5º Capítulo

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Desde que tivemos aquela conversa sobre a Vanessa que não nos vimos. Até porque eu própria não lhe disse mais nada. Tinha muita informação para trabalhar, e queria perceber o que ainda me faltava para acabar esta recolha. Era melhor dar-me algum tempo. Tenho de me reencontrar, perceber que estou a trabalhar, nada mais. Até porque é proveitoso para mim perceber que há confiança suficiente entre nós para que ele me conte coisas mais pessoais. Isso também ajuda a construir a sua imagem.

Às vezes custa-me entender como é que as pessoas não se dão conta da felicidade que têm ao seu alcance. Perceber quem está do seu lado, conhecer o amor... Como é que tanto ele como a Vanessa não conseguiram parar e perceber aquilo que os une. Só se houver a hipótese remota de ela não gostar dele. Mas como é que isso é possível? Ele tem tudo para se gostar.

Deixo cair a garrafa de cerveja. Credo. O que é que eu fui fazer. Estou com a cabeça nas nuvens, não presto atenção às coisas, depois é o que dá.

O meu telefone toca e quando olho para o visor nem sei o que fazer. Realmente, por um lado não quero falar com ele, por outro apenas quero ouvir a sua voz para que me possa acalentar alguma vontade de prosseguir com aquilo que é a minha vida. Será melhor atender, tenho de manter a minha máscara.

- Olá, André.

- Luísa! Não ficámos de ver alguma coisa? Desculpa, tive estágio... o último jogo foi duro, fartei-me de levar porrada! Devem pensar que sirvo para bater.

Solto um sorriso e acabo por me sentar no sofá para ouvi-lo. Ele gosta de falar e já está prestes a contar como foi o jogo, o que lhe fizeram, o que ele fez... Como se eu não tivesse visto a bola... Mas deixo-o estar. Por uns segundos, consigo viver na ilusão de que pelo menos somos bons amigos.

- Não sei viste, mas levei uma mocada no tornozelo. Até vi estrelas. Ainda me mandei pro chão, podia sacar um cartão amarelo, mas nada.

- Tens de melhorar as tuas técnicas de representação - solto uma gargalhada.

- Ei! Por acaso acho que tinha bastante jeito para ser actor!! Olha que eu gostava de ver os Morangos com Açúcar!

Agora é que eu não aguento e desato-me a rir.

- O que é que se passa?! - pergunta ele também a rir.

- Desculpa, André. Mas isso é uma informação tão boa para o livro!!!  Conta-me, qual era o teu casal favorito? O Pipo e a Joana?

- O quê? Isso foi espectacular, mas gostava mais da cena do Rodas.

Agora, já choro com o riso e ele acompanha-me.

- Mas espera lá, tu sabes os nomes e tudo é porque também vias!!

Encosto-me no sofá e tento respirar.

- Sim. Claro, André. Quem é que não via? Isso foi alto sucesso...

- Ah! Vês?! Não sei porque te estás a rir dessa maneira! É normal, ou agora um miúdo não pode gostar de novelas que, deixa-me dizer-te, são para a idade dele?

Coloco a minha mão na barriga que já me dói de tanto rir.

- Oh, André. Tudo bem. Gostas de Morangos com Açúcar, tudo normal, mas tu admitires que gostas de novelas... Isso já é outra conversa. Qual é que estás a ver agora?

Ele suspira do outro lado.

- Hoje saí na rifa para ser gozado, é? Eu disse que gostava de novelas, não que gosto de novelas.

- Estás a disfarçar? Acho que afinal a grande informação é que tu gostas de ver novelas. Grande informação. Até podia ser a linha de abertura da biografia.

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