Como Um Perfume | Capítulo Trinta

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Elisa percebeu que a biblioteca se parecia como uma sala de reuniões para aquele grupo. Tinham salas próprias para aquilo, com mesas redondas, cadeiras confortáveis e grandes vitrais coloridos, mas eles preferiam o conforto da biblioteca com suas salas de leitura discretas e escondidas.

Demorou um pouco para encontrá-los. Lena, Clarissa e Kenan estavam em um dos cantos cheios de sofás, almofadas e poltronas coloridas. Parecia mais um lugar de descanso, sem as mesas organizadas com as quais se acostumara.

Clarissa foi a primeira que levantou o olhar quando a viu chegar e depois Lena, que a encarou com curiosidade. A loira estreitou os olhos, como se estivesse a analisando ou confusa com algo em sua aparência.

Elisa estranhou. Clarissa nunca tinha reagido assim quando lhe via, mas agora lhe encarava com os olhos semicerrados e as sobrancelhas franzidas.

— Onde esteve todo este tempo? — Lena perguntou, surpresa ao vê-la ali. Elisa não tinha reparado que havia passado tanto tempo assim com Asmodeus, não queria chamar a atenção deles.

— Só... precisava de espaço — confessou, o que não era exatamente mentira. Estava de fato se sentindo sufocada, esmagada por todas as expectativas e não podia culpá-los por isso, sabia que não faziam por mal.

— O que estava fazendo com Asmodeus? — Clarissa perguntou, de um modo tão direto que espantou a ruiva. Elisa hesitou, confusa. Tinha certeza de que não havia ninguém no corredor quando foram para o quarto, a loira havia dito que estaria com Lena, então não poderia ter lhe visto.

Kenan e Lena também estavam confusos, alternando os olhares de Clarissa para Elisa.

— Como você...

— A energia dele. Está em tudo ao seu redor, como um perfume ou... — Para alguém tão pequena e delicada, Clarissa parecia extremamente assustadora quando estava com raiva. Ela deixou o livro que tinha em mãos de lado ao levantar-se, e Elisa não soube como responder, o silêncio deixou a loira ainda mais irritada e incrédula.

Quando a garota se virou, afastando-se, Elisa estava perplexa demais para ir atrás dela.

Clarissa evitou olhar para trás quando foi em direção às estantes, não queria ver a energia circulando Elisa, rodeando tudo ao seu redor como uma nuvem suave e fria, obscurecendo-a.

— Clarissa... — chamou a ruiva, mas já havia se afastado o suficiente para abafar sua voz. Lena se levantou para segui-la, mas Kenan puxou seu braço antes que ela pudesse correr atrás da loira, encarando-a com um olhar preocupado.

— Não pode correr o risco de alguém vê-la, eu vou — disse e então se virou para ir atrás de Clarissa.

A loira acelerou os passos quando passou pelos livros e quase desejou que as grandes estantes lhe engolissem, que lhe fizessem desaparecer. Torceu para não se perder e sentiu-se aliviada quando viu a saída da biblioteca, quase jogando-se para fora das portas duplas. Só percebeu Kenan quando já estava fora do lugar, quase descendo as escadarias de mármores. Foi quando se virou e o viu, a seguindo pelo corredor e levantando as sobrancelhas de um modo inquisidor, como se ela devesse alguma explicação.

— Se eu pudesse vomitar, juro que estaria vomitando neste momento — murmurou, recostando-se contra o corrimão cheio de folhagens verdes entrelaçadas. Pela face pálida da menina e a expressão de nojo, Kenan não podia duvidar.

— O que houve lá? — indagou, e Clarissa mantinha os lábios pressionados, as mãos apertando a madeira do corrimão e esmagando algumas flores que se abriam ali. Seus olhos estavam obscurecidos, quase brilhando em lágrimas.

— Você não viu? A energia dele estava ao redor dela! — A voz alterada não surpreendeu Kenan, mas ele mantinha uma expressão compreensiva, quase como se sentisse muito por ela.

Delírio | Criaturas CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora