Capítulo XVI

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Segunda-feira, 6 da manhã

Tyler já tinha revisado os documentos do trabalho, os enviando por e-mail para a secretária. Teria a semana de folga, então resolveu que precisava conhecer a cidade novamente. As coisas tinham mudado, ao mesmo tempo em que se mantinham as mesmas. Parecia confuso, mas não para ele.

Tomou um banho, tomou uma boa xícara de café, pegou o carro e saiu. Dirigiu aleatoriamente pelas ruas, como fez na noite do jantar. Só que dessa vez, o dia estava acordado. As flores nos jardins faziam seus olhos brilharem.

"Terei flores roxas e azuis no meu jardim um dia"

Se lembrou de ter escrito isso uma vez, num de seus muitos possíveis diários, que ele sempre esquecia de atualizar e só se lembrava meses depois. Ele se lembrava dessa nota. Especialmente dessa, pois pensar no que faria no futuro, o dava medo. E também porque no primário, houve uma redação com um tema parecido. E ao final da escrita, todos deveriam ler para a sala. Ao chegar sua vez, novamente falou das flores, arrancando risadas de todos os colegas. Ele não fazia ideia do motivo, era um garoto inocente. Só agora podia ver a maldade nas risadas.

Tyler olhava atentamente algumas crianças, provavelmente caminhando para o colégio. Ele não queria se lembrar, pois aquilo ainda doía. Todos os anos difíceis, as idas ao psicólogo, tentativas falhas de apagar pensamentos depreciativos sobre si mesmo, impostos pelos outros garotos. Cicatrizes que não poderiam nunca serem apagadas.

Ouvindo a música tocar no rádio do carro, deixando os pensamentos fluírem, se deparou com o parquinho da cidade. Lembrou de quando sua mãe o levou para brincar, numa manhã quente de domingo. Aquele tinha sido um dos dias mais felizes da vida dele.

Tyler parou o carro numa cafeteria, se sentando numa das mesas. Rapidamente, o atendente veio até ele.

– Bom dia, senhor. O que vai querer?

Ele sorriu para o homem que esperava pacientemente com a caderneta em mãos. Era estranho, mas às vezes, Tyler não se sentia como um adulto. Isso realmente o incomodava em certos momentos. Mas não ali.

– Tyler. Não me chama assim - ele sorriu novamente- Qual o seu nome?

O atendente, confuso, apenas sorriu de volta, surpreso.

– Meu... Meu nome é Max. Desculpe por isso.

– Não se preocupa, tá tudo bem. Pode me trazer uma fatia de bolo, por favor?

– Sim senh... Sim, Tyler. Só um minuto.

Tyler o olhou, vendo-o se afastar. Pegou o celular, checando algumas mensagens. Involuntariamente, seus dedos deslizaram a tela até sua conversa com Josh. Eles tinham trocado mensagens durante um tempo nos últimos dias. Mas nada que fugisse de assuntos triviais. Ele não queria se envolver com Joshua novamente. Principalmente porque ele estava casado e com filhos. Além do mais, Tyler nem sequer tinha certeza se Joshua se lembrava do que eles tiveram no passado, se é que um dia tiveram algo.

Max trouxe o bolo, o servindo. Como de costume, os atendentes esperavam até serem dispensados pelos clientes, e assim o fez. Tyler apontou para a cadeira à sua frente.

– Senta aí, come comigo!

Max olhou para a gerente, que sorriu, assentindo. Ele se sentou, tirando uma fatia do bolo e se servindo. Tyler logo puxou assunto, conversando sobre trabalho, gostos e outras coisas. Ao terminarem de comer, já sabiam bastante um do outro.

Tyler pagou a conta, agradecendo pelo atendimento. Seguiu de volta para o carro, dirigindo devagar, como se procurasse algo. Diminuiu a velocidade, passando em frente a casa dos pais de Josh. Só se deu conta do que tinha feio de verdade, quando viu Deborah saindo do carro com as crianças. Fechou as janelas do carro, evitando ser visto. Deborah olhou na direção do carro, curiosa.

Ele acelerou gradativamente, disfarçando, até que estivesse longe o suficiente dali. Parou o carro novamente, respirando fundo. Por um breve momento, se sentiu de novo em todos aqueles dias ruins. Suas mãos suadas, indicavam que ele estava extremamente ansioso. Tyler estava no meio de uma crise. Ao longo dos anos, elas tinham diminuído, mas aquilo tudo voltava, cedo ou tarde.

Abaixou a cabeça, tentando controlar a respiração. Tudo parecia distorcido, os sons ao redor pareciam distantes e ele podia jurar que tinha ouvido alguém bater na janela do seu carro, antes de apagar por completo.

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Oie! Galera, ainda hoje tem mais um capítulo aqui, beleza? Vamo que vamo!

Até mais, Stay Alive💛😍

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