Verdadeiramente, eu não era aquele tipo de pessoa fria que eu demonstrava ser. Eu era o tipo de pessoa que gostava de fazer tipo, apenas. Também era bem verdade que eu não sabia lidar com sentimentos ou qualquer situação que me fizesse sentir vulnerável, mas eu tinha sim consciência, a qual no momento estava bem pesada.
Tratar as pessoas mal, como fiz com a "Clara sem graça", fez mais mal a mim do que, provavelmente, deve ter feito a ela. Eu não devia ter dito aquilo, ferindo, possivelmente, seus sentimentos.
Passei o resto do dia sem conseguir estudar, e mesmo que eu pudesse, tinha certeza de que não conseguiria dormir. Minha consciência estava gritando.
Eu sabia que devia um pedido de desculpas a ela por ter sido tão dura, mas o único defeito que eu tinha era ser orgulhosa, mesmo que um pouco de orgulho não fizesse mal a ninguém. Mas eu não era pouco orgulhosa – eu era muito orgulhosa.
Peguei meu celular algumas vezes e encarei o contato dela, mas larguei o aparelho de lado todas as vezes, até ter coragem de escrever alguma mensagem. Não, algumas muitas mensagens. Porém, não tive coragem de enviar nenhuma delas. Eram todas bobas, com o intuito de puxar papo, e nenhuma significava de verdade algum pedido de desculpas. Por isso, desisti dessa ideia estúpida e preferi me convencer de que ela não havia ficado tão chateada quanto parecera. Minha esperança era de que, no dia seguinte, ela agiria normalmente, ou seja, como uma boba sem graça. Pelo menos, era o que eu esperava.
Eu já havia a maltratado outras vezes, e nem por isso ela se distanciou de mim ou passou a agir diferente. Não seria dessa vez que isso aconteceria.
Tentei deixar essa preocupação boba de lado e não ocupar mais minha mente com esses pensamentos de remorso. Isso nem combinava comigo.
Se eu estava errada? Estava!
Mas decidi que não eu não me preocuparia mais com isso.
Nem preciso dizer que tive uma péssima noite, dormi mal e acordei de mau humor. Comi pouco no café da manhã e corri para a escola. Eu estava ansiosa para tirar aquela culpa da minha consciência, pois esperava estar certa ao constatar que estava tudo normal.
Ao chegar na escola, encontrei-me com minhas amigas e as amigas dela, as quais eu já estava começando a considerar minhas também. Estávamos passando tanto tempo juntas e nos dando tão bem, que poderia dizer que eu estava realmente gostando delas.
Olhei ao redor e pude ver a sem noção passar pelo portão de entrada da escola. Acompanhei com o olhar seus passos até que se juntasse a nós também. Ela se aproximou com um sorriso lindo no rosto e cumprimentou a todas, menos a mim. Até aí tudo bem, pois não costumávamos nos cumprimentar, de qualquer jeito. Mas eu precisava arriscar e decidi fazer diferente.
- Bom dia, Clara! – Cumprimentei-a com um meio sorriso no rosto, após ter feito um esforço sobre-humano para pronunciar seu nome, o que era bastante raro de acontecer.
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Qualquer Semelhança é Uma Mera Coincidência
Novela JuvenilEssa é a história de muitas primeiras vezes da minha vida, mas não é só sobre mim que vou falar. Na verdade, é sim. Mas vou dividir o enredo dessa história com uma outra pessoa, a qual vocês vão logo identificar por seu "talentoso" humor e carisma...