10° Capítulo

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- Não era suposto estarmos a arrumar as fotos?
O riso dele ecoa pelo quarto, banhado pela luz do sol que entra pela varanda.
- Isso pode esperar. Aliás, eu depois faço isso... - ele diz ao mesmo tempo que me beija o cabelo e percorre com as suas mãos os meus braços, até que as pousa nas minhas.
- Nem acredito que já acabou.
Aceno, sinto todo o seu corpo nas minhas costas, circundada por André. Nunca me senti tão protegida.
- Verdade... A menos que o Jorge se lembre de mais alguma coisa.
- Sinceramente, espero que ele se lembre de muitas coisas... Gosto de partilhar aquilo que sou contigo.
- Muitas das coisas não estão nas notas que enviei...
- Imagino que não. Mas não me importa. Até porque algumas dessas coisas fui eu que te pedi que não escrevesses...
- Eu sei... Eu entendo. É sempre diferente partilhar com quem não conhecemos aquilo que somos...
- Aí está - André levanta-se do seu lugar atrás de mim e senta-se à minha frente. Pego no lençol e coloco-o sobre o meu corpo desnudo - aquilo que somos. Tu sabes aquilo que sou, mas eu não sei muito sobre ti.
Maneio a cabeça e fito-o.
- O que queres saber de mim?
Ele parece-me surpreendido. Se calhar não pensava que seria tão direta. André senta-se à chinês, completamente nu, fazendo com que a minha atenção se perca por um segundo. De facto, o seu corpo não podia ser melhor. Tomando conta do meu interesse, André pega na almofada e coloca-a no seu colo.
- Com atenção, por favor - ele diz e eu sorrio corada - onde posso ler as coisas que tu escreves?
Fico surpreendida. Não estava à espera de que a pergunta fosse essa.
- Parte do que escrevo está nos meus blocos ou no meu computador. Outra parte está no meu blog.
- Hum... tens um blog... Está registado. Não me precisas de dizer qual é: eu vou encontrá-lo.
- Ai -  Suspiro, divertida - André, André... Às vezes pergunto-me como é possível seres assim...
- Não. A conversa agora não é sobre mim. Eu sou um espanto, escusas de o repetir, deixa-me fazer mais uma pergunta.
- Ok. Força.
- Qual o teu sonho?
- Escrever e publicar um livro... um romance. -  Digo, prontamente.
- Isso é fantástico. Escrever um livro...
- Sim... na realidade tenho já alguma coisa escrita, mas sinto que me falta tanto para lá chegar. Também me falta tempo e cabeça para escrever... mas sim, esse é o meu maior sonho.
- Qualquer um diria encontrar o amor, ter filhos, conhecer o mundo...
Não sei bem onde é que André quer levar esta conversa. Porque temos nós de falar sobre o amor? Ainda mais sobre mim?
Encho-me de coragem.
- Queres perguntar-me alguma coisa em específico?
- Já encontraste o amor?
Ele pergunta seriamente, com os seus olhos presos aos meus.
- Sim.
- E como sabes que é amor?
- É algo distinto... Sentes um carinho especial, quando estás com a pessoa sentes uma harmonia desconcertante, ao mesmo tempo que a atração é forte. O teu coração palpita quando essa pessoa te olha nos olhos. E depois... Depois podes ser tu mesmo sem máscaras quando estás com essa pessoa. Sente uma confiança imensa, é como se essa pessoa fosse parte integrante do teu ser. É como se essa pessoa fosse também quem tu és, daí que te sintas à vontade para seres quem és... E mesmo que não estejas com essa pessoa não te sentes sozinho. Queres acima de tudo que o outro seja feliz, independentemente de ser contigo ou não.
André está sério. Pensava que ele se ia rir e dizer alguma piada. Mas não. Ele está apenas a olhar para mim como que a pensar em cada palavra que eu disse.
- Como já te disse, é raro quem o encontra. Eu pelo menos acho isso... Existe, mas é raro.
André suspira.
- É bonito o que acabas de dizer. É um bonito que parece ser um sonho...
- Idílico?
- Sim... Talvez isso. Mas, faz todo o sentido. Presumo que não tenhas conseguido ficar com essa pessoa. Senão não estaríamos assim...
Encolho os ombros. Aqui não lhe posso dizer o que quer que seja... Não lhe posso confessar que é ele. O André Almeida é o homem que amo. O único homem que me faz sentir completa.
- Vejo que chegámos a um assunto proibido... - ele sorri-me - mas de qualquer das maneiras, deves mesmo escrever um livro. Tens jeito... Até porque me parece que escreves melhor do que te podes expressar por palavras...
Coro. Como é que é possível que ele saiba isso sobre mim?
Ele aponta-me o dedo - ah! Acertei!.
Atiro-lhe a outra almofada à cara. Que mania tem ele de me colocar sempre em xeque.

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