37° Capitulo

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Depois das férias de Verão, André Almeida decidiu continuar com a sua carreira de futebolista. Tinha noção de que não seria titular, mas os seus 35 anos permitam-lhe ser uma voz ativa no balneário do Benfica e jogar alguns jogos completos. Estava a ser uma mudança calculada, mas o André não se importava.

Eu nunca pensei que o André se adaptasse tão bem a esta nova realidade. É certo que a Associação estava a ser uma enorme ajuda neste processo, sem contar com o facto de ele ter voltado a estudar. Gestão. Rapidamente, o André percebeu que gestão era o que ele precisava, mas não se esquece da advocacia.

Ultimamente, tenho reduzido o trabalho. Os desafios da associação e a escrita têm-se tornado prioridades. É certo que continuo longe de ter um romance, mas não desisti. Comecei a trabalhar em regime freelancer com o Jorge e até tem sido produtivo para ambos.

Estamos em Março de 2025. As coisas com a minha família avançaram. O André já esteve com os meus pais, mas admito que não temos a relação mais próxima do mundo. As coisas com o meu pai são dúbias, mas com a minha mãe tento sempre manter um cuidado maior. Acho que ela também reconhece isso.

O meu sobrinho Pedro está mais contente do que nunca! Até já chama o André de tio e é claro que ele não se importa. Até agradece. Só mesmo o André.

Hoje sei que vai ser um dia importante.
Eu também não queria acreditar quando descobri. Quando fiz os exames necessários e percebi que era verdade tive medo. Tive muito medo de levar isto em frente, afinal eu nunca tive este sonho, sempre com a certeza de que mal sei cuidar de mim, quanto mais de crianças.

Combinei com o André na sede da Associação no bairro. Assim que lá chego, vejo um dos miúdos do bairro mais responsáveis a sair da sala do André todo sorridente. Concerteza, que há boas notícias.

Depois de trocar dois dedos de conversa com o mais pequeno, bato à porta da sala.
- Hum... A minha mulher veio visitar-me.
André diz ao mesmo tempo que ergue a sua cabeça para me ver. Sorrio.
- A minha mulher... gosto sempre quando dizes isso.
- És a minha mulher. Não precisamos de ser casados para tu seres a minha mulher.

Pisco-lhe o olho. Já falámos de casamento algumas vezes. O André sabe que para mim casar não é essencial e, por agora, o André decidiu respeitar a minha intenção de continuarmos juntos sem assinar papéis. Casar para mim faz sentido se for na Igreja e como ele já o fez com a Vanessa, por mim ficamos juntos como estamos. Sem qualquer tipo de ressentimento ou problema.

Aproximo-me e dou-lhe um beijo.
- Está tudo bem?
- Sim. Estava a dizer ao Luís que ele vai representar o clube na festa da Junta de Freguesia.
Coloco a minha mão no seu cabelo. O brilho que André traz nos olhos apenas me faz amá-lo ainda mais.
- Estás feliz...
André põe as suas mãos na minha cintura.
- Claro. O que há para que eu não possa estar feliz?
- Bem... eu... eu tenho uma notícia para te dar.

André encara-me e eu sei que ele está a tentar ler-me, saber se é algo bom ou mau. Mas ele percebe, tenho a certeza de que ele percebe, que é bom.
- Eu... vamos ter um filho.
Os olhos do André arregalam-se. Ele está profundamente surpreendido.
- Tens a certeza?
As emoções tomam conta de mim e tenho de fazer um esforço sobrenatural para não começar ali a chorar. Apenas aceno, não consigo fazer mais nada.

Num ápice, o André levanta-se e abraça-me, como se eu fosse o que de mais importante ele tem.
- Luísa - Ele diz ao meu ouvido, com um emoção que eu nunca antes tinha ouvido - Meu Deus! Vamos ser pais.

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