e também uma marca, uma marca que se espalhava como cicatrizes escuras em sua pele delicada, como raízes se expandindo e sugando-a aos poucos. Lucas pôde jurar que sentiu-se sem ar por um segundo. Era por isso que ela parecia tão exausta e sua energia estava tão apagada. — É por isso que preciso de sua ajuda.

« ♡ »

— Acha que pode fazer isso? — questionou Kenan, olhando atentamente para Clarissa. A loira mantinha o olhar baixo no livro. Ele estava todo escrito em latim, mas não tivera problemas para compreender. Não passara anos estudando línguas antigas para nada, afinal.

Sua paixão por elas começara logo no início da faculdade e depois se aprofundou com pesquisas e projetos de linguística histórica, até mesmo cursos por conta própria. Sempre sonhou em se tornar uma grande pesquisadora, mas nunca pensou em se especializar em demonologia ou lidar com este tipo de língua angelical. Era o máximo que conseguiria como pesquisadora nesta dimensão, pelo visto. O latim fora um pouco distorcido com termos próprios da linguagem dos querubins, mas conseguia notar os padrões e Kenan lhe ajudava com as palavras que não lhe eram familiares.

Elisa havia lhe mandado aquele livro como uma sugestão para o julgamento, Lucas disse que Kenan a ajudaria caso quisesse continuar o plano. Ainda estava insegura, mas o papel que caiu do meio das páginas, com a letra de Elisa, lhe fez criar a confiança que precisava.

Amo você, meu anjo.

Liz

Era tudo o que o bilhete dizia e tudo o que precisava ler. Sentia-se aliviada e encorajada, observava o bilhete ao seu lado enquanto Kenan lhe esperava.

Ele havia passado a última hora lhe orientado em seu depoimento, lhe explicando sobre o processo. Tudo parecia bem simples, tentava se convencer de que poderia encarar aquilo e encarar o ritual que Elisa havia proposto, o extenso ritual descrito no livro.

Delírio | Criaturas CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora