STAY

Capítulo XXXIII

"A neve cobriu o chão rapidamente, enquanto eu continuava na janela. Algo me fazia ficar lá, sem possibilidade de sair. Eu estava... Preso? Não, eu só não conseguia mesmo sair. Olhava para o gramado que agora se fazia em neve. Então eu vi alguém. Um capuz sobre o rosto e algo em suas mãos. Eu não podia identificar o que era. Ouvi a porta da frente sendo aberta, mas não consegui visualizar, mesmo que estivesse ao meu lado. Aquela pessoa olhou em direção à porta, e então eu o vi. Josh saiu e gritou, perguntando quem era a tal pessoa. Mesmo que ele tirasse o capuz, não seria fácil enxergar. A noite escura e uma fina camada de névoa cobriam o lugar. O ser misterioso começou a correr em direção à casa. Josh corria contra ele, mas a pessoa se desviou. A pessoa continuou correndo até mim, e quando estava bem perto, com uma pancada, arrebentou a janela à minha frente. E então eu acordei."

Tyler esperava a resposta de Jenna à sua mensagem. Suas unhas eram minúsculas por tê-las roído durante a madrugada. Ele estava acostumado aos pesadelos, claro. Mas esse parecia ser muito real. Tyler poderia jurar que o que ele viveu em sonho estivesse realmente acontecendo, se não fosse por ter acordado completamente molhado com todo o suor derramado.

Jenna digitou pelo que pareceram horas, até que desistiu e o telefonou.

— Tyler, eu tentei realmente entender o seu sonho, mas não faz sentido pra mim. Pelo menos não ele inteiro. Acho que a parte em que o Josh foi ignorado pelo assassino...

— Assassino, Jen? É sério?

— Ei, é só um jeito diferente de falar! São cinco da manhã, me dá um desconto. Enfim... Talvez seja um aviso, ou o destino te dizendo pra acordar. Mas o resto deve ser só pra cumprir o roteiro.

— Nem mesmo a neve? - Tyler disse, desapontado.

— Nem mesmo ela. Olha, foi um sonho. Não tem que fazer sentido, entende? Eu por exemplo, não conto meus sonhos, senão já teria sido internada numa clínica psiquiátrica. Não dá muita importância pra eles não, Ty...

— É que eu achei que... Ah, esquece. Ce tem razão. Foi só um sonho. Mas me diz... Eu atrapalhei seu sono, não é?

— Bobagem! Eu adoro acordar no meio da noite com um milhão de mensagens do meu melhor amigo. É meu desejo pessoal.

Jenna gargalhou, mas parou assim que percebeu que Tyler não fez o mesmo. Ele estava mesmo incomodado com o sonho, e algo o dizia que não era só isso.

— Ty, eu acho que você devia falar com ele. Quem sabe o cara tem algo à dizer... Ou te rouba outro beijo, não é?

Tyler balançou a cabeça, perplexo com a amiga. Ele contava absolutamente tudo à ela, e sempre que podia, dividia as inseguranças e paranoias. Ela era sua pessoa favorita, mas ele bem sabia que Jenna era um pouco brincalhona demais.

— Você não presta, Jen... - ele riu.- Enfim, volta pro seu sono de beleza aí. Você vai precisar.

Antes que ela respondesse, Tyler desligou o celular e se jogou na cama novamente. Os sons da madrugada eram interessantes. Tinha o cachorro do vizinho da frente, que começava a latir exatamente às quatro da manhã. Tinham os Lennin, que discutiam toda noite, tinha o ronco do Zack... E tinham as batidas na porta.

Tyler se levantou rapidamente e olhou da janela. Aquele carro era familiar. Ele desceu as escadas, torcendo para que fosse só uma coincidência, mas quando abriu a porta, lá estava ele.

Josh o olhava com uma expressão de preocupação e batia o pé, impaciente. O clássico silêncio constrangedor pairou sobre eles até que o visitante pediu para entrar.