Sinos Do Inferno | Capítulo Vinte E Seis

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Depois de horas relembrando a conversa dos dois, Elisa teve uma epifania.

O colar. Rafael, ou Mamon, havia comentado sobre um colar e estava insatisfeito com a possibilidade de Asmodeus tê-lo em mãos. Não conseguiu deixar de pensar no colar que aparecera em seu bolso depois que conhecera Asmodeus e lembrou-se da sensação de calor e energia que vinha dele. Era uma sensação boa, cheia de vitalidade.

Quando teve certeza de que Rafael não estava em casa, seguiu para o banheiro. Seu casaco estava pendurado em um gancho atrás da porta e o colar ainda estava em seu bolso. Enfiou a mão lá, sentiu o cristal quente e seu toque vibrante.

Deixou que o pingente balançasse e cintilasse na luz, observando-o com atenção. O que Rafael via de tão importante naquele pingente? Por que estava tão furioso sobre aquilo e qual sua relação com Asmodeus?

Envolveu a pedra entre os dedos, esperando sentir seu calor. Sua pele formigou, o usual toque reconfortante lhe fazendo sentir-se melhor e mais lúcida. Apertou a pedra com força, sentindo as pontas do cristal adentrarem sua pele. Não sentia dor e aquilo era estranho. Sentia a pressão, mas não dor.

Se encarou no espelho e, por um segundo, os olhos castanhos e sem vida brilharam em um lapso dourado, os cabelos ruivos flutuaram levemente ao seu redor, com uma leve brisa que não sabia de onde surgira.

Quando baixou o olhar, o cristal brilhava como uma pequena estrela e refletia como o sol, ardendo em calor. Não a queimava, mas a aquecia e a invadia com uma vitalidade que nem sabia que sentia tanta falta.

Foi quando a cabeça latejou e uma onda de tontura veio com uma avalanche de memórias, as cenas passando em sua frente como um filme de romance e horror. Sentiu que poderia desabar, as pernas falsearam antes que tivesse a chance de se apoiar na pia e só conseguia pensar em segurar firme o colar, em absorver toda a sua luz.

Aquilo só fez tudo piorar e fechou os olhos, esperando a sensação passar.

« ♡ »

Estava caída no chão do banheiro quando recobrou os sentidos e sentiu o piso frio contra a pele ardente. Foi lento se ajustar aos sentidos humanos, mas se sentia energizada e lúcida quando se levantou. Os olhos dourados brilhavam, furiosos como um incêndio e Elisa colocou o colar de citrino no pescoço antes de sair do banheiro.

Procurou por Mamon, logo percebeu que estava sozinha em casa. Pensou em pegar alguma faca na cozinha, mas aquilo seria risível contra qualquer demônio.

Onde estava seu uniforme? As lâminas que trouxera com ele? Procurou por todo o guarda-roupas, mas sabia que Mamon não seria estúpido o suficiente para deixar suas armas acessíveis e não achou mais nada que pudesse lhe ajudar ali, então seguiu direto para o carro.

Acelerou, ultrapassando todos os limites de velocidade e quase bateu várias vezes para chegar à boate. Ficou imaginando se os outros carros seriam de verdade ou apenas ilusões, ouviu buzinas altas por todo o trajeto. As portas da boate estavam abertas quando saiu do carro, apesar de ser de manhã e desceu as escadarias pulando os degraus, sem tempo para raciocinar.

— Como posso aju... — começou a barista, a mesma que havia visto no outro dia e Elisa ergueu a mão, fazendo-a parar de falar no mesmo momento. Ele levou a mão até a garganta como se tivesse engasgando e um ponto iluminado brilhava em seu pescoço como uma gargantilha, um pequeno foco do poder da ruiva.

— Ah, cale a boca — murmurou, sem ter certeza se sua voz podia ser ouvida por cima da música que ecoava no local. O lugar estava escuro, apesar de tudo, e as luzes piscavam ao ritmo de Hells Bells enquanto o vocalista do ACDC bradava algo sobre Satanás arrastando pessoas para o inferno. Irônico.

Delírio | Criaturas CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora