33º Capítulo

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Fecho os olhos por um momento e aninho-me no sofá. Como foi possível aquela noite chegar ali? Como foi possível que com a chegada do André tudo se tornasse confuso, desesperante e inesperado?

O beijo da Vanessa, o divórcio, a ação do André em contar-me o que se tinha passado, a certeza de que ele não sentiu nada com aquele beijo, o facto de ele me amar. "Eu amo-te". O seu tom seguro, direto, tal como ele também é. Ali foi diferente, quando ele me disse "amo-te foi diferente, eu também senti algo de diferente, puro. Mas depois tudo descambou. Eu sei, eu sei que em parte ele teve razão.

Invariavelmente, eu voltei a sugerir que ele se pusesse a caminho, mas não era essa a minha intenção. Não o queria empurrar para outra mulher, eu.. eu só quero que ele seja feliz. Como pode ele ter encenado tudo o resto? A dureza do seu olhar, o seu tom de voz mais agressivo, acusatório. Como tinha ele sido capaz de me confrontar daquela forma, só para me fazer falar. É certo que bastou eu dizer-lhe que o amava para ele parar e me beijar. Nem eu estava bem a perceber o que se estava a passar quando o sinto sobre mim. Como se ele apenas estivesse à espera, aquele tempo todo, de que eu lhe dissesse algo específico, como uma palavra chave. E aí sim, o André voltava a ser o meu André. Mas ele magoou-me. Sobre isso não posso passar por cima.

Antes não sabia o que fazer, sentia aquele maldito bloqueio que me prevenia de falar. Agora, continuo a não saber como agir. Porque, antes, eu na minha cabeça tinha claro que lhe queria dizer que o amava. Mas agora, a minha cabeça está completamente em branco.

De repente, oiço os seus passos. Como foi possível não ouvir sequer a porta do quarto a abrir?

Sinto a sua presença já atrás de mim.
- Eu sei que fui um estúpido. Não te devia ter confrontado daquela maneira, excedi-me. Não sei onde fui tirar tudo aquilo.

Apenas o sofá nos separa. Mesmo assim sou capaz de sentir o calor do seu corpo, ele tem cada uma das mãos apoiadas no sofá perto dos meus ombros.

- Sinto-me um jogo, um brinquedo. Como se me pudesses dizer tudo, para que eu responda o que queres ouvir. Sinto-me manipulada.
- Eu sei que tu me amas, que eras incapaz de estar comigo só por aquilo que represento. Ou pelo sexo. Eu sei, tens de acreditar em mim quando to digo. Mas eu sabia que se fosse injusto contigo, tu irias conseguir dizer o que tinhas entalado.

Maneio a cabeça e não deixo de olhar em frente.
- És incrível... falas como se tudo aquilo que me disseste fosse permitido, porque me querias ajudar. Incrível como tentas por tudo da tua perspectiva, como se os meios justificassem os fins.
- Eu não estou a dizer que o que fiz foi o correto. Eu só estou a explicar porque fui tão estúpido contigo.
- Claro. O grande André Almeida fez o que fez porque me queria ajudar a falar. Se calhar ainda tenho de te agradecer por cima não?

Oiço o seu profundo suspiro. Não quero voltar a discutir, estou cansada e desiludida com ele, mas acima de tudo desiludida comigo própria. Se tivesse agido de outra maneira, nada disto tinha acontecido.

Sinto-o a mover-se do seu local e agora ele agacha-se à minha frente.
- Eu só quero que me desculpes. Eu amo-te. Eu amo-te e não sabes como fiquei contente por to dizer.

Os seus olhos transportam um conflito que me faz querer agarrá-lo para que a alegria volte ao seu ser. Ali, consigo ver que aquele continua a ser o meu André.

- Porque isto é... é diferente de qualquer outra coisa que eu já tive com alguém. Eu... - ele maneia a cabeça - eu quando te disse tudo aquilo sabia que estava a pisar o risco e eu sei que tens todo o direito em expulsar-me desta casa, acredita eu sei que tens todo o direito, mas... - ele volta a olhar para mim - Não é por ela me ter beijado que tudo o que eu sinto por ti se apaga. Também me magoas quando ao mínimo detalhe me pões à disposição para ir. Não consegues entender isso?

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