Passei o resto do final de semana totalmente inacessível. Desliguei meu celular, não liguei o computador e só estudei pelo dia inteirinho. Meus pais tentaram me levar para jantar fora, mas eu recusei, claramente conseguindo escapar de uma arapuca.
Eu ainda devia uma conversa ao meu pai, mas ele sabia que eu estava fugindo disso como o gato foge do banho.
O Sr. Pedro, meu querido paizinho, sempre foi muito sensível e paciente comigo. Ele era o tipo de pessoa que nunca levantava a voz, nunca reclamava de absolutamente nada e passava uma calma transcendental. Às vezes, eu desconfiava que ele era na verdade um anjo enviado do céu. E por todas essas qualidades, eu podia facilmente compreender por que minha mãe era completamente apaixonada por ele.
Eu sempre acreditei que era isso o que eu queria para mim, uma pessoa calma e bondosa. Eu era mais parecida com minha mãe, agitada e espevitada, então eu acreditava que casaria com alguém que fosse meu oposto, e que essa seria a receita de um casamento feliz. Mas quando, pela primeira vez, meu coração deu uma levíssima e breve vacilada, foi por alguém inacreditavelmente pior que eu. Mas eu não precisei evitar que esse sentimento crescesse, já que a própria "coisa ruim" conseguiu acabar com qualquer empatia que eu poderia sentir por ela.
Depois que me disse aquelas grosserias, menosprezando os sentimentos que ela achava que existiam - mas não existiam - eu meio que dei uma endurecida na minha postura, mas não no meu coração, pois ele era incorrigivelmente romântico, e eu jamais acabaria com o melhor de mim por alguém como ela, que não tinha a menor consideração por minha pessoa. Por isso, decidi que eu não me deixaria mais abalar pelo seu olhar quarenta e três - da cor do céu - nem pelo seu sorriso encantador - causadores de desmaios.
Eu passei a controlar isso com a ajuda da mágoa que eu estava sentindo por ela. Mas eu descobri recentemente, depois do ocorrido no parque, que não devíamos ficar tão próximas. O cheiro da sua pele tinha um efeito hipnotizante e sedutor sobre mim, e só por isso acabei me empolgando demais. Naquele momento, parecia que minha mente não tinha mais poder sobre meu corpo e, involuntariamente, acabei por beijar o pescoço dela. Senti um frio na barriga se transformar num calor - não vou dizer onde - e meu coração palpitar fortemente. Eu estava completamente e irracionalmente inebriada de... luxúria... tesão?
Eu não sei exatamente o que foi aquilo e pensar sobre isso estava sobrecarregando minha mente. Sou uma pessoa que normalmente já penso demais, pois sou muito ansiosa, mas já estava ficando fora do normal. Fiz o possível e o impossível para minha mãe não perceber que algo me atormentava, pois eu não queria ter uma conversa sobre intimidades com ela. Mas eu sabia que não conseguiria evitar essa conversa com minhas amigas, que com toda a certeza perceberam que algo havia acontecido.
- Clara, você pode nos contar o que aconteceu para você ter sumido durante todo o final de semana e ter agido estranho no final do parque? – Maria me perguntou logo na segunda-feira, e estaria tudo bem se ela não tivesse feito isso na frente de todas, incluindo a coisa ruim, atormentadora de pensamentos...sujos.
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Qualquer Semelhança é Uma Mera Coincidência
Teen FictionEssa é a história de muitas primeiras vezes da minha vida, mas não é só sobre mim que vou falar. Na verdade, é sim. Mas vou dividir o enredo dessa história com uma outra pessoa, a qual vocês vão logo identificar por seu "talentoso" humor e carisma...