Deixe Cicatrizar | Capítulo Dezesseis

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O quarto de Elisa pareceria o mesmo se não fosse pelas velas espalhadas, incontáveis velas grossas apoiadas em todos os lugares possíveis e contrastando com o lugar extremamente organizado e cheio de detalhes cor-de-rosa.

Lucas estava sentado no chão e se levantou quando eles abriram a porta, com cuidado para não derrubar nenhuma vela. Clarissa arregalou os olhos.

Elisa estava na cama e parecia inconsciente, os cabelos ruivos espalhados pelo travesseiro e os olhos fechados. Ela se revirava e murmurava de forma inaudível, como se estivesse presa em um sonho ou alguma espécie de pesadelo, o que fez Clarissa sentir um bolo na garganta e o desespero bater como uma pancada fria em seu peito.

— Finalmente vocês chegaram — constatou Lucas, com certo alívio na voz. A loira não hesitou ao correr para o lado de Elisa, desviando das velas até que pudesse se sentar no colchão e segurar a mão da ruiva. Queria chamá-la, acordá-la de alguma forma, mas ela parecia totalmente imersa naquele estado de delírio permanente.

— O que houve? — perguntou, sentindo a voz sumir no meio do desespero. O dossel da cama a envolvia como uma princesa adormecida, ela continuava murmurando coisas que não conseguia compreender e finalmente Clarissa viu, por causa da manga abaixada da blusa, o que pareciam ser cicatrizes em seu ombro.

Parecia uma espécie de queimadura, uma queimadura em forma de raízes, como se essas raízes fossem tóxicas e estivessem sugando aos poucos a energia. Toda a aura dourada e poderosa que a rondava não parecia mais estar ali, só via certos resquícios e lapsos de luz, que logo se apagavam como uma lâmpada com mal contato.

— Longa história, vamos resolver isso e depois te explicamos — disse Kenan, de forma prática e sem chances para contestação. Ele e Lucas se posicionaram em lados contrários da cama, sentados entre as velas. A loira permaneceu com a mão entrelaçada na de Elisa, que se revirava na cama sem parar. — Temos um modo de desintoxicar toda a energia antes que ela se torne corrosiva e deixe sequelas, mas precisa ser rápido — explicou, o que só aumentou o nervosismo de Clarissa. Elisa parecia frágil e incapaz de sair daquele estado delirante. Percebeu que sua mão estava fria, o que era extremamente estranho.

Não havia temperatura, não havia um corpo biológico para isso, apenas espectral. Toda a sensação de calor vinha da energia e se agora ela estava fria como gelo...

— Posso ajudar? — indagou, sabendo que provavelmente a resposta seria negativa. Precisava tentar, queria ajudar de qualquer modo que pudesse e, mais uma vez, encarou as velas espalhadas por todos os lugares, ainda apagadas.

— Segure-a — disse Lucas, parecendo tenso quando fitou Elisa na cama. Clarissa franziu as sobrancelhas com preocupação, apertando a mão da ruiva com mais força, como se pudesse protegê-la.

— Por quê? — indagou, sem saber se queria ouvir a resposta. Kenan e Lucas trocaram olhares intensos.

— Isso vai doer. Doer como o inferno — respondeu Kenan, por fim e a loira estremeceu, olhando para Elisa como se pudesse protegê-la. Kenan e Lucas se encararam mais uma vez, Lucas fez um sinal afirmativo com a cabeça, como se indicando que poderiam começar e então a voz dos dois tomou o quarto, uma língua estranha que não conhecia.

Estava tão absorta tentando entender qual língua eles falavam que nem percebeu que as velas se acenderam, as chamas eram arroxeadas e balançavam no ar, dançando no mesmo ritmo das palavras. Sentiu a energia ficar mais densa, um calafrio tomando conta de seu corpo quando se voltou para Elisa.

A língua que eles usavam parecia ser própria dos querubins e mesmo sem entendê-la suas palavras lhe assustavam.

Foi quando Elisa se revirou com mais força na cama, fazendo uma careta de dor e Clarissa inclinou-se sobre ela, segurando seu braço. As palavras de Lucas e Kenan giravam no ar ao mesmo tempo, as chamas pareciam espalhar calor para todos os cantos e tudo isso ecoava na mente da loira.

Delírio | Criaturas CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora