Passou um bom tempo na biblioteca com Lucas e aquele lugar também era imenso, o teto abobadado era todo pintado com imagens realistas, verdadeiras obras de artes que se estendiam pela abóboda com detalhes em dourado e preteado, cintilando e saltando aos olhos.
Apesar de o teto do local roubar toda a atenção, as estantes eram luxuosas e também impressionantes, se perdiam de vista de tão altas que eram, formando corredores e labirintos enquanto caminhavam pelo piso de mármore e Clarissa deixava o olhar vaguear pelas prateleiras lotadas de livros organizados com perfeição. Só conseguia pensar em como deveria ser extremamente difícil manter limpa e organizada uma biblioteca daquele tamanho.
— Você não brilha — comentou, quando se voltou para Lucas. Tanto Elisa e Lynn quanto o homem que vira na porta do quarto tinham um brilho dourado em volta de si, os olhos ondulando em chamas tão douradas que até pareciam refletir labaredas de um fogo causticante.
Mas Lucas era estranhamente normal, com seus olhos azuis acinzentados e nenhum sinal dourado ao seu redor que denunciasse algum tipo de poder angelical. Ele riu, provavelmente da forma sincera e simplória com que tinha falado sobra a aura dourada que envolvia a quase todos ali.
— Eu não sou querubim, pelo menos, não ainda — explicou, dando de ombros enquanto andavam pela biblioteca e seus olhos se perdiam nas altas estantes que formavam paredes e corredores ao seu redor. — Eles têm todo esse processo para se tornar um, algo como um preparo psicológico antes de conseguir os poderes. Todos passam por isso, mas se você falhar não há segundas chances. — Clarissa franziu as sobrancelhas, confusa ao tentar imaginar como seria todo esse processo. Elisa e Lynn não haviam comentado nada sobre isso no momento em que estavam conversando no quarto e não tivera tempo para questionar, essas perguntas nem lhe passaram pela cabeça quando acordara.
— Você é tipo... um aprendiz de querubim? — questionou e Lucas pareceu pensativo por alguns segundos, como se estivesse tentando achar palavras para responder.
— É, é tipo isso — assentiu, e Clarissa finalmente viu o corredor de estantes acabar, dando espaço a um grande salão luxuoso com mesas de pedra negra polida e sofás brancos cheios de almofadas confortáveis forradas com mantas.
Era como uma sala de leitura agradável, não como um ambiente acadêmico ou de pesquisa e até mesmo as mesas redondas tinham vasos de flores esculpidos em cima, onde botões de begônias cor-de-rosa desabrochavam e se destacavam na luz.
Foi gentil da parte dele ficar lhe fazendo companhia, lhe tirando a mente da loucura que parecia o novo mundo. Eles estavam sozinhos na biblioteca e logo estavam sentados no sofá, aconchegados entre as almofadas confortáveis enquanto Lucas lhe encarava com certa curiosidade.
— E então? Qual a sua história? — perguntou, com os olhos curiosos sobre si. Clarissa franziu as sobrancelhas, confusa enquanto ele claramente esperava uma resposta.
— Como?
— Eu estava no topo de uma cachoeira, perto da queda e escorreguei em uma pedra quando tentei pegar meu anel de noivado que tinha caído entre as rochas, bati a cabeça e fui carregado pela água. — Aquilo fez a loira ofegar com a sinceridade, ele falava em um tom casual e calmo, como se não fosse nada demais.
— Uau, isso é... — Clarissa não teve voz para completar e Lucas riu baixinho, fixando os olhos no chão com um ar distante. Não havia humor algum em seu riso, parecia mais escárnio e ironia do que qualquer outra coisa.
— Trágico? — sugeriu e Clarissa assentiu com a cabeça, sem saber como reagir e sentindo-se estranhamente desconfortável. Lucas lhe ofereceu um sorriso de consolo e conforto. — Vai descobrir que a maioria das pessoas aqui tem história assim — tranquilizou-a, fazendo Clarissa afundar nas almofadas e seu olhar se erguer até o teto, fixando-os nas pinturas detalhadas que o decorava. Eram anjos, em sua maioria e suas asas se abriam sobre o céu azul, um céu azul tão bem pintado que quase podia acreditar encarar nuvens de verdade. Será que conseguiria ver o céu dali? Existia algo fora desses corredores brancos e luxuosos?
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Delírio | Criaturas Celestiais
Fantasy•Criaturas Celestiais | Livro Um• "Garotas mortas ainda podem amar." Muitos consideram a morte como um descanso, um fim tranquilo depois de uma vida agitada, mas a morte foi apenas o começo das complicações para Clarissa. Quando Clarissa Byers...