Clarissa percebeu que, com o passar do tempo, o desenho de lua em seu pulso ia diminuindo, como se estivesse observando a lua em seu ciclo no céu e isso se tornou o melhor marcador de tempo que tinha, já que passava dois ou três dias diretos sem sentir necessidade de dormir e sempre se perdia na contagem.
Aquilo lhe deixava ansiosa, ver o desenho diminuindo só lhe lembrava que precisava tomar uma decisão. Se tornar querubim parecia algo assustador e grandioso demais, mas que escolha tinha? Seguir em frente para seja lá onde os mortos ficavam? Sentia-se em pânico só de encarar isso sem Elisa, Lena e Lucas do lado.
Passava muito tempo com Lena e Lucas, percebeu que eles estavam sempre juntos, isso explicava a intimidade que pareciam ter quando se encontraram no salão de treinamento e logo os três ficaram quase que inseparáveis.
Isso lhe fazia se sentir um pouco melhor quando ficava sozinha no próprio quarto, quando encarava a lua dourada gravada em sua pele e diminuindo em uma contagem regressiva. Ela estava pela metade agora, prestes a entrar no quarto minguante e brilhando em dourado.
Depois disso, precisaria escolher entre assumir funções como querubim ou seguir em frente. Mas continuava explorando Onyx com Elisa, que praticamente toda noite, quando estava livre das obrigações, lhe levava para um lugar diferente e a fazia se apaixonar cada vez mais por aqueles corredores de mármore e as surpresas que eles guardavam.
E sempre que Elisa pegava sua mão para lhe mostrar algum lugar, exatamente como estava fazendo agora, as preocupações e ansiedades sumiam de sua mente para que só prestasse atenção nela, em seu sorriso e em seus cabelos ruivos que ondulavam em uma maré de dourado.
Não se importava com o desenho dourado quando Elisa lhe conduzia pelos corredores e sua mão lançava correntes de energia em sua pele, um pulsar quente ao qual havia começado a se acostumar. E agora Clarissa olhava em volta, buscando alguma pista sobre onde a ruiva lhe levava.
Havia paredes de pedra bruta e trepadeiras subiam por elas, criando um muro verde e florido. Tudo ali tinha um cheiro doce, um aroma que vinha das flores vermelhas crescendo dentre o verde das trepadeiras e colorindo a parede acinzentada de pedra.
Elisa lhe guiou até duas portas grossas de madeira, pintadas em um verde-claro e cheia de detalhes elegantes em prateado. Quando ela empurrou as duas portas, Clarissa primeiro viu o ondular da água e as paredes cobertas de plantas, assim como o teto abobadado parecia ser de vidro, ou de um material transparente que transbordava uma luz branca e esfumaçada, filtrada pelas folhas.
O piso era de pedra e Elisa foi em frente, Clarissa ficou parada, admirando o teto abobadado e as paredes cobertas de flores iluminadas pelo teto transparente, lembrando uma estufa. Tudo ali tinha cheiro de frescor e o piso de pedra se abria para uma piscina natural de água cristalina, que ondulava e cintilava de forma provocativa e chamativa.
Elisa riu quando viu a expressão admirada dela, observando as flores vermelhas e toda a vivacidade no local. Clarissa adentrou a estufa e as portas bateram atrás de si, deixou as sapatilhas de lado para ficar descalça no piso de pedra rústica ao se aproximar da ruiva.
Elisa puxou o vestido curto do corpo e ficou apenas com as roupas intímas, deixando que as longas mechas douradas caíssem como cascatas em suas costas e ardessem como fogo contra sua pele pálida.
Elas haviam passado muito tempo juntas desde que chegara ali, muitas noites rindo e conversando. Era como se lembrar daquela Elisa alegre, cheia de energia e viva de anos atrás, antes de todo o drama sobrenatural engoli-la e sufocá-la como uma onda. Gostava desta nova versão mais confiante e madura, cheia de poder e ciente disso.
Agora a observava mergulhar na água, desaparecendo em apenas um vulto dentro da piscina cristalina. Clarissa sorriu e tirou a própria roupa também, deixando-a cair ao lado da de Elisa no piso de pedra e ouviu a vegetação farfalhar quando avançou lentamente na direção da água.
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Delírio | Criaturas Celestiais
Fantasia•Criaturas Celestiais | Livro Um• "Garotas mortas ainda podem amar." Muitos consideram a morte como um descanso, um fim tranquilo depois de uma vida agitada, mas a morte foi apenas o começo das complicações para Clarissa. Quando Clarissa Byers...