A Garota Sem Alma | Capítulo Vinte e Cinco

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Você tem uma filha? — indagou Lucas, engasgando-se. Nem ele e nem Kenan conseguiam conter o choque em seus olhos arregalados.

Mudando o olhar de Lena para a garota, percebeu que elas tinham o mesmo tom de olhos e cabelos, os contornos dos lábios faziam o mesmo movimento quando entreabertos. De qualquer maneira, elas pareciam irmãs. Lena parecia muito nova, não mais de um ano mais velha do que a garota, mas ela estava congelada no tempo e a menina...

— Você está... — questionou Lena, sem conseguir conter o pavor na voz. Não conseguiu pronunciar a última palavra, deixou-a pairar no ar como um fantasma. Morta?

— Não, não estou. É só uma viagem astral — respondeu a garota, com um sorriso fraco e os olhos castanhos brilhando com certa admiração. Aquilo pareceu acalmar Lena e ela se levantou, encarando-a de forma confusa e ao mesmo tempo triste.

Pôde ver o alívio quando seus músculos relaxaram em um suspiro forçado.

— Aislinn... — murmurou, quase sem voz e a outra sorriu. Kenan e Lucas trocaram olhares, sem entender o que estava acontecendo. Lena se aproximou dela e a menina tremeluzia, tinha uma aura branca lhe envolvendo quando tocou seus cabelos castanhos e tirou-os do rosto.

Aislinn sorriu.

— Faz anos que tenho tentado falar com você — explicou, ambas com os olhares focados uma na outra. Elas eram parecidas, até mesmo a estatura era quase a mesma e a forma de Aislinn falar lembrava levemente a de Lena. — Encontrei suas coisas há alguns anos. O baralho de tarô, os cristais... Comecei a sonhar com este lugar, foi assim que descobri sobre a dimensão dos querubins, sobre você. Tenho estudado sobre projeção astral desde então, tentado chegar até aqui — completou, em um tom quase ansioso. Lucas viu como os olhos de Lena brilharam, um sorriso orgulhoso abrindo-se em seus lábios ao constatar o talento que tudo aquilo exigia.

— Meu Deus, ela é realmente sua filha — murmurou ele, sem ter como deixar de lembrar-se de seu quarto cheio de velas e cristais e comparar todo o talento que as duas possuíam.

— O colar. Deve ter conseguido a conexão com a dimensão por causa do colar — disse Lena, baixando o olhar. Ambas usavam um mesmo colar com pingente de quartzo transparente, uma corrente dourada e delicada sustentava a pedra bruta que reluzia. Eles eram iguais, como cópias. — Eu mal o tirava, te dei quando você tinha dois anos — sorriu ela, sem esconder o tom emocionado. Ambas pareciam envolvidas naquele momento de incredulidade, felicidade e orgulho, um momento tão íntimo que pareceu errado estarem no meio.

— Eu sei, mal o tirei desde então — disse a garota, sua voz não passou de um sussurro rouco. Seu sorriso derreteu em sua face, tornando-se uma expressão aflita e tensa quando encarou Lena. — Precisamos conversar, foi por isso que vim. É importante.

« ♡ »

Pediu para que os outros dois lhes deixassem conversar a sós. Logo, estavam as duas em seu quarto enquanto as velas cintilavam, sua luz refletindo-se nos cristais coloridos espalhados por todos os lugares.

Aislinn parecia impressionada, olhando ao redor como se estivesse finalmente conhecendo um lugar que só vira em fotos. Lena sorria, ainda de pé enquanto a menina permanecia sentada na poltrona de leitura no canto do quarto.

— Você me via em seus sonhos? — indagou, finalmente sentando-se na ponta da cama para ficar de frente para ela. Havia uma prateleira com livros velhos e grimórios ali ao lado, as velas acesas sombreavam as páginas amareladas e não havia nenhum grão de poeira entre tantos cristais e livros. Vantagens daquela dimensão.

— Sim — confirmou, voltando o olhar para Lena. — Você, Elisa e a garota loira. Temos energias muito semelhantes e conectadas, suponho — completou, deixando-se novamente distrair pelo lugar. Parecia pertencer àquele cômodo tanto quanto Lena, olhando com uma curiosidade ardente para todas as ervas, cristais, livros e incensos que tinha ali. — Faz alguns anos que te vejo nesta dimensão, tenho sonhos com tudo o que acontece aqui. Você é incrível, vi o que consegue fazer com as espadas e seus poderes... — começou, empolgando-se e os olhos brilharam quando abriu um sorriso, feliz. — É maravilhoso — suspirou, ainda com aquela expressão de admiração animada que se acendia como fogo em sua face. Lena sorriu e precisou controlar o nó na garganta antes que as lágrimas viessem e não pudesse impedir.

Delírio | Criaturas CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora