Capítulo 19

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Se pudessem me ver, se deparariam com uma manteiga derretida largada no chão e encostada na porta, com as pernas estendidas, o peito subindo e descendo rapidamente por causa da respiração e coração acelerados; o cabelo desgrenhado, o olhar perdido...

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Se pudessem me ver, se deparariam com uma manteiga derretida largada no chão e encostada na porta, com as pernas estendidas, o peito subindo e descendo rapidamente por causa da respiração e coração acelerados; o cabelo desgrenhado, o olhar perdido num ponto qualquer, um sorriso de besta e a mente reprisando aquele momento diversas vezes.

- Por que está suspirando alto no chão da sala? – Minha mãe perguntou curiosa, surgindo repentinamente e me dando um baita susto.

- Não estou suspirando. – Falei, me levantando e me recompondo rapidamente, tentando disfarçar.

- Então estava passando mal? – Perguntou, debochadamente.

- É que... que... estou pensando.

- Pensando no quê? Não me diga que está feliz assim por que decidiu finalmente o que vai fazer na faculdade?

- É... é... não é por isso. É que...

- Filha, cadê o pão que te pedi para comprar? – Indagou-me, repreensiva, e mudando de assunto de repente.

Caraio, larguei o pão lá fora!

Quando a Clara me segurou e me beijou, automaticamente, larguei o pacote do pão no chão. Se minha mãe não tivesse perguntado por ele, eu jamais me lembraria disso. Eu poderia felizmente ir dormir com a barriga vazia que não me importaria, pois eu poderia dormir com fome, mas dormiria feliz.

- Já volto!

Corri de volta para a varanda, sem dar qualquer explicação para não tornar a situação ainda mais embaraçosa. Com muita sorte, quando retornei, ela já não estava mais plantada na sala. Então, rapidamente, larguei o alimento na cozinha e corri para meu quarto, antes que eu esbarrasse a qualquer momento com ela.

Eu estava tão feliz e empolgada!

Decidi permanecer no meu quarto, desistindo do lanche da tarde e optando apenas pela janta da noite – esqueçam que eu disse que dormiria com fome e feliz. Eu dormiria alimentada e, por isso, duas vezes feliz.

Enquanto eu esperava a janta ficar pronta, continuei pensando.

Pensando na vida, pensando em sentimentos, em relacionamentos, em enfrentamentos, obstáculos e em atitudes. Pensei, principalmente, no que deveria ser feito a seguir. Não nos próximos minutos, mas nos próximos dias.

Pensei também na minha família, na minha mãe. E em que tipo de pessoa ela seria. Pensei nos amigos e nas pessoas não tão relevantes, pensei em todo mundo.

Pensei na minha capacidade.

Capacidade em lidar com tudo isso.

Toc... toc..

- O jantar está pronto! – Minha mãe avisou do outro lado da porta, interrompendo meus pensamentos.

Graças aos céus!

Qualquer Semelhança é Uma Mera CoincidênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora