Saber Quem Sou | Capítulo Vinte e Oito

128 22 13
                                    

Elisa andava de um lado para o outro quando os encontraram na biblioteca, Kenan estava sentado no sofá, observando a menina em silêncio. Os cabelos ruivos de Elisa voavam ao seu redor, um lembrete claro da fúria crescente da menina. Clarissa se assustou quando viu olhos castanhos, não os dourados com os quais se acostumara.

Calma? Você quer que eu fique calma? — indagou ela, com uma risada amarga. A aura de poder e nobreza parecia ter desaparecido, ela passara da princesa querubim para algo parecido com uma adolescente revoltada. — Eu não quero ficar calma! Eu quero minhas memórias, quero saber quem sou, eu... — Clarissa sentiu um aperto na garganta quando se aproximou, abraçando o próprio corpo. Nem mesmo todas as estantes e livros conseguiam deixá-la mais confortável e se encolheu no sobretudo que usava, como se estivesse com frio.

Colocara o casaco por cima do vestido, não queria perder tempo se trocando naquele momento, não depois que Lucas lhe explicara a situação. Não havia acreditado até aquele momento.

— Liz? — murmurou, hesitante ao lhe interromper. Ela não se lembra. Nem da dimensão humana, de Onyx, de nós ou do próprio nome. Quando Clarissa perguntou se era reversível, ele respondeu que ainda não sabiam, mas estavam tentando entender o que acontecera.

Elisa se voltou para a loira, piscando com uma expressão confusa e um tanto perdida. Só queria fugir e chorar, teria feito isso se Lena e Lucas não estivessem ao seu lado, lhe dando coragem.

Lena colocou a mão em seu ombro, tentando lhe confortar.

— Você deve ser Clarissa — murmurou a ruiva, com um tom hesitante, como se estivesse com medo de errar o nome. Clarissa conteve um tremor, tentou se focar no cheiro dos livros e no ambiente familiar da biblioteca, nas flores brancas e no sofá confortável, onde costumava ler e passar tempo com Elisa

— Clarissa? — riu baixinho, tentando esconder o incômodo. A ruiva pisou, perplexa.

— Não é seu nome? — Elisa estava confusa e Clarissa balançou a cabeça de forma afirmativa. Lena se afastou e sentou-se na poltrona ao lado de Kenan, enquanto a menina continuava lhe encarando com uma expressão perdida, tentando entender tudo.

— É, mas você nunca me chamava pelo nome completo — explicou, dando de ombros. Ela sempre lhe chamava de Cass, Cassie, ou qualquer apelido amoroso, mas raramente de Clarissa.

Elisa deixou-se cair sobre o sofá com a mandíbula tensionada, fixando o olhar no teto e deixando-o se perder nas pinturas. Mesmo sem a aura dourada lhe envolvendo, ela ainda parecia uma das pinturas angelicais, quase podia lhe ver entre os desenhos do teto, os cabelos ruivos como fogo e as asas se estendendo, afiadas e imponentes.

— Me desculpe, eu só... — disse Elisa, engolindo a seco. Clarissa sentou-se ao seu lado, mantendo o olhar nas grandes estantes e observando as fileiras de livros impecavelmente limpas e organizadas, as mesinhas de madeira distribuídas igualmente no pequeno salão de leitura e as flores enfeitando os vasos em seu centro. — É frustrante — declarou, sem saber como explicar melhor. A loira podia entende. Era quase o mesmo sentimento que tinha quando tentava se lembrar do que acontecera depois de cair no portal, quando encarava aquela nuvem embaçada de memórias sem conseguir encontrar nada.

Clarissa tentou colocar a mão sobre a dela, para confortá-la, mas Elisa recuou. Foi como um soco no estômago, mesmo que estivesse tentando ser compreensiva e lembrar-se de que ela não se lembrava de toda a intimidade que tinham.

— Podemos consertar isso — murmurou Clarissa, sem saber o que dizer. Todos trocavam olhares preocupados, Lucas continuava em pé, apoiado em uma das estantes, enquanto Kenan e Lena continuavam sentados e encaravam Elisa com os maxilares tensionados, os olhos preocupados.

Delírio | Criaturas CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora