O escritório de Elisa era o único lugar seguro e privado o bastante para conversarem sobre o que havia acontecido.
Elisa ainda tinha um aspecto abalado, exausta enquanto andava de um lado para o outro e Kenan e Lucas a observavam, sentados nas poltronas do outro lado da mesa. Tudo ali era uma bagunça organizada, as estantes cheias de cadernos, livros, artefatos místicos e enfeites tinham uma ordem peculiar, até mesmo a mesa era ocupada por uma bagunça de folhas com anotações da ruiva e uma pilha de livros que ela havia considerado importantes.
— Então você sabia sobre Lynn? — questionou Lucas, confuso. Elisa não parou e apenas assentiu, o vestido branco flutuando ao seu redor enquanto ela se movia. Seu rosto estava banhado por uma expressão distante e pensativa, como se estivesse tentando solucionar tudo aquilo.
— Eu sabia que deveria ficar atenta depois da visão que o colar mostrou, então sim, estava buscando provas e o aviso de Clarissa me fez apurar as investigações — disse, em um tom murmurado que parecia falar mais para si mesma do que para Lucas. O brilho dourado ainda oscilava ao seu redor, pulsando de forma não totalmente recuperada e a imagem da ruiva tremeluzia, como se borrada. Parecia-se mais como uma garota fantasma de vestido branco andando de um lado para o outro, em vez da poderosa comandante do exército e de toda a nobreza que lhe cercava antes. — Lynn sempre foi confiável, ela sempre esteve ao meu lado e não sei o que mudou. Há algo ou alguém a chantageando ou a controlando, não acredito que tenha feito isso por espontânea vontade — disse, de uma forma quase determinada. Lucas tinha as sobrancelhas franzidas de maneira tensa, mas incerto e hesitante demais para rebater as palavras de Elisa e olhou para Kenan como se pedisse ajuda para lidar com aquilo.
Lynn e Elisa eram bem próximas, sabia disso. Tinham mais do que uma relação profissional e a ruiva provavelmente estava se deixando levar por todo o afeto que sentia por ela.
— Ela usou um símbolo ancestral em você, Elisa, aquilo sim foi por livre e espontânea vontade. Poderia ter deixado sequelas irreparáveis na sua energia, efeitos bem piores do que simplesmente fizeram com Lena. — Kenan estava incrédulo, Lucas sentiu um calafrio ao ouvir o nome de Lena, pensando em como era apavorante imaginar Elisa no lugar dela. Aquilo era algo grave, duvidava que fariam de novo se não fosse de extrema importância e no fundo apostava que o Concílio sabia que Clarissa não estava envolvida naquilo. Também significava que os planos para Elisa provavelmente eram outros. — Entendo que precisa permanecer próxima se quiser investigar, mas não pode confiar nela para baixar as defesas — alertou ele, de forma mais séria. Elisa parou por um momento, estremecendo. Os cabelos ruivos estavam bagunçados, mais ondulados e volumosos do que o normal, mas sem nunca perder a cor de fogo que irradiava calor por onde passava.
— Eu sei, só estou tentando entender qual a conexão... — E então a ruiva parou abruptamente, franzindo as sobrancelhas. Havia um som quebrando o silêncio, batidas regulares na madeira que pareciam vir de algum lugar atrás de si. — Estão ouvindo isso? — Virou-se para a estante, se aproximando de uma das prateleiras cheias de livros e seguindo o som. Era como se alguém estivesse batendo insistentemente no fundo de madeira, batidas regulares e cada vez mais altas que se tornaram fáceis para localizar.
— Ouvindo o quê? — Lucas estava confuso e Elisa puxou dois livros, revelando o fundo de madeira da estante. Uma cobra deslizou com rapidez, passando pelo espaço aberto entre os livros e mostrando seus dois dentes afiados quando se jogou na direção da ruiva.
Elisa foi para trás em um reflexo, as escamas esverdeadas da cobra brilharam na luz e uma onda de tontura lhe atingiu, fazendo tudo girar quando a cobra pulou da estante pelo ar. A luz aumentou tanto que fechou os olhos.
Acabou derrubando os livros no chão e tudo girou com mais força, achava que pudesse cair, mas outra pessoa lhe segurava pelo braço.
— Você está delirando, outro efeito colateral. — Era a voz de Kenan, ele lhe segurava pelo braço até recuperar o equilíbrio. Elisa piscou lentamente, deixando os sentidos se acostumarem quando encarou a estante mais uma vez e percebeu que a lombada de um dos livros era verde e cheia de detalhes. Verde como uma cobra, detalhes que lembravam as escamas.
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Delírio | Criaturas Celestiais
Fantasía•Criaturas Celestiais | Livro Um• "Garotas mortas ainda podem amar." Muitos consideram a morte como um descanso, um fim tranquilo depois de uma vida agitada, mas a morte foi apenas o começo das complicações para Clarissa. Quando Clarissa Byers...