14º Capítulo

349 4 2
                                    

- André... - gemo o seu nome, não sendo capaz de o reprimir. A forma como ele entra insistentemente em mim, faz com que não consiga pensar, apenas e só senti-lo.
- Diz... Diz-me como me amas... - Ele pede-me ao mesmo tempo que o seu suor cai no meu peito.
- Sim... Oh... Eu... Eu... Eu amo-te...
Não consigo parar. André tira tudo de mim pela forma como me ama com o seu corpo, com as suas palavras, com os seus gestos. A minha respiração está cada vez mais acelerada, agarro-me ainda com mais veemência aos seus braços que me rodeiam.
- Amo-te.
A voz dele ressoa no meu ouvido e eu venho-me descontroladamente. Oiço o seu riso, mas ele não para, não me dando tempo para recuperar. André coloca a sua cabeça no meu pescoço ao mesmo tempo que lhe agarro nos cabelos. Ele está tão perto eu sinto e-

Acordo. Estou agarrada à almofada. Primeiro que perceba o que realmente está a acontecer, levo alguns segundos. A minha respiração está acelerada. Acendo a luz do meu quarto e sento-me na cama. 

Credo.

Como é possível? Tento acalmar-me e olho para o relógio. São quatro da manhã. Fecho os olhos e encosto-me à cabeceira da cama. Não. Não, isto não pode ser.

Decido levantar-me e vou até à cozinha. Bebo um pouco de água e passo pela casa de banho, para passar a toalha pela minha cara e o meu pescoço. Sinto-me um lixo. Verdadeiramente, sinto-me um lixo.

Regresso à minha cama, dou um jeito nos lençóis e volto a deitar-me. Fecho os olhos e não consigo evitar o meu choro. Isto só me pode estar a acontecer porque pela primeira vez em quatro anos eu estive a falar com ele em minha casa.

Um choro silencioso, tal como o meu amor por ele. Ele é casado, ele é feliz, eu só queria poder deixar de ter estes sonhos. Queria ser capaz de estar perto dele como uma amiga. Se eu não o posso ter como homem, eu tenho que me conformar em ser apenas e só a sua amiga. Isso eu tenho de conservar.

--

- Correu bem. Até vocês ficaram surpreendidos com a vitória! - sorrio ao mesmo tempo que bebo do meu chá.

- Sim. Foi complicado para nós, mas no fim de contas conseguimos dar a volta por cima.

André está na minha cozinha. Num espaço de uma semana, esta é a segunda vez que ele aqui está. Estou a dar o meu máximo para estar o mais natural possível. Tenho de fazer das tripas coração para conseguir aguentar isto. Eu tenho de conseguir expulsar de mim as imagens dos meus sonhos, de tudo.

- Podemos ouvir um disco?

Volto-me para ele. André está descontraído. Estamos a meio de uma tarde de segunda-feira, depois do jogo em Braga. Ouvir discos é uma coisa que faço normalmente sozinha, é o meu porto seguro. Mas aquele convite não me provoca estranheza. Apenas me faz amá-lo ainda mais.

- Claro.

Coloco a piza no forno, ligo-o, e vou até à sala. Chego perto dos gira-discos, e ligo-o. Olho para a estante onde estão os meus discos.

- Sou capaz de apostar que não conheces grande parte do que aqui está, por isso... Escolhe tu - Desafio-o e aponto para a estante.

Ele sorri e olha para a prateleira.

- Hum... Deixa-me ver.
- Força nisso. Vou até à cozinha, buscar a água.

Quando regresso, André está com dois discos na mão. Ele olha para mim e mostra-mos.

- Alguma sugestão?
Rio.
- Nope. Escolhe tu.

Volto a desaparecer. A piza já está aquecida. Levo-a para a sala e o André olha triunfante para mim.
- A minha escolha! - Chego perto dele e sorrio - Afinal quem é que não conhece Stevie Wonder? - Ele pergunta-me com um sorriso na cara. 
- Estou impressionada... Stevie Wonder, hã?
- Claro! I just call to say I love you...
Desato-me a rir. O André canta tão mal ou pior do que eu. E atenção que eu sou mesmo má.
- Então? Sou assim tão mau?
- Assim tão mau? Fazes-me parecer uma cantora lírica!
Rimo-nos.
- Vais ou não pôr isto a tocar?

--

A Vida em LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora