Estava com as mãos ao redor do pescoço de Rafael, por isso empurrou a porta com o pé quando passaram por ela. Elisa riu e usou os calcanhares para tirar as sandálias de salto, ficando descalça e deixando os sapatos desconfortáveis jogados no chão do quarto, espalhados perto da porta.
Caíram lado a lado na cama, o vestido longo que ela usava se espalhou pelo colchão e suas lantejoulas cintilaram no local mal iluminado. As mechas ruivas se iluminaram como fogo e ele se afastou do beijo apenas o suficiente para encará-la com seus olhos azuis vibrantes.
— Casa comigo? — perguntou e o modo sério com que ele a encarou fez Elisa estremecer. Não soube exatamente o que fez tudo dentro de si se revirar, mas não foi uma sensação boa e todo aquele enjoo piorou quando Rafael tirou a caixinha de veludo do bolso do casaco que usava.
— Eu... — murmurou, sem entender exatamente o que estava acontecendo e sem saber de onde vinha toda aquela hesitação. Em qualquer outro dia, diria sim sem hesitar, não precisaria pensar a resposta, mas agora tudo aquilo parecia errado, algo dentro de si disparava um alarme, avisando-a de que tudo aquilo era muito estranho.
— Lisa? — chamou Rafael, fazendo com que ela percebesse que estava há muito tempo em silêncio. Elisa sentiu-se culpada ao perceber que devia estar com uma expressão horrorizada no rosto e não pôde evitar o pânico enquanto encarava os anéis.
— Preciso tirar minha maquiagem — disse, se afastando dele e correndo até o banheiro do quarto antes que Rafael pudesse falar mais alguma coisa. Fechou a porta atrás de si e apoiou as costas nela, deslizando até o chão, sem saber o que pensar.
Não entendia o motivo de tudo aquilo parecer tão errado, mas sabia que, de algum modo, como uma forte intuição, nada daquilo deveria acontecer.
Elisa tremia quando se levantou, ligando a torneira. A maquiagem borrou quando jogou água fria no rosto, se afastando quando suas mãos ficaram gélidas. Não se lembrava de quando havia esfriado tanto, mas agora tremia de leve no vestido fino e dobrava os braços em volta do corpo para tentar se aquecer.
A pequena janela do banheiro estava fechada, não havia motivo para tanto frio.
Limpou a maquiagem borrada, tentando se acalmar e finalmente saiu do banheiro depois de escovar os dentes e trocar o vestido por uma roupa confortável. Ele estava sentado na cama quando voltou para o quarto, os dois se encararam em silêncio por alguns segundos.
Foi desconfortável. Nunca se sentia desconfortável com Rafael, mas só queria desaparecer naquele momento.
— Quer falar sobre o que aconteceu? — indagou ele, fazendo-a se encolher. Elisa negou com a cabeça e foi para a cama, puxando as cobertas enquanto se ajeitava, evitando o olhar desconcertado e confuso de Rafael.
— Me desculpe, eu... — Entrei em pânico? Sinto que tudo isso é errado? Algo me diz que nada disso deveria estar acontecendo? — Só não tenho uma resposta — improvisou, desconfortável. Ele não respondeu, as coisas ficaram estranhas pelo resto da noite, Rafael se deitou de costas para ela e eles não trocaram mais nenhuma palavra. Mesmo debaixo das cobertas, Elisa se encolhia e tremia de frio, a sensação de que estava congelando não passou mesmo quando Rafael lhe abraçou, apenas piorou.
Depois de horas ali, sem conseguir dormir, resolveu se levantar. Pegou as chaves do carro e torceu para que não tivesse acordado Rafael enquanto se afastava e o carro ganhava as ruas.
A cidade estava estranha. Não havia movimento ou qualquer barulho, não havia outros carros, pedestres ou música de bares e restaurantes. Nada. San Francisco se transformara em uma cidade-fantasma.
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Delírio | Criaturas Celestiais
Fantasy•Criaturas Celestiais | Livro Um• "Garotas mortas ainda podem amar." Muitos consideram a morte como um descanso, um fim tranquilo depois de uma vida agitada, mas a morte foi apenas o começo das complicações para Clarissa. Quando Clarissa Byers...