Pedro terminou de comer a sopa e não tira os olhos do filme. O Rei Leão há-de ser sempre o Rei Leão. Estamos os três a olhar para a televisão. Desvio o meu olhar do ecrã e olho para o lado do meu sobrinho, ocupado pelo André.
O mais surpreendente é que ele está mesmo concentrado no filme. A escolha foi deles os dois. Quando cheguei o filme já decorria. É capaz de ser o meu filme favorito, por isso não podia dizer que não.
No entanto, aquela conversa inacabada do André está presa na minha cabeça. Mesmo assim, não quero voltar a esse ponto.
A música que oiço, faz-me focar na televisão outra vez. O filme está a terminar.
- Que fixe!!! O Rei Leão dominou tudo!
Sorrio.
- O Rei Leão é o meu herói favorito, sabias?
- A sério? Mas ele não foi muito corajoso depois do Mufasa morrer...
- Mas mesmo depois de ter fugido, ele foi capaz de perceber o que era certo e foi à luta.
- A tua tia tem razão - A voz de André torna-se ainda mais audível: não sei porquê. Deve ser da minha cabeça. Ele olha para mim e sorri - E tu, Pedro? Qual o teu herói favorito?
- Batman! O Batman é o maior!
- A sério? Eu também curto bué o Batman!Deixo-me estar no meu canto e tento perceber o que se passa. André mostrou-se bem, animado por estar ali, mas... mas não sei. Há algo... Há algo que ficou no ar depois da nossa conversa na cozinha. Eu não o queria incomodar, se calhar deveria ter ficado calada com a história da Vanessa saber sobre a nossa amizade.
- Pedro, está na hora da cama. Consegues lavar os dentes sozinho?
- Sim, tia. Eu consigo - coloco a minha mão na sua testa. Felizmente, esta já não está quente. Os medicamentos devem estar a fazer efeito.Antes de ir para a casa de banho, Pedro estende a mão ao André.
- Quando nos voltamos a ver?
Boa pergunta, Pedro. Vamos ver como o André descalça esta bota.
- Hum... Eu vou aparecendo. Além disso, ainda temos esse jogo na playstation pela frente.
O miúdo sorri. Ao mesmo tempo que dão um aperto de mão, André mexe nos cabelos do meu sobrinho.
- Vê se ficas bom, miúdo!
Pedro acena e vai para a casa de banho.- Obrigada, André. Mesmo... Acho que ele vai melhorar mais depressa só por teres aqui estado...
- Tranquilo. Adoro miúdos, já sabes disso. O Pedro é um miúdo educado, nada difícil.André pisca-me o olho e apenas posso sorrir. Meu Deus... por vezes penso como é que vou conseguir lidar com aquilo que sinto e tê-lo assim tão próximo... Eu sei que nada vai sair daqui, mas é tão complicado eu meter isso na cabeça...
- Eu também tenho de ir...
Ele diz e levanta-se.
- Claro... Vou deitar o Pedro e trabalhar um pouco antes de ir dormir...
- Estás a fazer algum projeto grande agora?
- Estou a ajudar na investigação de uma colega sobre a presença da máfia italiana ao longo dos anos em Portugal.
- A sério? Isso não é perigoso?
- Poderia ser... Mas é uma perspectiva histórica, não ando mesmo atrás deles. Mas se assim fosse, era épico...
- Épico e perigoso.
- Olha, eu até acho que poderia fazer esse trabalho... Não tenho ninguém por quem deva temer - digo, sem pensar... Afinal é o que muitas vezes está na minha cabeça.
- Então e o teu sobrinho? A tua irmã? Os teus pais?
Paro.
Novamente, não percebo muito bem porque é que ele está tão sério.
- Sim... Falei sem pensar... A máfia vai à nossa família, tens razão.André já tem o casaco vestido e dirige-se para a porta. Acompanho-o até lá, já que estou de pé.
- Não consigo compreender como continuas com essa parvoíce de não te dares valor.
Ele está de costas para mim, a abrir a porta que está à sua frente.
- Não é uma parvoíce. Apenas encaro a realidade.Vamos ver onde isto vai dar.
Ele maneia a cabeça e vira-se para mim.
- Não entendo. Tu és uma pessoa inteligente, porque raio pensas assim? Essa não é a realidade.
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A Vida em Livro
FanfictionO que pode acontecer quando uma jovem jornalista, que está a trabalhar numa biografia, e acaba por se apaixonar pela "personagem principal", o capitão André Almeida. Se terá futuro ou não isso apenas a história o dirá!