Uma Boa Menina | Capítulo Doze

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Não precisou esperar por muito tempo até Elisa reaparecer. Ela finalmente tinha um tempo livre, encontrou Clarissa no mesmo sofá com um livro de poesia, imersa e concentrada na leitura.

A loira desviou o olhar e sorriu quando Elisa sentou-se ao seu lado, as duas se aconchegaram nas almofadas até estarem praticamente deitadas, os corpos entrelaçados fazendo com que sentisse o calor que a energia de Elisa vibrava.

— Você pensou sobre o que eu te disse mais cedo? — indagou ela, os olhos dourados brilhando em preocupação quando lhe encararam. Estavam bem próximas, podia ver cada contorno do rosto de Elisa, cada nuance de fogo em seus olhos vívidos.

— Foi o que eu mais fiz, mas ainda não tomei uma decisão — disse, em um tom baixo que soou como um suspiro. Sentiu os braços de Elisa lhe puxando para mais perto, apertando o abraço quando se ajeitaram nas almofadas coloridas do sofá.

— Cass, o tempo é diferente para nós aqui e é um pouco imprevisível. Quanto mais tempo você passa aqui, mais corre o risco de que anos se passem lá — alertou, a voz suave. As palavras da ruiva pesaram em seus pensamentos, repetindo-se como um disco riscado e se fixando em suas aflições.

— Você voltaria se pudesse? — questionou Clarissa, por fim e Elisa desviou o olhar por um momento, deixando as mãos deslizarem por seus cachos loiros e enrolando as mechas onduladas nas pontas dos dedos. Gostava de quando ela fazia isso, de senti-la mexendo delicadamente em seu cabelo como costumava fazer quando namoravam.

— Talvez. Onyx foi o recomeço que eu precisava, antes eu me sentia sufocada, perdida e cheguei aqui em um estado de fragilidade emocional que deixou claro que eu precisava mudar se quisesse melhorar. Eu senti e sinto falta da minha vida antiga, imagino onde estaria agora se mudasse minhas escolhas, mas nunca quereria voltar a ser aquela Elisa de antes — disse, por fim. Clarissa entendia tudo aquilo. Fizera coisas ali que nunca julgara ser capaz de fazer, estava finalmente vivendo e não lendo alguma aventura e se abstendo das próprias decisões. Deixara de ser a garota que lia sobre lutas para finalmente lutar. — Voltar seria ótimo, mas ter minha antiga vida de volta... Eu teria de abrir mão de tudo o que eu sou agora e não quero voltar a ser aquela outra garota. — Outra garota. Não era um exagero de Elisa, Clarissa ficava cada vez mais surpresa e encantada ao ver essa versão mais autoconfiante, empoderada e aberta da ruiva. Aquela outra garota havia desaparecido, a garota fechada e frágil, a garota que dependia dos outros para se sentir bem.

Ela havia perdido muitas coisas ao estar ali agora, mas era como havia dito, aquele lugar representava recomeço. Talvez devesse tentar isso antes de tomar uma decisão.

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Acabaram adormecendo no meio de alguma poesia que Clarissa lia. Ficaram um bom tempo ali, os corpos entrelaçados no sofá enquanto a loira lia os poemas em uma voz suave, suas palavras perdendo-se no meio do silêncio da biblioteca.

Ficaram só as duas, o sofá, os corpos entrelaçados e a voz de Clarissa recitando as palavras bonitas do poema. Quando acordou, tempo depois, Elisa ainda estava adormecida com a cabeça em seu ombro, os braços em volta de sua cintura e os cabelos ruivos espalhados em seu peito, mesclando-se com os cachinhos loiros.

Por alguns segundos apenas fechou os olhos novamente, sentindo os braços entrelaçados, as correntes de energia que pareciam transbordar de Elisa. O brilho dourado era muito mais intenso quando ela dormia, como uma aura incandescente que formigava e esquentava tudo ao seu redor.

Ela realmente tinha razão, aquilo equilibrava e recarregava as energias.

Depois de algum tempo, sentiu a mão dela apertando a sua, a ruiva se revirando e ajeitando-se ao seu lado, mas continuou deitada. Clarissa abriu os olhos para encará-la, sorrindo ao deslizar as mãos pelas mechas longas dela.

Delírio | Criaturas CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora