Estrelas Mortas | Capítulo Três

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Ficou algum tempo com Lucas naquela sala e ele era paciente ao lhe ensinar a pegar a espada, tentando lhe mostrar como deveria movê-la para não quebrar o pulso ou para não deixá-la cair. Aquilo lhe distraiu enquanto conversavam e ele repetia o movimento diversas vezes para que pudesse reproduzir. Desistiram depois de um tempo, quando Clarissa decidiu que lutar com espadas realmente não era para ela.

Elisa lhes encontrou novamente na sala de espelhos depois de algum bom tempo, Lucas voltou para a biblioteca e deixou-as sozinhas para que pudessem conversar. Por algum motivo, aquilo lhe deixou nervosa e ficar sozinha com Elisa significava confrontar a própria realidade.

Ela a levou para o quarto e só foram pegar algumas coisas ali, Elisa tirou a manta cor-de-rosa do sofá branco e lhe entregou pouco antes de voltarem aos corredores para que a ruiva lhe mostrasse um lugar.

E agora a seguia pelo luxuoso local, ela segurava uma garrafa de vidro transparente com um líquido prateado e duas taças enquanto a outra mão estava entrelaçada na de Clarissa e lhe guiava pelo luxuoso salão.

Elas subiram em silêncio as escadarias de mármore branco, deixando apenas o som da água ecoar entre si quando contornaram a vegetação e o lago para adentrar um corredor. Quanto mais se afastavam da pequena cachoeira sintética, menos conseguiam ouvir o barulho da água caindo. Clarissa prestava atenção ao seu redor, buscando pistas de onde Elisa estava lhe levando.

A parede não era mais o gesso branco e impecável, fora substituído por paredes de pedra polida, que eram iluminadas por candelabros dourados cheios de velas acesas. Percebeu que as paredes eram incrustadas de ametista, dando uma coloração roxa enquanto o cristal se espalhava pela pedra polida como se tivesse raízes.

Era lindo. Tudo ali era excepcionalmente lindo.

Sobre as velas bruxuleantes e as paredes cheias de pedras translúcidas e arroxeadas, finalmente viu quando o corredor se abriu em uma entrada arredondada e sem portas, alargando-se até se tornar tão grande que Clarissa não conseguisse ver mais nada além da escuridão.

O piso de mármore foi substituído por um piso de pedra e ainda segurava a mão de Elisa enquanto ela lhe guiava pelo escuro, deixando que seu brilho dourado se destacasse na escuridão ao seguirem em frente.

Foi só quando pararam que Clarissa olhou em volta com mais atenção, arregalando os olhos. Sentia uma brisa fria jogar seus cabelos para trás, a escuridão tomando tudo ao seu redor e contornando sua pele pálida como fumaça negra.

Ficou boquiaberta quando viu estrelas cintilarem ao seu redor, centenas de estrelas. Havia paredes de pedra com grandes janelas que subiam do chão e tinham as partes superiores arqueadas, mas não parecia haver teto, pois as paredes sumiam em um degradê de escuridão e eram substituídas por um céu escuro infinito e cheio de luzes.

Um céu enorme se abria sobre elas e nunca o viu tão próximo de si. Cada estrela ali parecia a poucos centímetros de sua pele e só eram ofuscadas por uma lua cheia, que brilhava acima delas e lançava-lhes um cobertor prateado e frio.

— Isso aqui me lembra você desde a primeira vez que conheci o lugar — riu Elisa, os olhos dourados cintilando na escuridão ao encarar a face admirada da menina. Clarissa ficou sem voz, sentindo lágrimas brotarem nos olhos quando encarou toda aquela galáxia acima de si, observando a enorme lua, como se pudesse decorar cada contorno e cratera que transformava seus tons de prateado.

— É perfeito — foi a única coisa que conseguiu murmurar, sorrindo para a ruiva. Estendeu a manta rosa sobre o piso de pedra e logo elas estavam deitadas sobre o cobertor macio, observando as estrelas no teto aberto acima de si, engolidas pela escuridão esfumaçada que recaía sobre elas.

Delírio | Criaturas CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora