— Eu vou matá-la — disse, quando Lucas apareceu no corredor. Havia começado a odiar aquelas paredes cinzentas e as grades de luz violeta. Passara as últimas horas completamente entediada e enraivecida, pensando em como havia sido ingênua o suficiente para achar que Lynn estava simplesmente lhe provocando e não manipulando.
— Você não pode fazer isso — respondeu ele, tentando conter uma risada. A luz violeta das grades contornava sua pele e reluzia nos olhos claros, criando um degradê que se destacava em suas roupas brancas.
— Vou ressuscitá-la e então matá-la — corrigiu, revirando os olhos. Lucas levantou as sobrancelhas e se recostou na parede, cruzando os braços com certo desdém.
— Ótimo plano, mas não resolveria seus problemas — comentou e Clarissa apenas deu de ombros, indiferente. Estava encolhida em um canto daquele lugar cinzento desde que Arthur lhe colocara ali, esperando que alguém aparecesse, esperando que Elisa aparecesse. Ela não dera nenhum sinal.
— Não, mas me deixaria satisfeita — retrucou, o tom deixando claro o mau humor.
— É por isso, Cass, que você não pode acusar a vice-comandante do exército sem provas — disse ele, desta vez os olhos caindo sobre si de maneira preocupada e tensa. O sorriso e o tom de brincadeira haviam desaparecido, substituídos por uma seriedade que lhe fez se remexer, desconfortável.
— É, aprendi a lição. Não acho que Lynn tenha te visto ou saiba que você estava lá também, então ainda tem alguma chance — murmurou, levantando o olhar e encarando o teto, tão cinzento e sem graça quanto tudo ali. Lucas de fato havia lhe avisado que enfrentar Lynn dessa forma seria má ideia. Ele estava certo, afinal. — O que acontece agora? — questionou, voltando a encará-lo e fingindo estar calma, mesmo quando sentia que poderia começar a chorar e gritar novamente.
— Haverá um julgamento, precisarão apresentar provas. Você estava conosco e tem tanto eu quanto Elisa como álibi, então podem te acusar no máximo de ser cúmplice de algum querubim, não ter praticado o crime em si — explicou e a loira franziu as sobrancelhas, confusa. Sabia que haveria um julgamento, que provavelmente haveria dois lados contra argumentando e não tinha dúvidas de que enfrentaria Lynn, mas não esperava ser acusada de cúmplice.
— Cúmplice? — Piscou duas vezes, tentando conectar as coisas. Lucas assentiu lentamente, Clarissa não sabia se aquilo era melhor ou pior.
— A teoria é que você tem ajudado algum querubim — disse ele, dando de ombros.
— Que ótimo — murmurou, passando as mãos pelos cabelos loiros e fechando os olhos, deixando-se deslizar e afundar na cama. Parecia realmente desanimada e cansada, como se houvesse desistido de tentar se provar inocente.
— Ei, não fique assim, eu trouxe livros — disse ele, tentando animá-la e a menina não conseguiu conter um sorriso quando reparou que ele realmente trazia alguns livros nos braços e a loira se levantou, aproximando-se para pegá-los entre a grade que vibrava energia.
— Obrigada. — Aquilo acabaria com seu tédio por algum tempo e evitaria que se destruísse com os próprios pensamentos. Era realmente gentil da parte dele. — Viu Elisa? — indagou, tentando não soar tão ansiosa quando organizou a pequena pilha de livros entre os braços.
— Não, não a vi. Achei que ela estivesse aqui — respondeu, fazendo algo dentro de Clarissa se apertar. Ela não havia aparecido e nem dado qualquer notícia, Clarissa não conseguia tirar da mente seus passos rápidos e seu olhar vazio, o modo como havia batido a porta com força.
— Você acha que ela acredita em mim? — perguntou, baixinho e desviou o olhar com uma expressão quase melancólica. Se Elisa não acreditasse, então tudo aquilo fora em vão.
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Delírio | Criaturas Celestiais
Fantasy•Criaturas Celestiais | Livro Um• "Garotas mortas ainda podem amar." Muitos consideram a morte como um descanso, um fim tranquilo depois de uma vida agitada, mas a morte foi apenas o começo das complicações para Clarissa. Quando Clarissa Byers...