19º Capítulo

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- De que é que tens medo?
Fico parada a olhar para ele. A minha cabeça não podia estar mais confusa.
- André...
- Diz-me...
Há qualquer coisa nele que me faz baixar a guarda. Não sei o que é. Ele não está a ser bruto, muito pelo contrário. Ele está a ser gentil... uma gentileza que me tira qualquer barreira.

Todo o barulho que está à minha volta se desvanece.
- Estou apavorada - confesso.
André franze o sobrolho e maneia a cabeça.
- Luísa-
- Está na altura de ir embora - digo, subitamente. Sei que o apanhei de surpresa. Posso sabê-lo apenas pela cara que faz.
- Espera.
- Não. É melhor ir - retiro a carteira da minha mala - é melhor ir porque tenho algumas coisas para fazer e ainda vou de transportes - falo sem parar ao mesmo tempo que deixo uma nota na mesa - e sabes como é... demora sempre tempo - levanto-me rapidamente. Sei que não estou a dar-lhe qualquer hipótese de resposta - tchau - despeço-me, sem lhe dar qualquer abertura. Saio do Hard Rock segura de que estou a fazer aquilo que é suposto.


Finalmente, chego a casa.
Sucumbo ao sofá. Sinto-me exausta. O meu coração está acelerado e estou sem conseguir formular um pensamento coerente.

Ainda há uns meses, o André dizia que se sentia completo com a Vanessa. Que era ela quem ele amava... ele disse isso aqui, na minha sala, à minha frente. Como é possível que tudo tenha mudado? Como é possível ele agora pensar que as coisas não estão bem? Não posso acreditar. Ele deve estar confuso, só pode. Tenho em mim um turbilhão de sentimentos que me deixam com os nervos à flor da pele.

Não liguei mais ao telefone desde que saí do Hard Rock. Procuro-o na minha mala. Vejo que ele não me disse nada e descanso. Ele deve pensar que sou louca. Tenho a certeza disso. Depois da minha reação de hoje, tenho a certeza de que não volto a pôr-lhe a vista em cima. E eu concordo. Se fosse ao contrário eu faria o mesmo.

Sendo racional, eu sei que a minha reação foi, no mínimo, patética. Mas foi mais forte do que eu. Senti um medo inexplicável de tudo. Do que ele me poderia dizer, o que significava aquilo tudo, de o meu coração me trair e me fazer acreditar em que... não. Não pode ser...

Aquela conversa aqui em casa. A forma como ele me segurou no rosto... estou apavorada com o confronto, com a conversa onde ele me vai perguntar se o amo. Oh! Ele já sabe. Então depois de hoje... ele saberá que eu não valho a pena, sou uma louca que o ama.

Pego no telefone.
Deveria pedir-lhe desculpa?
Não. Nem pensar. O mais sensato a fazer é não dizer mais nada.
Estou prestes a colocar o telemóvel na mesa quando ele vibra.

Uma mensagem.
É ele.

O disco que comprei é do melhor. Estou a ouvi-lo e a pensar no que falámos... Diz-me apenas se estás bem. Beijo

Fico parada a olhar para o telemóvel. Como é possível ele ainda se preocupar comigo depois da minha atitude? Haverá homem mais cuidadoso do que ele?

Não posso parar. Tenho de lhe responder.

André, não penses no que falámos. Pensa em ti, por favor pensa em ti e nela. Têm uma vida em conjunto. Eu estou bem, desculpa pela minha atitude. Foi irracional... Desculpa.

Só me apetece chorar. Chorar por sentir que sou diferente de toda a gente... por sentir que não consigo expressar tudo aquilo que sinto, cheia de amarras, de medos... de medo de arriscar... de medo de saber o que é tê-lo novamente. Não, eu tenho de me concentrar em algo.

O meu telefone vibra outra vez.

Acredita que estou a pensar em mim... Que estou a pensar em mim e nela. Nisso somos diferentes, Luísa. Não peças desculpa. Lembra-te do que te disse: tudo vai ficar bem.

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