Capítulo 31

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Luan
Eu sabia o quanto seria difícil ou até impossível fazer com que Lorena me perdoasse. Me sentia incapaz, por mais que fosse nítido o quanto eu me arrependia e sofria por tal ato. 
Ainda amava Lorena, nunca havia deixado de sentir, só esfriei, quase deixei se apagar. Estava em brasas o amor crescia, o sentia vivo em meu peito, ardente. Mas estava quebrado, meu coração estava em pedaços, a única certeza que eu tinha era que iria me curar, com ou sem ela. Por mais que com ela, a vida fosse mais bonita e alegre, não poderia depender dela para curar o que eu mesmo causei.
Poderia sim, ajudar a cura dela e o perdão. Mas o meu próprio, era comigo mesmo. Por mais que fosse doloroso e horrível, era necessário.
Era 26 de maio, quinta-feira, 2:30 da manhã, estava na cafeteria quieto e sozinho, pensando em como tudo estava uma bagunça. Dentro de mim, só havia desordem e dor.
Era o momento em que eu me ordenava a sair de lá, parar de sofrer e atrás de me perdoar, ir até a minha cura. Eu precisava entender e acreditar que era possível, ser feliz de novo. Não poderia mais me jogar e aceitar a dor, a tomar conta de mim e me controlar. Poderia pegar depressão com aquilo, o que não era brincadeira e frescura, era sério e acontecia, com qualquer pessoa.

-Pai?
-Oi – Respondi a Nicole, ao outro lado da linha.
-Estava dormindo?– Ela perguntou.
-Não filha.
-Não consigo dormir– Nicole ofegou – Posso falar com a minha mãe?
- Claro – Me pus de pé – Só um minuto.
Andei pelos corredores enorme e vazios, era frio, triste. Demorei um pouco ao chegar no quarto de Lorena, a mulher dormia, linda. Quis afagar seus cabelos de novo, tocar a sua pele e deixar que dormisse em meu peito, assim poderia sentir seu cheiro gostoso e suave, de mulher.
-Sua mãe está dormindo – Avisei Nicole, a menina resmungou do outro lado – Ela está cansada Nicole, hospital cansa.
-Quero falar com Nicole – Avisou Lorena, anunciando estar acordada.
-Achei que estivesse dormindo – Falei e olhei confuso para ela.
-Estava tentando – Ela deu de ombros – Anda logo, deixa eu falar com a minha filha – Entreguei o aparelho e a mulher sorriu – Oi filha.
-Matou a saudades? – Perguntei, quebrando o silêncio.
-Ainda não – Lorena respondeu, se ajeitando na cama – Estou com muita saudades dos meus filhos.
-Imagino – Sentei no sofá, exausto, prestes e louco para dormir.
-Não vejo a hora de sair daqui e poder ver meus filhos.
-Você vai ver eles, logo – Respondi, deitando e quase fechando os olhos.
-Onde eles estão?
-Com a minha mãe.
-Ai Luan, e se a sua mãe achar ruim?
-Minha mãe ama os netos, Lorena. Não tem como achar ruim – Lola balbuciou, remexeu na cama muitas vezes e ofegou – Está tudo bem? Está passando mal?
-Estou bem – Ela respondeu – Só com saudades.
-Vai ver as crianças assim que melhorar e os exames sair e não der nada.
-Meu medo – Lorena disse, sentei e a encarei, enquanto a mulher estava séria e encava o teto – É não sair daqui e não poder mais ver eles.
-Você vai ver eles, antes mesmo de sair daqui.
-Do que você sente falta? – Lorena indagou.
-De tanta coisa – Respondi.
-O que por exemplo?
-Fazer shows, cantar, dos meus filhos – Sorri, constrangido – E de você – Murmurei, torcendo para que ela não tivesse escutado.
Lorena arqueou o cenho, com o olhar de “Você estragou tudo”
-Eu estraguei tudo.
-Você foi um grande sacana.
-Eu sei – Respondi, com culpa – Você – Periguei – Não sente falta?
-Não – Ela respondeu e deu um pequeno sorriso de hesitação – O que te fez ficar com ela?
-O quê?
-Márcia, o que te fez ficar com ela? – Dei de ombros sem querer responder
-Achava ela mais gos...?
-Gostosa? – Continuei, Lorena me olhou, mexeu em seus cabelos e suspirou, envergonhada – Não Lorena – Ri, achando graça e ela ficou séria.
-Não ria, idiota – Lorena resmungou.
-Está com ciúmes, Lorena?
-Onde você tirou essa ideia? - Sorri, ignorando a pergunta de Lorena e assim deitei, encarando o teto.
-Vou fazer um teste de DNA, para saber se a Manu é minha filha – Ouvi Lorena remexer na cama, provavelmente sentaria.
-Você o quê?
-Teste de paternidade.
-Você é um cachorro Luan! A menina é a sua cara e você ainda duvida? – Dei de ombros – Não sei que milagre não pediu a do Theo também.
-É diferente – Olhei para Lorena – Confio em você.
-Porque? Acha que ninguém ia ter interesse em mim, porque eu estava gorda?
-Você é linda Lorena, qualquer pessoa tem interesse em você, gorda ou magra.
-Manu é a sua cara – Disse Lorena, desconversando.
-Vou fazer mesmo assim.
-E ainda duvida da paternidade?
-Ela me traia.
-Você nunca traiu ela? - Lorena indagou, curiosa. Olhei para ela e a mulher estava sentada, curiosa e me olhando.
-Já, mas – Lorena me interrompeu.
-Então não culpe ela – A mulher deu de ombros – Tenho certeza que a Emanuele é a sua filha.
-Não tenho tanta certeza assim.
-E se for? O que vai fazer?
-Vou cuidar, como sempre fiz.
-Você cuida não cuida nem dos outros.
-Estou cuidando Lorena.
-Jura? - Ela indagou, com deboche – Desde quando, Luan Rafael?
-Desde sempre – Respondi.
Lorena negou com a cabeça e ficou séria, fazendo um pequeno bico.
-Porque não dorme?
-Se a bonita parasse de falar, até dormiria – Ri e Lorena resmungou.
-Você é ridículo.
-Não quero te deixar sozinha.
-Já vou dormir – Lorena respondeu e deitou, suspirou e logo estava apagada, dormindo feito anjo, logo eu fazia o mesmo, tão cansado que não vi quando dormi.

Quando acordei senti de imediato a dor queimar o meu pescoço. Tinha dormido de mal jeito. Ofeguei e procurei Lorena, a mesma ainda dormia, seus cabelos estavam bagunçados, a boca entreaberta e as pálpebras pesadas, era tão linda e encantadora.
Eu a amava e ela incendiava meu coração!
-Bom-dia – Desejou o doutor, ao adentrar o quarto, era a hora da visita e Lorena ainda dormia.
-Bom-dia.– Desejei.
-Os exames estão prontos – Doutor Marcos avisou, meu coração galopou em meu peito, com tanta esperança que sorri.
Lorena não teria câncer.
Meu corpo todo tremia de medo, preocupação. Eu não conseguia respirar e não queria saber a resposta, não queria que ela tivesse câncer.
-O que deu Doutor? - Indaguei, tremendo e temendo.
Meu coração galopava em minha costela, dificultando a minha respiração. Eu mal conseguia ficar em pé.
-Lorena tem astrocitoma anaplásico – Arqueei o cenho, sem entender – Um câncer agressivo.
Paralisei, em choque. Meu corpo pesou, lágrimas escorreram a minha face, o vazio tomou conta do meu coração, seguido de dor, forte e intensa.
-Qual é o tratamento? - Lorena indagou, baixo. A sua voz tremia, a minha já não saia.
-É preciso fazer a cirurgia de remoção e quimioterapia.
-Pode voltar? - A mulher perguntou, tomando controle da situação.
-Provável.
Balancei meus pés bruscamente e sentia ondas fortes de choro e muita dor invadia o meu peito, havia a possibilidade de ela morrer, eu me assustava com aquilo. Poderia nunca mais ver Lorena, ver seu sorriso ou ouvir a sua voz. Porra!
Meu coração estava dilacerado, angustiado.
Queria desabar e abraçar Lorena na tentativa dessa maldita dor ir embora, me beliscava incrédulo. Queria saber se tudo era real, mas a dor me fazia ter a certeza.
O doutor examinou Lorena e explicou tudo o que era necessário, e marcou a cirurgia de remoção. Quando ele saiu, eu olhei para Lorena.
Seus olhos estavam marejados, sôfregos.
-Lorena – A chamei, a mulher não me olhou, estava em choque e em seguida suspirou, ofegou e chorou, alto.
Meu coração queimou como brasa, quente e ardente. Não suportei, abracei Lorena, chorando, apertando, temendo ser o ultimo abraço, a ultima vez que a veria viva.
Lorena era a minha metade e como sobreviver sem ela? Como viver sem ela? Como eu iria suportar?
Porra!
Doía para caralho!
Não sabia quem consolava quem, Lorena chorava de soluçar, eu apertava a mulher guardando e grudando em mim, sofrendo, com angustia e desespero.

Eu tô chorando e não é pouco 😭💔

Amando sem parar/ LuanSantana/CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora