36º Capitulo

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Um leve barulho faz com que acorde.
Não estou sobressaltada, mas sei que ele deve estar por chegar.

Sinto-o a sentar-se na cama e mexo-me de modo a que possa vê-lo.
- Correu tudo bem?
Ele coloca a sua mão na minha face e sorri.
- Tudo bem. Não te queria acordar.
- Não faz mal.
- Estou exausto...

Chego-me ainda mais perto dele, de modo a que consigamos sentir a presença um do outro. Beijo-lhe o braço e volto a fechar os olhos.

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São três da tarde e eu não me consigo levantar.
- Não comemos nada...
- Eu sei...
André continua a beijar-me o pescoço.
- Estava com saudades tuas... e hoje estás em casa todo o dia... só para mim... - André sussurra ao meu ouvido e eu acho que vou morrer ali mesmo.
- Estiveste dois dias fora, como assim estás com saudades?
Ele apenas coloca a sua mão junto da minha coxa.
- Eu tenho sempre saudades tuas... da tua pele, do teu cheiro, do teu corpo...
A sua mão começa a andar por toda a minha perna.
- Qual a surpresa nisso? Eu tenho sempre saudades tuas.

Não consigo conter um leve gemido e rodo o meu corpo para que o possa encarar. Beijo-o com vontade, depois de termos feito amor duas vezes naquele dia.

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André dorme descansado e eu aproveito para me levantar. Pego numa das suas camisas que está na cadeira no quarto e visto-a. Depois de tratar de mim, vou até à cozinha preparar algo para comermos.

Não há sensação melhor do que esta de estar com o André todo o dia na cama. Desde que me mudei para a sua casa em Loures tudo parece normal, como se ali pertencesse. A minha família já sabe que estou com o André. Tinham de saber, ainda pra mais depois de mudar de casa. Da mesma maneira que aconteceu com a minha irmã, o meu pai não aceita que isto tenha sido assim tão rápido. Nas palavras dele fiz tudo nas suas costas e digamos que por agora as coisas não estão fáceis. Não entendo o que ele poderia querer. Que o André lhe pedisse permissão para namorar comigo? Não sei. Mas não tenho deixado de ver a minha mãe. Vou lá a casa, embora o ambiente seja de cortar à faca.

O André tem sido um apoio incondicional. Disse-me logo que o que mais queria era poder enfrentar isto comigo, mas tenho-o poupado a tudo. Estamos a chegar ao fim da época e ele tem de estar concentrado. O Benfica ainda está a lutar pelo campeonato. Sei que ele não concorda comigo. Que quer enfrentar tudo, mas, por agora, ele tem sabido respeitar a minha vontade.
  
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- Era a minha mãe.

André diz-me, colocando o telefone na mesinha de cabeceira. Estou ao seu lado, sentada na cama depois de comer o que tinha preparado.
- Diz para lá irmos jantar...

Espreguiço-me. Confesso que hoje estava com o ambiente certo para estarmos todo o dia da cama. São seis da tarde e ele ainda não deixou o quarto.
- Queres ir?
Ele sorri e deixa-me um beijo na cara.
- Hoje não me apetece. Só me apetece ficar aqui, contigo, até adormecer.
Coloco os meus braços no seu pescoço.
- Que bom... Estamos com a mesma ideia.
- Já lhe ligo e fica para amanhã.
Damos um beijo demorado.
- A minha camisa fica-te bem...
- Eu sei... Gosto de vesti-la... Faz-me sentir sempre bem.
- A sério?
- Sim, como se me estivesses sempre a abraçar.

André sorri e enche-me a cara de beijos.
- Tu és linda.
Sorrio e beijo-lhe a face.
- Como estão as coisas com a associação?
- Praticamente tudo certo para avançar. E conto contigo, bem sabes.
- Estarei sempre para te apoiar, naquilo que precises.
- Acho que tenho as pessoas certas para me ajudar. A malta no bairro já sabe que estamos por lá.
- E o senhor Máximo?
- Não foi fácil convencê-lo... mas depois lá cedeu. Não iríamos chegar àqueles miúdos sem ele. Agora estou mais confiante.
- Sabes que tenho orgulho em ti, não sabes?
- E eu em ti. Embora, pense que devias ponderar o que queres fazer.
- Como assim?
- Já te vi com os miúdos do bairro. Podias aceitar o meu convite e ficar na associação a tempo inteiro.
- Já falámos sobre isso e, por agora, não. Sinto que ainda não é o momento...
- Ok. Ok. Não insisto mais.
Aceno ao de leve.
- Bom jogo ontem no Boavista.
- Sim... Foi difícil. Mas acho que estamos na melhor fase... O que achas?
- Sim. Claramente que os teus colegas já perceberam onde estão. Agora é manter o ponto de diferença para o Porto.
- E a taça de Portugal...
- Claro, têm mais do que capacidade para seguirem frente.
- Sempre tanta confiança em nós.
- Sabes bem que quando eu penso que assim não é também to digo. Só têm de estar concentrados. O Porto pode escorregar a qualquer momento e além disso ainda vão jogar contra eles, por isso... é só ganhar.

Beijo-lhe a face e coloco o tabuleiro no chão ao pé da mesinha de cabeceira.
- É só ganhar... Gosto dessa simplicidade - o André diz a sorrir.

Volto a sentar-me do seu lado e começo a beijar-lhe o pescoço ao de leve.
- Eu sei que não é fácil. E se não conseguirem não é por isso que deixam de ter valor... mas por agora é só nisso que têm de pensar: em dar o vosso melhor.
- Como é que fazes isso?

Paro de lhe beijar o pescoço e olho para ele confusa.
- O quê? Dar-te beijos no pescoço?
Ele sorri.
- Essa tua maneira de me falar. Não sei... dizes sempre o que parece ser certo.
Sorrio e sei que estou a corar.
- Já disse tantas coisas erradas, André. Só te estou a dizer o que realmente penso ser verdade.

André beija-me e puxa-me ainda mais para si.
- Assim ainda é melhor - Ele sussurra ao mesmo tempo que passa as suas mãos pelas minhas pernas.

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