• capítulo vinte e cinco •

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Irritado, Guilherme lia e relia o prontuário de uma égua da fazenda.

O animal havia parido há poucos dias e, ao que tudo indicava, Lilian e Denise trocaram os prontuários, e assim sendo, as medicações.

No estábulo, Arthur estava de joelhos examinando a égua, que estava deitada à sua frente, no chão coberto de feno.

Eles estiveram lá a noite toda, e o dia já havia amanhecido.

Guilherme, em pé logo ao lado, estava furioso. Ele não era o tipo de homem que tolerava erros.

Muito menos quando estava cansado, com sono, com fome e sujo.

Sentadas em uma pilha de sacos de ração, as garotas esperavam pelas consequências de seus erros, assistindo ao trabalho árduo de seus chefes.

- A pulsação ainda está muito fraca. - Arthur disse, nitidamente preocupado.

- Ela vai morrer. - Guilherme disse. - Graças ao despreparo das duas incompetentes! - ele rosnou.

- Guilherme! - Arthur repreendeu.

Por mais irritado que Guilherme estivesse e por mais grave que fosse o erro das garotas, ofende-las não melhoraria em nada a situação.

- Incompetentes, sim! - Guilherme falou. - Como é possível que duas veterinárias formadas troquem a ficha de dois pacientes? Isso é incompetência! - gritou, irritado.

Um rangido na porta do estábulo chamou a atenção. José a abriu, e então Salomão entrou.

O pai de Arthur caminhava devagar, com o auxílio de uma bengala de mogno, com o cabo feito de ouro. José acompanhou os passos lentos do homem até que ele se aproximasse dos veterinários.

- Pai! - Arthur exclamou, levantando-se rapidamente.

Correu em direção ao idoso, abraçando-o com força por longos segundos.

- Achei que não fosse ver o senhor dessa vez. - disse, soltando-o.

- Eu não poderia ficar mais tempo sem ver o meu garoto. - o senhor disse, com um sorriso orgulhoso no rosto.

Desde que teve um AVC, um ano atrás, Salomão estava com dificuldade para caminhar. Por esse motivo teve que deixar a fazenda e ir viver em um apartamento planejado para suas necessidades e limitações. Por mais que amasse a fazenda com todo o seu coração, o casarão tinha muitas escadas e era muito grande. Depois de algumas quedas e muita insistência de Arthur, Salomão aceitou deixar a fazenda.

Guilherme aproximou-se, com um genuíno sorriso no rosto. Salomão era seu herói, sua inspiração. O mais próximo de um pai que ele teve em toda a sua vida.

- Que bom vê-lo, senhor Salomão! - disse, abraçando-o com cuidado.

- É bom ver você também, garoto. - respondeu, com o mesmo sorriso orgulhoso.

- O senhor não quer nos esperar em casa? - Arthur perguntou, gentilmente. - Nós estamos com problemas por aqui e...

- Não seja bobo, meu filho. Acha que o seu velho não aguenta uns minutos em pé? - o homem disse, sorrindo. - Eu fiz questão de vir, o José me falou que uma égua estava morrendo e eu quis vir me despedir. Você sabe, eu amo esses bichos... - disse, se aproximando lentamente do animal.

José o acompanhava, com cuidado e preocupação, mas Salomão não aceitava ser tratado como um inválido. Apesar de seus setenta anos e da dificuldade para caminhar, seu espírito ainda era de um garoto.

O velho acariciou o rosto do animal, com dificuldade ao se inclinar.

- Um vermifugo bovino foi dado com dosagem errada... - Arthur disse

O Lado Bom Do Adeus [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora