— Eu posso ajudar Lynn, libertá-la do controle de Leviatã — disse Clarissa, enquanto acelerava os passos pelas escadarias. Era uma escadaria curta, cercada por um corredor claustrofóbico e branco demais.
Saltou os últimos degraus de mármore, dando de cara com dois guardas quando o fez. Arthur tomou a frente, Clarissa recuou dois passos para ficar ao lado de Elisa enquanto ele falava com os outros dois querubins em um tom apressado.
Ele tinha uma postura de comandante assim como Elisa costumava ter, o que era de se esperar, já que ele ocupava o lugar de Elisa no exército. Suas palavras foram quase como ordens, pedindo para que liberassem Lynn e explicando a situação.
Logo depois, estavam todos seguindo pelo corredor longo e cinzento. Clarissa odiava aquele lugar, se sentia sufocada e preocupada, como se aquelas paredes sem cor pudessem levar cada gota sua de ânimo e vitalidade.
Lynn levantou as sobrancelhas quando viu o pequeno grupo surgir e sorriu de modo irônico, interessada na movimentação. Pareceu surpresa quando as barras arroxeadas tremeluziram, se mesclando aos poucos no ar e a luz se apagando em um tremeluzir fraco.
Elisa percebeu que algo ondulava ao redor de Clarissa, os cabelos balançando levemente com o poder que emergia de sua pele. Havia algo diferente nela. Estava acostumada com o frio e o calor, energia angelical e demoníaca, mas a menina irradiava uma sensação de eletricidade e gelo, chamas que queimavam, mas eram frias o suficiente para matar.
Os dois guardas estavam um em cada lado da cela, mas foi Clarissa quem avançou para adentrar ali. Lynn abriu os lábios para falar, mas a loira levantou a mão antes disso, lhe interrompendo. A menina brilhava com uma luminosidade roxa incandescente, crescendo como chamas ao seu redor e lhe rodeando como um pequeno tornado.
Lynn lhe encarou com espanto e recuou, cambaleando para trás. Foi tarde demais, pois a luz vinda de Clarissa tomava todo o local e pintava as paredes cinzentas de um roxo azulado, fazendo as sombras dançarem de forma amedrontadora.
Viu quando tudo aquilo foi na direção de Lynn, a luminosidade a atingindo como uma onda de fogo quente. A garota gritou, tentando desviar, mas não conseguiu se libertar do túnel de luz que Clarissa formava ao seu redor e se solidificava aos poucos, prendendo-a em um tubo de energia violeta.
Elisa e Arthur observavam tudo com espanto, os olhos arregalados, Asmodeus tinha um pequeno sorriso no rosto. Lynn se contorceu e foi levantada no ar, as mechas escuras de seu cabelo serpenteando na pele pálida quando a cabeça se inclinou para trás e seus pés flutuaram, ela se curvou para trás.
Todos viram quando a névoa escura surgiu ao seu redor, como se estivesse saindo de seu peito e se externalizando. Ela gritou de dor e se contorceu no ar, Clarissa permaneceu estática e nem ao menos piscou, parecia em um estado de transe.
A nuvem escura se condensou como uma tempestade no meio da luminosidade roxa, Lynn continuava flutuando no meio daquele jogo de luz, sua face e contorcida tomada de luz e sombras. Finalmente a névoa fria se dissipou como se alguém a houvesse soprado, se misturando no roxo até desaparecer completamente entre as paredes azuladas.
Por um segundo, tudo se silenciou quando a luz roxa recuou para Clarissa, deslizando pelas paredes cinzentas e rastejando pelo piso de mármore até ela, como fios de energia sendo puxados para seu corpo. Lynn, que até então pairava sobre o ar, caiu na cama de modo desamparado, como uma boneca jogada de qualquer forma.
Clarissa falseou para trás, sem forças para se manter em pé, e Elisa lhe segurou, passando os braços ao seu redor e impedindo-a de cair. Elas se encararam por um segundo, em silêncio. A loira sentiu-se zonza, sem fôlego.
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Delírio | Criaturas Celestiais
Fantasy•Criaturas Celestiais | Livro Um• "Garotas mortas ainda podem amar." Muitos consideram a morte como um descanso, um fim tranquilo depois de uma vida agitada, mas a morte foi apenas o começo das complicações para Clarissa. Quando Clarissa Byers...