Passou uma semana desde que nos beijámos. Não o voltei a contactar e ele também não. Aquele beijo foi como uma forma de me reavivar. Faz tempo que não me sentia assim tão viva, tão diferente, tão sorridente. Não posso dizer que me sinto feliz. Apenas me poderia sentir feliz se este beijo significasse que ele me ama. Mas o André não me ama. A conversa que tivemos sobre a Vanessa está em loop na minha mente. É como se não conseguisse esquecer o que ele me disse... mesmo depois daquele beijo...
Mesmo depois daquele beijo que foi maravilhoso. Nunca tive muito tempo para relações e digamos que nunca despertei grande interesse da parte dos homens. Sempre com amores infundados e não correspondidos. Por isso, a minha experiência nesse campo é pouca, mesmo tendo 30 anos. Mas sei que houve uma eletricidade naquele beijo ao mesmo tempo tão carinhoso. Isso também define o André: ele é uma pessoa cativante ao mesmo tempo que é também terno.
Estou sentada à secretária e acabo de escrever algumas notas ao Jorge. Vamos-nos encontrar amanhã para que lhe possa entregar todo o material que recolhi assim como as minhas notas. Depois é perceber se está tudo e acabou. Tenho outro trabalho à minha espera.
Encosto-me na minha cadeira e o meu olhar recai sobre uma fotografia de André com os seus amigos de Loures. Sorrio.
Realmente nada temos que ver. Mas o amor é assim mesmo: inesperado e junta quem menos se espera. Pelo menos para mim eu sei que é amor.Subitamente, o meu coração enche-se de alegria por ao menos ter um beijo do homem que amo. Acho que pela primeira vez isso aconteceu. É amor, não é una paixão ou uma coisa só para passar o tempo. Sinto-me grata por ele me ter dado esta lembrança.
Não sei porque é que ele me terá beijado. Penso que tenham sido as circunstâncias e por ele se sentir sozinho. De certo que foi isso... ou viu uma boa oportunidade de se distrair... uma coisa tipo "amigos com benefícios". Não o julgo: compreendo que as pessoas o façam, não me choca nada. E se for isso que ele quer comigo nem que seja por uns momentos não me vou opor. Pelo menos tive alguns momentos com o homem que amo e isso já é tanto.
Não sei se ele estará mesmo bem. Vi que no passado fim de semana ele acabou por jogar. Por isso penso que ele deve ter recuperado das mazelas, o que me deixa mais descansada.
O meu telefone toca. Olho e vejo um número que não conheço. Atendo.
—-
Finalmente, responderam-me do Gabinete de Comunicação do Benfica. Faz tempo que tinha pedido algumas informações sobre o André. Por isso, tive de ir ao Seixal, onde o contacto do tal gabinete que o André me tinha arranjado ia estar à minha espera.Chego ao parque de estacionamento do campus do Seixal. Estaciono o carro e assim que saio avisto alguns jogadores da equipa principal do Benfica. Não me digam que hoje houve treino... O meu coração começa a acelerar. O frio na barriga aumenta.
Tenho seguir com confiança sem olhar para ninguém. Só quero pegar nas coisas e ir embora.
Assim que chego à recepção entendo que não tinha valido a pena querer desaparecer. Para quê?
- Aqui está. - André aponta na minha direção a um homem que está junto a si.
Suspiro e ponho o meu melhor sorriso.- Boa tarde - Cumprimento-os - Sou a Luísa, presumo que tenhamos falado ao telefone? - pergunto ao jovem homem do lado do André.
—
- Obrigada por tudo. O editor vai ficar feliz.
Sorrio ao mesmo tempo que me despeço de Bruno, uma da pessoas que trabalha na comunicação do Benfica e que me facultou aquilo que precisava.
- Eu tenho mesmo de ir, qualquer coisa disponha.
Aceno e vejo a ir-se embora.Quero suspirar de alívio, mas ainda não o posso fazer. André está ao meu lado.
Começo a arrumar as minhas coisas. Tudo parecia normal quando estivemos os três a beber um café. Como se nada se tivesse passado. Vamos prosseguir.
- bem, obrigada André. Foi óptimo ter toda esta informação, a este ritmo termino o trabalho num instante.
- aquilo que não fazes para te veres livre de mim.
Paro o que estou a fazer é fito-o. Como é que ele se atreve? Estou pronta para lhe responder, mas percebo que ele não está a falar a sério. Decido entrar no jogo.
- se virmos bem as coisas, tu é que te queres ver livre de mim: se me recordo foste tu que falaste com o Bruno para eu ter a informação mais rápido...
- bem, eu estava a contar que era suposto vermos as fotos dos meus amigos em conjunto, mas surpreendentemente alguém as levou.
Ele é tramado.
- Que eu saiba as fotos eram para mim... portanto, queres condicionar a investigação?
André fita-me por um segundo.
- E se assim for? Que eu saiba posso escolher as fotos mais importantes e aquelas em que estou melhor.
Finalmente, solto um sorriso.
- O menino preocupado com a imagem. Você é uma caixinha de surpresas.
Ele sorri abertamente.
- Ainda é cedo. Queres vir comigo a Belém? É a zona de que mais gosto de Lisboa. E também podíamos passar pelo Belenenses.
Ai.
Porque é que ele é assim?
Assim não lhe consigo dizer que não. Mas... como é que ele já tinha isto pensado?
- Tu já tinhas pensado nisto ou é impressão minha?
- Posso ter ponderado esta situação...
Maneio a cabeça.
- Recuperaste bem da pancada?
- Sim. O jogo de sábado correu bem, não senti dores.
Suspiro.
- Bem, vamos lá até ao Restelo.
- O que é que ainda estás aqui a fazer, Almeida?
Viro-me e vejo Samaris a andar na nossa direcção.
- A terminar aqui uma conversa...
- Deves ser a Luísa - Samaris aproxima-se e dá-me dois beijos.
- Sim.... olá...
Digo, sem saber o que mais posso dizer.
- Pediram-me que te viesse entregar isto - ele entrega uma carta a André.
André olha para o envelope e acena - Obrigada, Grego.
- Muitas histórias aqui sobre o Capitão?
Sorrio. O grego é simpático.
- Algumas... umas embaraçosas, outras nem tanto.
- Queremos saber as que o envergonham!
Sorrimos.
- Ei! Não corrompas a minha investigadora, se faz favor!
Eles cumprimentam-se.
- tenho de ir. Fico à espera desse livro! - Samaris despede-se de nós e eu sorrio.
- É simpático, o Samaris.
- Isso quando não está com mau feitio.
- bem, vamos?
- Com pressa, hein?
Mas porque é que ele hoje está assim comigo?
- Podemos ir ou vais continuar a meter-te comigo?
Ele encara-me e sorri.
- Podemos fazer-
-André! - oiço alguém a perguntar por ele e deixa-nos em suspenso. É o Pizzi.
- Logo sempre vais ter lá a casa?
André ergue-se e olha para o colega.
- não sei bem... ainda tenho de ir resolver umas coisas...
- vê lá, porque o Batista também vai.
Pizzi acena-me e acaba por se ir embora.
Eu coloco a mochila às costas.
- Bem, vamos lá para depois ires à tua vida.
É preciso mudar de assunto. Sinto que há alguma energia entre nós, que não consigo esconder.
- Sim... ah... por aqui...
Ele leva-me até ao carro dele. Deus queira que isto seja rápido.
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A Vida em Livro
FanfictionO que pode acontecer quando uma jovem jornalista, que está a trabalhar numa biografia, e acaba por se apaixonar pela "personagem principal", o capitão André Almeida. Se terá futuro ou não isso apenas a história o dirá!