— Você está bem — disse Elisa, como uma afirmação e Lena confirmou com a cabeça, ainda abraçada com ela. Sentia-se aliviada, zonza, confusa e presa em uma onda de torpor que cortava sua linha de raciocínio.
Lucas encarava tudo de forma embasbacada, pareceu ainda mais incrédulo quando Elisa falseou nos braços de Lena. A segurou com mais firmeza, deitando-a no chão quando a ruiva caiu novamente contra si. Ela estava desacordada quando Lena inclinou-se sobre a menina com os olhos arregalados.
— O que aconteceu? — questionou, e sua voz saiu horrivelmente engasgada e baixa. Elisa parecia pálida e delicada, deitada sobre o chão como uma princesa adormecida e indefesa. As coisas giravam ao seu redor, estava tudo tão borrado que não sabia dizer se pelas lágrimas ou pelos sentidos entorpecidos.
Não soube exatamente como aconteceu, mas logo Lucas estava a seu lado, lhe perguntando algo enquanto Kenan se abaixava ao lado de Elisa. Não conseguia compreender suas palavras, sua voz parecia longínqua e bagunçada demais e estava paralisada ao olhar para Kenan, que dobrou a barra da blusa de Elisa e revelou um corte rodeado de hematomas manchando sua pele clara.
Mais lágrimas escorreram em seu rosto, Lucas lhe abraçou e Lena deixou-se afundar em seu peito quando o abraçou de volta, entre as lágrimas e o sentimento de torpor que parecia lhe corroer por dentro.
« ♡ »
Elisa demorou um pouco para reconhecer o local onde estava quando acordou. Revirou-se na cama e topou com plantas e cristais espalhados, o cheiro suave e incenso flutuava ao seu redor como um doce perfume.
Lena. Estava no quarto de Lena e provavelmente deitada em sua cama. Confirmou isso quando viu um cristal translúcido levitando pouco acima de si, pairando sobre o machucado provocado pela adaga e provavelmente acelerando a cura.
Pegou o cristal com cuidado e colocou-o de lado para conseguir se sentar.
Desviou o olhar e viu Lena sentada em uma poltrona verde-musgo, as pernas encolhidas e as mãos fechadas em volta de algo. Ela parecia uma criança encolhida daquele jeito, seus traços finos e delicados lembravam os de Clarissa, tão pequena e indefesa que parecia realmente infantil.
— Seus olhos — suspirou Elisa, com um tom aflito. Os lábios de Lena se comprimiram por alguns segundos, seus olhos castanhos cintilaram com a luz de uma das velas que estavam acesas ao seu redor. Olhos castanhos, não dourados.
— Eu sei — murmurou, com um sorriso fraco —, felizmente, só preciso reaver meus poderes, não se preocupe comigo — disse, parecendo realmente cansada e distante. Não parecia a mesma garota corajosa e encantadora que conhecera, aquela mesma garota invencível com uma espada.
— Como tudo aquilo aconteceu? — indagou, tentando se sentar. Uma repentina dor lhe fez parar e Lena se levantou para ajudá-la.
Elisa quase suspirou mais uma vez. Lynn realmente a atingira com a adaga, não conseguia se livrar daquele ferimento tão rápido. Não sangrava como um ferimento humano, mas era uma cicatriz que certamente lhe afetaria, havia simplesmente apagado ao usar boa parte de sua energia para resgatar Lena.
— Ainda não falei com Kenan e Lucas, precisava descansar, então, você primeiro — pediu, enquanto ajudava Elisa a se arrumar contra as almofadas e sentava-se ao seu lado na cama. Elisa baixou o olhar e imaginou por onde deveria começar.
Ajeitaram-se lado a lado na cama e então contou sobre os problemas no exército, sobre Clarissa, sobre a adaga e a pulseira, o julgamento, Lynn e toda a conspiração que vinha fazendo. Falou sobre suas dúvidas e como nada se interligava.
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Delírio | Criaturas Celestiais
Fantasia•Criaturas Celestiais | Livro Um• "Garotas mortas ainda podem amar." Muitos consideram a morte como um descanso, um fim tranquilo depois de uma vida agitada, mas a morte foi apenas o começo das complicações para Clarissa. Quando Clarissa Byers...