Fragmentado em vários pedaços pequeninos, era como meu coração se encontrava. Raiva, tristeza, decepção... eu nunca havia me sentido assim. Apesar de tudo o que falei, eu não a culpava por partir. Eu tinha raiva das circunstâncias, do preconceito; tristeza por vê-la partir e decepcionada por vê-la tão conformada por ir para longe de mim.
Como assim, conformada? Isso me magoava ainda mais.
O meu maior erro foi esperar dos outros que fizessem o mesmo que eu faria. Não por eu me sentir melhor ou pior que ninguém, mas sim porque as pessoas eram diferentes nas suas próprias personalidades e essência. Sofia não era igual a mim. Ela não tinha bravura – não o suficiente para lidar com isso.
Mas quem eu estava tentando enganar? Talvez, nem eu mesma teria coragem. Éramos apenas adolescentes de dezessete anos, sem quaisquer meios de viver sem a proteção dos pais. Porém, na época, era como eu conseguia encarar o que acontecia, como se fôssemos capazes de tudo.
Portanto, transferi toda a dor que me consumia para ela.
Ela não tinha culpa de nada, era até mais vítima do que eu. Mas, no auge da minha imaturidade, eu só conseguia pensar que eu faria tudo diferente, e que ela deveria lutar, brigar e ficar... comigo.
A vida me ensinou que a maioria das coisas não eram possíveis serem conquistadas no grito. Às vezes, era mesmo necessário se resignar, se preparar e voltar mais forte. Isso era, no mínimo, mais inteligente. E era exatamente o que ela estava fazendo. A minha dor não me deixou enxergar isso.
- Você é uma babaca! – Laura me repreendia do jeitinho todo dela.
- Calma, meninas! – Maria pedia, apreensiva, bem no meio do meu quarto, enquanto eu andava de um lado para o outro e Laura gritava comigo.
- Sofia é uma covarde!
- Clara, cala essa sua boca. – Laura perdeu a paciência. – Sua namorada vai embora amanhã e estamos planejando fazer uma surpresa para ela no aeroporto.
- Vocês planejam desafiar a megera da mãe dela?
- Não fale assim, Clarinha. – Bufei.
Maria podia me pedir qualquer coisa, menos não falar mal da cobra da minha ex-sogra.
- Você também vai até lá e vai encarar a cobra da sua sogra. – Laura me entendia muito bem.
- Ex-sogra! – Corrigi.
- Não consigo aceitar que você e Sofia não formam mais um casal. – Maria disse, chorosa.
- Me escute bem! – Laura recomeçou, mais nervosa do que antes. – Você vai naquele maldito aeroporto fazer as pazes com a Sofia, entendeu?!
- EU- NÃO-VOU. – Nessa altura, meu humor estava pior que o dela. – Não vou vê-la nunca mais.
- Clarinha, nunca mais é muito tempo.
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Qualquer Semelhança é Uma Mera Coincidência
Teen FictionEssa é a história de muitas primeiras vezes da minha vida, mas não é só sobre mim que vou falar. Na verdade, é sim. Mas vou dividir o enredo dessa história com uma outra pessoa, a qual vocês vão logo identificar por seu "talentoso" humor e carisma...