Capítulo VI

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*Tyler*

Acordei, vendo Josh ainda deitado ao meu lado. Estavamos próximos demais e seu braço repousava sobre o meu quadril. Tento me levantar e ele me puxa pra mais perto, me fazendo parar instantaneamente. Observo o quarto e a janela aberta me causa calafrios. Olho pras estrelas fluorescentes de plástico que eu havia colado, pensando na noite anterior. Tinha sido um fiasco. Uma festa de aniversário que ninguém apareceu. Nem um telefonema. Absolutamente nada... Era como eu me sentia. Mas ao mesmo tempo, estava feliz, afinal não é todo dia que alguém como Joshua William Dun vem à sua festa e ainda dorme com você. Na sua cama. Caramba, isso não estava nos planos... Ta saindo completamente do meu controle. Era pra ser só um trabalho de escola e duas semanas depois, estamos próximos o suficiente para dividirmos a cama. Isso está errado.

– Ta pensando em que, Tyler?

Congelo. Ele estava acordado. E não havia se afastado ou se mexido nem um centímetro sequer.

– Eu... Bem... Na verdade... Caramba, estou atrasado pro colégio...

– Ah, qual é... No domingo? Até eu invento uma desculpa melhor. Relaxa, não rolou nada.

Não rolou nada. De alguma forma, isso me fez sentir mal. Tá tudo errado.

– Eu não disse que tinha... Ahm... Acho que estamos perto demais um do outro, Joshua.

Ele me encarou e puxou meu corpo pra mais perto. Droga, droga droga... Meu coração disparou.

– Agora sim estamos perto demais. - ele sorriu- A distância perfeita, não acha?

– O que...

Ele me solta de repente e se levanta, rindo.

– Tinha que ver sua cara, Ty. Foi a coisa mais engraçada que eu já vi.

Ele estava debochando. Ótimo, não é? Não. Ele não ia mesmo me beijar. Espera, mas eu não queria que ele me beijasse! Merda, o que eu tava fazendo?

– Acho melhor você ir agora, Joshua. Seus pais...

– Estão viajando. Voltam em alguns longos dias. Porque tá me expulsando? Eu não te derrubei da cama não, né?

Balanço a cabeça, negando. Ele seguiu pro banheiro e eu arrumei a cama. Meu presente de aniversário ocupava boa parte dela, e eu gostei disso. Dormir sozinho era horrível. Depois de um tempo, ele saiu do banheiro e se sentou. Fiz minha higiene pessoal e olhei pela janela, vendo um dia nublado lá fora.

– Tyler, que tal irmos à praia hoje?

– Cê viu que tá nublado, né? Além disso, eu não saio aos domingos. Só fico na cama, esperando acabar.

– Acabar o que? - ele me olhou, parecendo confuso.

– Acabar o dia, esperto.

– Legal. Parece ótimo pra mim. A gente fica em silêncio mesmo, ou conversa sobre coisas aleatórias?

– Eu vejo um filme. E você vai pra sua casa, Josh.

Talvez eu devesse ter sido mais gentil. Talvez eu devesse deixar ele ficar. Talvez eu devesse simplesmente calar a boca.

– Se quer tanto que eu vá, então eu fico. Gosto de ir contra as expectativas.

Ele riu, tirando a camisa. Tento evitar, mas acabo olhando algumas vezes.

– Me empresta uma camiseta?

Sem responder, apenas pego uma camiseta no armário e o entrego e ele veste. Ficou colada demais. Eu sou mesmo tão magro assim? Descemos e tomamos o café da manhã. Minha mãe não estava em casa, provavelmente teria ido fazer algum trabalho extra para complementar a renda. Não tínhamos tanto dinheiro então qualquer trabalho era prontamente aceito. Eu já tinha entregado jornais aos finais de semana, reposto estoque da mercearia da esquina e feito alguns trabalhos nos jardins vizinhos algumas vezes. Decidimos ver um filme, e seguimos para a sala.

– Quero ver se você tem bom gosto. Coloca aí o seu filme favorito, independente de qual seja.

Olho para ele, hesitando por alguns instantes. Pego o dvd e então logo os flocos de neve aparecem pela tela.

– Está me dizendo que o mesmo garoto sério e sem graça da escola, o mesmo que vive de cara fechada, tem Frozen como o filme favorito? - ele me encarou, com um sorriso de canto.

– Sem julgamentos. Você é todo durão mas tá sendo gentil comigo, e eu não esperava por isso.

– É só por interesse. Eu poderia te socar aqui e agora se necessário. - o vi gargalhar e então sorri também.

– Palhaço.

Durante o filme, por diversas vezes o olhava e o pegava me encarando. A situação estava ficando meio desconfortável. Me levanto, e ele me puxa pela mão, me jogando no sofá outra vez.

– Tyler. Eu quero fazer uma coisa. Mas eu não sei se é uma boa ideia.

– Josh... Me diz o que é, e eu te ajudo a decidir se é ou não uma boa ideia. Sou bom em fazer a coisa certa sempre. - digo, sorrindo.

– Te conheço o suficiente pra imaginar que vai me odiar se eu fizer. Mas também sei que se eu não tentar, posso perder uma oportunidade e tanto...

– Cara, isso é estranho... Pode ao menos ser mais claro? Eu não tô entendendo.

– Ty... - ele se aproximou- Eu quero beijar você.

Não. Não pode ser. Eu provavelmente desenvolvi surdez repentina, ou meu cérebro estava apresentando falhas contínuas de comportamento. Isso nem seria realmente possível de acontecer! Ele é um garoto. Josh Dun. Haviam boatos de ele ficar com garotos. Mas eram só rumores. E eu também não queria ficar com ninguém. Mas... Era ele, e a ideia não me parecia tão ruim assim. Merda. Eu penso demais.

– Josh... Eu...

– Se você não fugiu, não me bateu e nem me mandou embora, sabemos a resposta.

E então ele me beijou. Foi o melhor primeiro beijo da história da humanidade. Eu não sabia ao certo o que estava fazendo, apenas o imitava, seguindo sua lingua com a minha. Josh segurou meu rosto e apoiou uma mão na minha perna.

Me afasto um pouco ao ouvir a porta sendo aberta. Minha mãe. Droga, provavelmente ela viu e iria me encher de perguntas. Por sorte, ela carregava alguns sacos de compras e nem nos notou na sala. Olho para Josh e ele tinha um sorriso no rosto.

– Eu gostei. O que você achou, Ty?

– Eu acho que você deve ir embora. Agora. Por favor.

Seu semblante mudou drasticamente para triste e ele se levantou.

– Merda, eu estraguei tudo... Me desculpa, cara...

– A gente conversa depois, Josh. Por favor, vai embora.

Ele suspirou e saiu, encostando a porta devagar. Ouço o barulho do seu carro saindo rápido. Eu provavelmente tinha o destruído por dentro. Tudo por causa da insegurança e da minha maldita vontade de me afastar das pessoas o tempo todo. Mas talvez tenha sido o melhor. Somos completamente diferentes. Não devíamos nem conversar. E em duas semanas estávamos nos beijando no sofá da sala? Eu deveria acabar com isso de uma vez por todas... Mas era o Josh... E talvez eu goste do Josh...



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Alguém aí? Bem... Eu estive um longo período sem Internet, e fui pego por um belo block criativo... Foi insano. Mas estamos aí. O primeiro beijo foi divertido. Até breve, Stay Alive, amo vocês!

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