— Uma cachoeira? Você jura? — Lucas parecia furioso e Kenan o seguia pelo corredor, acelerando os passos para acompanhá-lo. Os cachos curtos balançavam no ar, ele nem ao menos olhava para trás para ver se Kenan estava o acompanhando. — Eu literalmente me arrisquei pelos querubins, nem mesmo concluí o treinamento e enfrentei os querubins invocados de Lynn, fechei um portal demoníaco praticamente sozinho e ajudei a lidar com a marca de Elisa. Não preciso disso, não preciso ficar passando por todos os malditos testes para provar que sou capaz e, ainda assim, não sou um querubim — completou, as palavras firmes destacando toda a fúria e irritação que sentia. Lucas passava tão rápido que as velas tremeluziam, as sombras dançavam nas paredes e também em seu rosto tenso, bem delineado.
— Lucas, só... pare de... — pediu Kenan, mas Lucas o interrompeu antes que pudesse concluir, quando finalmente estavam chegando ao corredor que levava às escadas do salão de mármore principal, onde já podia sentir o cheio de vegetação e ver o reflexo do lago artificial entre as folhas verdes.
— Eu dei duro para chegar até aqui, para deixar o passado para trás e não preciso ficar provando isso — retrucou, ainda mais irritado. Tudo estava silencioso enquanto desciam os degraus, podia ouvir a voz dele ecoando no vazio e se perdendo nos corredores, o teto transbordando luminosidade e se abrindo para uma imensidão vazia que se expandia sobre toda a estrutura de vidro que delineava a abóbada. — Aquela cachoeira foi literalmente meu último lapso de paciência, estou fora! Se ainda não sou um querubim, então talvez eu simplesmente deva seguir meu caminho, mas não vou continuar a brincadeira de provas e testes como se eu fosse algum tipo de experimento! É ridículo, desnecessário e estou exausto! Passei por tudo o que tinha de passar, não vou ficar me destruindo em nome da Conclave! — Continuava andando enquanto falavam, Kenan estava de braços cruzados e acelerou o passo para se colocar na frente dele, impedindo sua passagem quando finalmente saíram das escadas. Pararam em frente ao lago artificial, a vegetação roçando na pele dos dois e enrolando-se pelas escadarias, subindo enroscada pelo corrimão que servia de grade de proteção.
— Não, não vai, Lucas. Foi o suficiente — disse ele, com seriedade. Lucas pressionou a mandíbula, levantando uma sobrancelha com desdém, mas sem esconder a irritação. Parecia outra pessoa, todo aquele estado de calmaria e otimismo que ele geralmente mostrava havia desaparecido sobre toda a frustração.
— Agora está do meu lado? Decido desistir e você me apoia? — questionou, com uma risada amarga e apoiou a mão sobre o corrimão úmido, amassando algumas folhas verdes e deixando que outras roçassem em seu braço em um toque suave que parecia de consolação.
— Concordo plenamente, você provou que é capaz, passou pelo que tinha de passar — repetiu ele, no mesmo tom calmo que Lucas odiava. Kenan sempre reagia assim a qualquer reclamação sua e odiava que ele simplesmente permanecesse calmo. Queria que ele gritasse também, que rebatesse, que fizesse qualquer coisa que lhe permitisse extravasar os sentimentos acumulados.
— E ainda não me fez querubim — murmurou, as mãos fechadas em punhos. Não estava entendendo Kenan, aonde ele queria chegar com aquela calma e concordando com cada palavra. Podia ver os olhos dourados dele brilhando com certa ironia, os lábios rosados curvados com um sorriso enigmático. — Você realmente está admitindo que o processo é inútil? Que cheguei até aqui por nada e... — começou, mas ele não lhe deu tempo de responder, deu um passo a frente com as sobrancelhas arqueadas. Diferente das outras vezes, as sobrancelhas arqueadas não exibiam desafio, mas uma incredulidade nítida, como se Lucas tivesse falado alguma loucura ou alguma bobagem.
— Meu Deus, você pode calar a boca por um segundo? — indagou, de forma impaciente, mas estava rindo e isso o fez franzir as sobrancelhas, confuso. Estaria irritado se não estivesse simplesmente tão confuso. Do que ele estava rindo, afinal? Estava irritado e estressado, ele não podia simplesmente rir disso.
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Delírio | Criaturas Celestiais
Fantasía•Criaturas Celestiais | Livro Um• "Garotas mortas ainda podem amar." Muitos consideram a morte como um descanso, um fim tranquilo depois de uma vida agitada, mas a morte foi apenas o começo das complicações para Clarissa. Quando Clarissa Byers...