STAY

Capítulo XXI

Já era noite, e Tyler estava andando de um lado pro outro, pensando no que preparar para o jantar. Ele não era bom o bastante para cozinhar o que quer que fosse. Os últimos anos o fizeram desaprender muita coisa a respeito da cozinha, o que o deixava com uma pontinha de frustração.

Checou o celular e então decidiu esperar até que Max chegasse, assim poderiam escolher algo para comer, ou até mesmo fizessem alguma coisa juntos.

Deu uma pequena organizada numas coisas que para ele estavam fora de ordem e então se sentou, dedilhando em seu piano, no canto da sala. Ele mal podia esperar para contar ao Max o que tinha em mente. Sua empolgação atingia o máximo, enquanto sua mente pensava em possíveis argumentos para caso ele recusasse.

Tyler desistiu do piano e pegou o celular, vendo algumas mensagens de Josh. Aparentemente, o outro tinha um sério problema de ansiedade quanto às respostas de suas mensagens, e isso fez Tyler sorrir um pouco.

"A gente devia convidar sua esposa para um jantar. Acho que talvez ela goste de saber que somos amigos, nada além disso."

Enviou a mensagem para Josh, e rapidamente ela foi lida, e o status "digitando" apareceu no topo da tela.

"Bem, eu já fiz isso, mas ela não achou que fosse uma boa ideia."

Tyler sorriu com a resposta, enquanto que Josh se sentiu levemente assustado. Ele devia contar, afinal, mentir assim não era certo para nenhuma das partes, principalmente para Deborah, que com certeza teria um surto psicótico se descobrisse de outras maneiras. Ele pensaria em algo, mas não agora. Joshua mentia para si mesmo, adiando algo que talvez fosse simples. Ou talvez não fosse tanto assim.

A campainha tocou, fazendo com que Tyler se levantasse rapidamente, indo até a porta. Olhou pelo olho mágico, vendo Max parado, com as mãos nos bolsos. Ele sorriu, destravando a porta e a abrindo.

- Desculpa pela demora, eu me distraí no celular. Entra por favor, Max. - Ele sorriu - Você deve estar exausto, não é?

Max estava suado. Não algo excessivo, mas era visível que algo estava errado. Ele entrou, olhando a sala de Tyler, e então respirou fundo.

- Eu... Fiquei com medo de me atrasar. Foi isso... Desculpa...

- Ei, Max. Fica tranquilo, você chegou no horário. Não que tivéssemos combinado um, por isso eu disse depois das 19. Assim você poderia vir com calma. Aceita uma água? Suco, talvez?

Tyler repousou a mão sobre o ombro de Max, o olhando nos olhos. Isso fez ele desviar rapidamente, sorrindo.

- Eu aceito uma água, por favor.

Max colocou a mochila pendurada num gancho na parede e seguiu Tyler até a cozinha. Se sentou próximo à bancada e observou os detalhes da casa. Era uma decoração simples, mas ainda assim sofisticada. Nada muito chamativo, na verdade.

Tyler o serviu, se sentando do outro lado da bancada. Sentiu o celular vibrar mais algumas vezes, porém não deu muita importância. Olhou as horas e se levantou, colocando algumas panelas em cima da mesa.

- Você sabe cozinhar? É que eu perdi a prática, sabe?

Max se levantou e foi até ele, olhando para as panelas, meio pensativo.

- Me dá passe livre pra sua cozinha? Eu tenho uns truques, você pode assistir.

Pegou uma frigideira e a empunhou, imitando uma espada, fazendo Tyler dar uma gargalhada. Ele também sorriu, tirando a jaqueta e dobrando as mangas da camisa. Ty se sentou novamente no banco, apontando para os armários, mostrando onde cada coisa estava.

- Me mostra do que você é capaz, e eu faço minha parte, beleza?

- Fechado, senhor Joseph! - gargalhou baixinho, colocando o que ia utilizar, em cima da mesa - Vamos ver se você também pode me surpreender.

Tyler foi até a sala, se sentando próximo ao piano novamente. Tirou as partituras e começou a tocar, improvisando uma música própria. As notas fluíam suavemente, como se ele já conhecesse aquela música, mesmo nunca tendo a tocado antes.

A cada vez que Tyler tocava, sentia como se pudesse aliviar um pouco mais as dores que um dia o machucaram tanto. Ele tinha o costume de associar uma música à cada momento bom ou ruim, e quando tocava, era exatamente como se os momentos ruins se tornassem mais suportáveis, e os bons se intensificassem à medida em que as teclas soavam.

Max ouvia tudo da cozinha, com os pensamentos dispersos enquanto cozinhava. Estar conhecendo alguém tão parecido e ao mesmo tempo tão diferente de si, era estranho. Todos que já haviam se aproximado nunca demonstraram tanta empatia como Tyler. Ele não tinha certeza de como isso iria acabar, mas precisava fazer a coisa certa. Tinha medo de estragar tudo, e iria tomar todo o cuidado para que não acontecesse.

De repente a música parou. Max pensou que Tyler estivesse voltando à cozinha, mas quando não o viu chegar, foi até a sala. No instante em que se aproximou do piano, Ty voltou a tocar. Dessa vez, uma melodia mais intensa, muito mais tocante e profunda do que a última. Ele se sentou ao lado do outro, o observando.

Ele notou que Tyler tocava de olhos fechados. Ficou surpreso com o que viu, afinal não era tão simples tocar assim. Max respirou fundo novamente, com a mão no ombro de Tyler. Se preparou e também começou a dedilhar algumas notas, que se encaixaram perfeitamente na melodia inédita. Ty sorriu, o olhando nos olhos. Tocaram por mais alguns instantes, como se fossem programados para aquilo.

Quando a música chegou ao final, os dois se entreolharam, ainda sorrindo. Tyler tinha uma lágrima caindo pelo canto esquerdo do seu rosto, mas que ele logo secou.

- Eu não sabia que você tocava piano...

- Tem muita coisa sobre mim que você não sabe... Mas eu não toco piano. Só arrisquei e... Eu podia ter arruinado sua música...

- Não, Max. Foi louco, como se você lesse meus pensamentos. E se você tiver essa habilidade, eu acho que é melhor eu conseguir um capacete de proteção contra telepatas.

Tyler gargalhou, mexendo nos cabelos de Max. Alguma coisa o dizia que ele podia confiar, e esse momento fez com que ele tivesse certeza de que Max não o machucaria. Mas a questão talvez não fosse aquela. E se Tyler acabasse o magoando? E se o machucasse, como um dia foi machucado? Ele tinha medo de se tornar aquilo que um dia o fez sofrer tanto. E mais uma vez, como no passado, o medo o fazia travar.

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Stay Alive, Frens💛😍