8º Capítulo

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André deita a sua cabeça no meu colo. Estou sentada confortavelmente no sofá, enquanto passeio os meus dedos pelo seu curto cabelo.
- Muita experiência com mulheres?
Pergunto, passado algum tempo de silêncio.
- Alguma.
- imagino... então aquelas viagens a Ibiza...
- estás a fazer suposições...
- queres que acredite que foste lá só para ouvir música? Isso não existe.
- confesso. É verdade que me diverti bastante.
Sorrio. Os homens são previsíveis.
- e tu?
- pouca experiência.
- hum... isto é uma novidade?
Ele pergunta olhando para mim. Dou-lhe um beijo na testa e volto a distrair-me com o seu cabelo.
- sim. É uma novidade, acredita. Nunca o tinha feito muito menos em trabalho.
- hum... sou uma estreia.
Solto uma gargalhada.
- não, digo-o a sério. Vendo bem, somos uma estreia.
- Aí, André... vês tudo de forma tão simples.
- e não o é?
- sim... de uma certa maneira...
André move-se e senta-se.
- não me pareceste desconfortável... muito pelo contrário.
Sento-me com as pernas à chinês e fito-o.
- não. Não me fazes sentir desconfortável. É exactamente o oposto.
- não sei se estamos a fazer bem. Mas tu fazes-me bem.
Encosto-me no sofá. Como era possível eu fazer-lhe bem?
- temos de descomplicar não é?
- por aí. Às vezes é bom.
- é... és bastante cuidadoso, deixa-me que te diga. Mas... isto deve ficar só aqui.
- eu deveria ser o primeiro a dizer isso, Luísa.
Coloco a minha mão no seu braço.
- André, eu imagino como é que isto funciona...
Ele coloca sua mão na minha e brinca com os meus dedos.
- é sério quando dizes que isto está quase a terminar? O teu trabalho?
- não sejas demasiado querido...
- o que foi?
- não sejas demasiado querido, isso pode fazer-me acreditar em algo a mais do que o descomplicado. Mas sim... talvez mais um mês.
Vejo algum alívio.
- um mês? Isso não é já...
- Se me recordo estamos a ver-nos uma vez por semana...
Ele inclina-se, chegando perto dos meus lábios:
- então talvez tenha de arranjar forma de desacelerar esta investigação. Beijamo-nos como se fosse a última vez.


Chego a casa. Passa da meia-noite. Não sei se o André vai ter de justificar a hora tardia a que se deitou. Os jogadores de futebol são cada vez mais escrutinados e tenho a certeza de que o André não está habituado a deitar-se tão tarde durante a semana. Caio no sofá.

Quando estive com ele pensei que aquela situação nos levaria ao sexo. De certeza que era isso que ele queria. Não sou ingénua. E se fosse essa a intenção eu iria corresponder. Não poderia deixar passar essa oportunidade, porque eu tenho a certeza de que isto é efémero. Mas, surpreendentemente, não. Apenas nos beijámos vezes sem conta. Depois olhámos para o relógio e percebemos que estava na hora.

Ele mostrou-me o seu sorriso mais sincero e concordámos que estava na hora de dormir. Despedimo-nos, peguei nas minhas coisas e saí de casa dele.

Deus... André Almeida suscita em mim um sentimento que antes não tinha experimentado. Naqueles momentos em que nos sentimos é como se eu fosse capaz de fazer qualquer coisa. Mas eu não estou habituada a isso... muito pelo contrário. Estou habituada a fazer as coisas por mim, sem um entusiasmo assoberbado, pensando sempre bem nas minhas opções.

Mas com o André não. Com o André sou capaz de ter certos comportamentos apenas e só porque o sinto. Sem pensar em mais nada.

Suspiro e deixo cair uma lágrima. Mais cedo ou mais tarde vou sofrer.


- bom, espero que gostes.
Entrego o livro "Gaivota e do Gato que a ensinou a voar" de Luís Sepúlveda à sobrinha mais velha do André. Os olhos dela brilham, dá-me um beijo e corre pela casa para guardar o livro na sua mochila.

Sinto o André mesmo atrás de mim.
- Obrigada.
Ele sussurra ao meu ouvido e sinto as minhas pernas a darem de si. Dou um passo atrás e o meu corpo encontra o seu.
- Eu cumpro sempre o que digo.
André ri baixinho e deixa um beijo no meu pescoço para logo se afastar.
A sobrinha dele regressa à sala.
- Posso ir ter com os avós, tio?
- vamos os dois. Tenho de ir buscar umas coisas.
André vira-se para mim e pede-me para esperar por ele. Despeço-me da pequena e fico na sala à espera dele. Desde aquela noite em que acertámos esta "relação", esta é a segunda vez que estamos juntos.

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