Beeep... Beep... Beeep... Beep...
Acordei com o som do maldito despertador, me lembrando que dentro de duas horas, a semana estaria começando outra vez. Eu odeio segundas-feiras. E mais ainda odeio o frio.
E especialmente nessa manhã, fazia muito frio. Olhei pro despertador, que ainda tocava alto. Eram 5 horas da manhã. Queria ficar mais uns minutos, afinal eu só tinha conseguido adormecer há mais ou menos 1 hora. Minhas crises de ansiedade se agravavam nos domingos, e eu mal conseguia ficar na cama.
Acabei por desenvolver alguns hábitos não muito saudáveis, como o de trocar a noite pelo dia, e acabar dormindo na aula. Eu não podia evitar, de repente meus olhos começavam a pesar, e quando eu me dava conta, já estava dormindo.
Saio dos meus pensamentos e me levanto. Ouço passos na cozinha, e imagino que seja minha mãe preparando o café antes de ir pro trabalho. Moramos apenas nós dois nessa casa, e às vezes eu sinto que é como se eu morasse sozinho. Eu não a culpo, afinal se não fosse pelo esforço dela em trabalhar tanto, não sei o que seria da gente. Meu pai resolveu que não éramos bons o suficiente pra ele, e simplesmente foi embora. Eu não me lembro muito dele, isso porque quando ele se foi, eu tinha apenas 5 anos. Eu achava que ele ia voltar um dia. Uma parte de mim queria isso. Mas a mágoa pelo sofrimento que ele causou à minha mãe, cresceu ao ponto de eu não conseguir suportar ouvir o nome dele. Por vezes me pegava pensando o que eu diria se ele resolvesse dar as caras por aqui outra vez.
Olho pro relógio. Perdi 20 minutos viajando em meus pensamentos. Peguei minha escova de dentes e desci, indo em direção ao banheiro.
-Noite difícil, filho?
Olhei em direção a cozinha, e vi minha mãe sentada numa cadeira, com um cigarro entre os dedos. Sorri e entrei no banheiro. Ela, mais do que ninguém, sabia como era difícil pra mim, ter que conviver com a angústia e o desconforto causados pela ansiedade. Eu sempre estava com alguma coisa entalada na garganta. Sempre tinha algo por dizer, mas simplesmente não conseguia entender o que era. E ela respeitava meu tempo.
Enquanto escovava os dentes, me olhei no espelho. Os olhos, rodeados pelas olheiras que eu ganhei nas noites passadas, me faziam parecer exausto. E na verdade eu estava mesmo exausto. Cansaço psicológico, às vezes chego a pensar que é mais difícil de lidar, do que o cansaço físico. É algo que leva tempo pra se curar.Voltei ao quarto, e enquanto me trocava, minha mãe bateu na porta.
Eu abri, e ela estava de costas, olhando um porta retrato. Na foto, eu e meu irmão estávamos brincando no gramado da nossa antiga casa. Sinto falta dele.- Às vezes me pego pensando se ele está bem, se está sendo bem cuidado. Eu... - ela suspirou em meio ao que dizia- Eu só queria que ele tivesse ficado.
- Ele está bem, mãe. Acredite, se algo acontecesse, ficaríamos sabendo. - disse, tentando acreditar em minhas próprias palavras.
-Tem razão, filho. Bom, eu só queria te lembrar de pagar a conta de energia por mim, ou então já sabe, não é?
Ela fez o sinal de tesoura com a mão, e eu entendi o recado. E nesses momentos eu sentia que precisava ser mais útil, que eu precisava ajudar mais. Precisava de um emprego. Mas eu não conseguia encontrar. Alguns diziam que eu não tinha idade suficiente pra trabalhar. E infelizmente, talvez isso fosse verdade. Minha mãe não aceitava a ideia de eu procurar um emprego. Mas eu tinha que fazer alguma coisa.
Ela se virou, e foi até o seu quarto. Voltei ao meu armário, e peguei meus jeans escuros, e o moletom cinza que eu frequentemente usava na escola. Coloquei uma camiseta qualquer, calcei um tênis surrado, e desci novamente. Peguei meu celular, e eram 6 da manhã. Ainda tinha uns minutos até ter que sair de casa. Minha mãe se despediu, e saiu pro trabalho.
Me sentei, e vi um bilhete. Ela sempre me deixava um desses na segunda-feira. Cada um tinha uma mensagem diferente, algo que me fazia acreditar de verdade num dia bom. E esse dizia :
"Sorria. Dê ao seu dia uma chance de ver como seu sorriso é belo, e ele te mostrará o melhor de si."
Eu sorri baixinho e coloquei o bilhete na mochila. Eu tinha um bolso especialmente reservado pra isso. E ele tinha muitos outros, de tantas outras segundas-feiras. Talvez não fosse tão ruim assim. Olhei o celular, apenas para constatar que eu não tinha recebido nenhuma mensagem. Eu nunca esperava receber nada, afinal eu não conhecia ninguém da vizinhança, e menos ainda na escola. Guardei o celular na mochila e saí. Meu dia começaria de verdade agora, e eu precisava sobreviver ao menos até o almoço, por cinco vezes, e o sábado estaria aí novamente.
"Não é tão ruim assim."- repeti pra mim mesmo.
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Cheguei em casa por volta das 4 da manhã. Eu tinha exagerado um pouco na diversão na noite passada. E eu totalmente estava cansado demais pra ir à escola. Ao mesmo tempo em que sabia que perder mais aulas resultaria numa reprova, e eu não precisava de mais uma no meu currículo escolar.
Saí do carro e entrei. Meu pai não estava em casa. Tinha viajado, coisas do trabalho dele, se é que eu entendi. Minha mãe estava fora também. Eu estava sozinho. Sabe-se lá até quando. Uma parte de mim gostava disso. Enquanto a outra, se sentia humilhada por ser deixado sozinho dessa maneira. Várias vezes.
Tudo bem, tínhamos muitos empregados, mas eu não dava a mínima pra isso. Eu não os via, afinal eu apenas passava em casa para tomar um banho, ou me trocar, como agora. Entrei no banheiro, e tirei minha calça, e fui pro chuveiro sem me importar com a camiseta. Estava frio, e a água caía no meu corpo como pedras de gelo. Eu costumava acreditar que o banho gelado ajudava a focar. Eu estava um pouco bêbado. Precisava de foco.Demorei um bom tempo, e quando saí, vi que estava atrasado para a escola. Fui em direção ao carro, e quando estava entrando, o jardineiro que meu pai contratou, gritou de longe.
- Senhor Joshua! Senhor!
Bufei. Com certeza era algum maldito recado do meu pai. Porque ele simplesmente não me ligou? Apenas me virei e não respondi. Esperei que ele chegasse mais perto.
- Senhor Joshua, seu pai telefonou ontem a noite, e disse que precisa que você esteja aqui antes das 16 horas. Ele não me adiantou o que era, só me disse pra avisar você e...
O interrompi
- Tudo bem... - li o nome no macacão que ele usava- Juan... Eu ligo pra ele mais tarde, obrigado por avisar.
Entrei no carro e saí. Eu me sentia mal por ser rude às vezes. Mas era uma parte de mim que parecia ter vida própria. Eu não queria dizer as coisas da maneira que eu dizia, mas quando eu me dava conta, já tinha saído. Por sorte, eu sabia que eles podiam me compreender. Já ouvi muitos comentários de pena, alguns empregados só sabiam cochichar sobre a maneira que meus pais costumavam agir comigo. Por vezes eles ficavam semanas sem aparecer. E aí voltavam me cobrando por não ter ligado ou mandado mensagem. Isso era... Ridículo.
E por falar em comentários, sei o que muita gente pensa sobre mim. Dizem que eu sou um riquinho esnobe, que eu sou mimado e tudo mais. Pra ser sincero, eu não me importo com o que dizem. Mas, eu trocaria todo o meu dinheiro, toda essa coisa que meu pai chama de família, por um momento de paz interior, por um momento em que eu pudesse me sentir amado de verdade. Eu não tinha amigos. Não... Eu tinha muitos colegas de balada, garotas que me rodeavam, e até alguns garotos também. Não que eu não gostasse de ter tanta gente por perto. Às vezes eu me distraía com eles. Mas eu não tenho amigos. Definitivamente, não.
Cheguei ao colégio, e estacionei o carro. Olhei às horas, estava 10 minutos atrasado. Passei a mao pelos cabelos e coloquei o boné.
Odeio segundas-feiras...||-/ /
Gente, meu primeiro capítulo. Eu não sei dizer se tá ficando bom. Na real eu já tenho uma base pra história, mas ela provavelmente vai fluir conforme as coisas vão acontecendo. Eu escrevendo, senti um pouco de pena do Josh... Espero que as coisas sejam boas pra ele.
Stay Alive, Frens. ❤️
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STAY
Fanfiction~Joshler~ "Tyler, vivia uma vida normal. Não era de muitos amigos, e na verdade não via problema nisso. Diferente de Joshua, que sempre esteve rodeado de pessoas. Alguns diriam que as histórias dos dois simplesmente não poderiam se conectar. E num b...